Vítor Constâncio na despedida do BCE: Risco no imobiliário exige medidas macroprudenciais
O vice-presidente do BCE alertou que o risco de bolha no imobiliário exige a tomada de medidas macroprudenciais. Quanto à possibilidade de uma futura crise, a política orçamental terá de ir a jogo.
O risco do imobiliário deve ser colmatado com a aplicação de medidas macroprudenciais. O conselho foi deixado esta segunda-feira por Vítor Constâncio na sua última ida ao Parlamento Europeu enquanto vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) para apresentar o relatório anual do BCE relativo a 2017. O português diz que é necessário implementar um conjunto de medidas que tornem o sistema financeiro mais resiliente à absorção de riscos no setor imobiliário.
“Alguns riscos dependem significativamente nos desenvolvimentos a nível mundial, enquanto outros — incluindo os riscos do setor imobiliário — são mais específicos e têm de ser endereçados através de políticas macroprudenciais”, explicou Constâncio perante os eurodeputados, ressalvando que, para já, não existe uma preocupação geral na Zona Euro, em linha com o que tinha dito Mario Draghi, o presidente do BCE.
Contudo, “os aumentos de preços em alguns países requerem uma resposta correta através da implementação de medidas de política macroprudencial”, aconselhou Vítor Constâncio, sem referir os Estados-membros em questão. “Dada a incerteza do impacto individual das medidas, há a necessidade de ter uma mistura apropriada de ferramentas, que podem incluir medidas relacionadas com quem empresta [dinheiro], nomeadamente limites no rácio entre o montante do financiamento face ao valor do imóvel que serve de garantia ou na taxa de esforço”, explicou o vice-presidente do BCE. Para Constâncio essa ponderação deverá ser feita em breve no comité de Basileia.
Questionado pelos eurodeputados sobre o que irá acontecer se uma crise económica aconteça no curto prazo, o ainda vice-presidente do BCE, cujo mandato acaba a 31 de maio, considera que a resposta estará a nível nacional. “Se surgirem choques repentinos, o papel da política orçamental deve ser acionada“, respondeu, referindo, a título pessoal, que a Zona Euro deve ter uma capacidade orçamental para lidar com os choques económicos simétricos e assimétricos, “algo que não existe hoje”.
Os aumentos de preços [no setor imobiliário] em alguns países requerem uma resposta correta através da implementação de medidas de política macroprudencial.
Para já continua a existir o problema da inflação, que não descola para o objetivo de médio prazo, e uma espécie de mistério com a evolução tímida dos salários. Ainda esta segunda-feira foram divulgados dados a nível europeu que indicam que em Portugal o custo horário da mão-de-obra subiu apenas 3% em 2017. Vítor Constâncio avança com uma explicação: “Contávamos que com um crescimento grande nos salários“, admite, referindo que “é uma inércia da crise que faz com que todos sejam mais prudentes no seu comportamento… Os sindicatos e os trabalhadores parecem aceitar [a fraca evolução dos salários] porque têm medo do desemprego”.
Sobre o mercado de trabalho, Constâncio disse ainda que a situação mudou muito nos últimos anos. “O país que neste momento que tem menor flexibilidade laboral é a Alemanha”, disse, explicando que houve “uma série de reformas que foram levadas a cabo durante a crise que alteraram o panorama de maneira significativa”. E garante que isso está relacionado com o crescimento económico recente: “Parte da retoma [económica] que verificamos deve-se essencialmente a essa reestruturação do direito laboral“.
O país que neste momento que tem menor flexibilidade laboral é a Alemanha.
Confrontado pelos eurodeputados sobre o que acontecerá após a retirada dos estímulos, Constâncio assegurou que o BCE manterá a “cautela” uma vez que “nos últimos quatro anos os principais motores da inflação mantiveram-se em torno de 1%”. “Não queremos políticas aceleradas que ponham causa a recuperação económica“, garantiu, depois de na sua intervenção inicial ter destacado que tem “orgulho” de ter levado a cabo uma política monetária que, na sua opinião, salvou a União Monetária e Económica.
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