• Entrevista por:
  • Rita Atalaia

É “rigorosamente impossível” que as IPSS invistam 30 milhões no Montepio, diz Lino Maia, presidente das IPSS em entrevista ao ECO

O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade garante que as IPSS que entrarem no Montepio, que serão poucas, vão aplicar um "valor simbólico". "Muito longe" dos 30 milhões.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), outras misericórdias e IPSS devem entrar no capital do Montepio com um montante entre 45 e 48 milhões de euros, ficando com 2% do banco. Deste total, à SCML caberão 20 milhões. As misericórdias afastam um grande contributo, apontando para apenas algumas centenas de milhares. Então, serão as IPSS a garantir os restantes 25 a 30 milhões? “Estamos muito longe desse valor”, garante o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a entidade que representa as 2.970 IPSS em Portugal.

Mas Lino Maia avança ao ECO, numa entrevista telefónica, que as poucas entidades que decidirem entrar, em conjunto com a SCML, devem entrar com apenas mil euros, cada. Este é o mesmo montante com que devem entrar as misericórdias, como foi dito ao ECO pelo presidente da União das Misericórdias. Manuel Lemos afirmou que há um equívoco brutal” quando se fala em investimentos até 10 mil euros por parte das restantes misericórdias. “Se tivéssemos muito dinheiro… mas as misericórdias estão muito descapitalizadas”, disse o presidente da União das Misericórdias.

A situação é idêntica nas IPSS. Para Lino Maia, é “rigorosamente impossível” chegar a este valor, uma vez que as IPSS “não têm fundos”, dependendo de apoios estatais, contribuições dos utentes e de dádivas. Esta contribuição residual servirá apenas para reforçar a função do Montepio enquanto banco de economia social, garante o presidente da CNIS.

Quantas IPSS demonstraram interesse em entrar no capital do Montepio?

Não tenho ideia. Provavelmente farei uma sondagem, mas de momento não tenho qualquer ideia. Se houve alguma a aderir foi por iniciativa própria. Isso não passa pela CNIS.

Até quando as IPSS têm de demonstrar interesse? Há um prazo?

Penso que não. Penso que, pelo menos para já, não está definida nenhuma data.

As misericórdias dizem que vão pôr mil euros cada. Já há valores para cada IPSS ou um número para o investimento total?

É a mesma coisa que disse o presidente da União das Misericórdias: pode ser uma adesão mais simbólica, com um valor mais simbólico. Podemos estar a falar de entradas com mil euros ou pouco mais do que isso. Mas, de facto, não há um valor definido.

Mas se entrarem apenas 200 misericórdias com mil euros cada, estamos a falar de 200 mil euros. Neste caso serão as IPSS a colocar o resto do capital?

Estou absolutamente convencido de que não estamos a falar de valores desse género porque as IPSS não têm fundos. É possível que haja entradas simbólicas de mil euros. E não da parte de todas as IPSS, apenas de algumas. É rigorosamente impossível chegar a esse valor.

Fala-se que a Santa Casa vai contribuir com 20 milhões, enquanto as misericórdias e IPSS vão contribuir com 30 milhões. Se a contribuição das IPSS não alcançar o montante previsto, a Santa Casa mostra-se disponível para cobrir esse capital em falta?

Ignoro. Não tenho acompanhado o processo. A SCML não é uma IPSS, é pública. Por isso, não sei.

Estou absolutamente convencido de que não estamos a falar de valores desse género porque as IPSS não têm fundos. É possível que haja entradas simbólicas de mil euros. E não da parte de todas as IPSS, apenas de algumas. É rigorosamente impossível chegar a esse valor.

Lino Maia

Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

Qual é o interesse das IPSS em entrar no capital de um banco? Qual é a importância de se criar um banco social em Portugal?

Penso que se justifica que haja um banco social e o Montepio responde em alguns aspetos a isso. Neste sentido, uma entrada das IPSS no capital do banco é mais um sinal que se dá à função do Montepio enquanto banco social.

Onde é que as IPSS vão buscar o dinheiro?

Isso cabe à gestão da instituição. O financiamento das IPSS vem basicamente de três fontes: ajudas de Estado, que representam cerca de 42%, depois 50% correspondem a contribuições de utentes e 8% são filantropia, dádivas, etc. Agora, não podemos pedir ao Estado mais dinheiro para entrar no capital do banco porque seria de algum modo quase lavagem de dinheiro. Penso que não serão muitas as IPSS que entrarão.

Quanto é que as IPSS já tiveram de pedir emprestado ao Montepio para ações sociais?

A CNIS esteve presente na negociação da linha de crédito e fundos de reestruturação a que o Montepio se candidatou e entrou. Nesse caso estamos a falar no total de cerca de 50 milhões de euros que estão a ser reembolsados.

"Não podemos pedir ao Estado mais dinheiro para entrar no capital do banco porque seria de algum modo quase lavagem de dinheiro. Penso que não serão muitas as IPSS que entrarão.”

Lino Maia

Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

O provedor da SCML será administrador não executivo em troca de uma participação de 1% por 20 milhões. Se as misericórdias e IPSS pagarem 30 milhões por 1%, fará sentido terem algum representante na administração?

Não foi falado. Não será uma via. Estamos a falar de valores muito simbólicos.

Se forem 30 milhões não serão assim tão simbólicos…

Tenho a certeza que da parte das IPSS e misericórdias não se pode falar de 30 milhões de euros. Estamos muito longe desse valor.

  • Rita Atalaia
  • Redatora

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