Será que Draghi passou para o “lado negro”?
O economista-chefe do Deutsche Bank diz que o BCE entrou numa nova dimensão de risco moral, enumerando os cinco "lados negros" do programa de compra de ativos do BCE.
Mario Draghi, que acaba de completar cinco anos à frente do Banco Central Europeu, está a fazer o que até hoje nenhum dos seus antecessores se tinham atrevido. Levou a taxa de referência para zero, mas fez mais do que isso: lançou um programa de compra de ativos em larga escala. Tudo para cumprir com o “whatever it takes” na missiva de salvar o euro. Há quem aplauda, mas também quem o critique. E diga que Draghi passou para o “lado negro”.
"O BCE está preso … entre um equilíbrio desfavorável de baixo crescimento, desemprego elevado e um período de zero reformas, por um lado, e crescentes riscos para os balanços dos países principais, por outro.”
As taxas de juro muito baixas, mas principalmente a compra indiscriminada de ativos levou o Deutsche Bank a lançar um ataque contra o Banco Central Europeu. David Folkerts-Landau, economista-chefe do Deutsche Bank, elevou este conjunto de preocupações a um novo nível numa nota de research cujo título é: “O lado negro do QE [quantitative easing]”.
“Enquanto os banqueiros centrais se congratulam pela escala e originalidade da política monetária levada a cabo desde 2012, este autoelogio aparenta ser cada vez menos verdadeiro. O BCE está preso… entre um equilíbrio desfavorável de baixo crescimento, desemprego elevado e um período de zero reformas, por um lado, e crescentes riscos para os balanços dos países principais, por outro”, refere o economista.
David Folkerts-Landau, numa nota de research agressiva para com Mario Draghi e o BCE, enumera um conjunto de cinco consequências malignas do programa de 80 mil milhões de euros de compras mensais de ativos, um pacote que fez disparar o balanço do banco central, mas que ainda não atingiu o objetivo de evitar uma espiral de deflação na Zona Euro.
1. Países alvos sem reformas
“Até julho de 2012, as elevadas taxas de juro e as ameaças de refinanciamento forçaram os governos a levar a sério a necessidade de reformas. Com efeito, antes de 2012, mais de metade das medidas de crescimento económico recomendadas pela OCDE estavam a ser implementadas em toda a Zona Euro. Mas no ano passado, apenas 20%, o foram”, refere o banco de investimento alemão.
2. Preço das obrigações? Não diz nada
“Desde que os investidores começaram a antecipar as compras de dívida soberana pelo BCE no final de 2014, os spreads da dívida soberana dentro da Zona Euro foram bloqueados. Por sua vez, as yields soberanas menos representativas distorcem o universo de obrigações, como um todo, e a avaliação da dívida governamental”, refere.
3. BCE arrisca perdas. Cidadãos pagam
O Deutsche Bank alerta que “na eventualidade de uma reestruturação de um membro da Zona Euro, as responsabilidades do banco central nacional provavelmente terão de ser suportadas pelos contribuintes de outros Estados-membros, mesmo que essas perdas se estendam por um período longo. Basicamente, a dívida terá sido socializada.”
4. Poupa? Está a pagar a ajuda do BCE
O banco de investimento alerta que é quem poupa que está a pagar o programa de compra de ativos. E deixa o alerta: “o aumento dos preços da energia, a escassez de juros elevados e, em última instância, uma má reversão do programa, acabarão por passar a fatura” aos investidores mas também aos países (castigando os contribuintes).
5. BCE manteve vivas empresas zombie
“O aumento dos empréstimos foi, na sua maioria, para devedores de baixa qualidade já existentes, libertando os bancos em dificuldades da necessidade de abater empréstimos. Sem uma destruição, de forma criativa, de algumas empresas que enfrentam dificuldades, os investidores em países com elevadas poupanças, têm feito disparar o preço dos ativos saudáveis”, nota.
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