“Empresas não podem viver sem inovação”

Inovação, investimento, recursos humanos ou os pontos de um debate, onde a Bosch frisou que "sem inovação não há progresso".

O Fórum de Economia, inserido na terceira semana de Economia de Braga, teve o seu momento alto no debate sobre inovação e investimento, tendo como pano de fundo o que de melhor se faz na cidade de Braga. Carlos Ribas, administrador da Bosch, António Cunha, ex-reitor da Universidade do Minho, Carlos Oliveira, presidente da InvestBraga e Luís Castro Henriques, presidente da AICEP puseram o dedo em algumas das feridas da economia nacional. Ponto por ponto do debate.

Inovação:

O tema é caro às gentes de Braga, onde pontificam alguns dos melhores exemplos do que de bom se faz ao nível da inovação em Portugal, e onde a Bosch é um exemplo paradigmático.

Para Carlos Ribas, “as empresas não podem viver sem inovação permanente, é fundamental fornecer novas soluções ao mercado, porque no final do dia se acabar a inovação, acaba o progresso”. A frase é de Carlos Ribas, administrador da Bosch, uma das empresas mais inovadoras do país e foi proferida durante o debate que esta quinta-feira, teve lugar em Braga, durante o Fórum Económico.

O gestor vai mesmo mais longe e vaticina: “A melhoria contínua e a inovação têm de ser melhoradas”. E dá mesmo o exemplo dos displays, artigo produzido e desenvolvido pela Bosch e que surgiu num altura em que se falava que era necessário reduzir o preço do produto, no caso dos ponteiros dos conta-quilómetros. Ribas refere mesmo que, “em Portugal, havia empresas que para reduzirem os preços se esqueciam de continuar a inovar e acabaram por não resistir”.

Isto dito por uma empresa que todos os dias cresce, a nível mundial, mas também a nível nacional e que, em 2017, faturou 1,5 mil milhões de euros.

Tudo isto, alerta contudo o homem forte da multinacional alemã, requer muito trabalho. “Todos os nossos projetos são bastante escrutinados, passando por um grande crivo”.

Mas qual deve ser a prioridade crítica para que a inovação dê um salto qualitativo também ao nível da universidade? António Cunha dá a resposta. “É preciso saber gerir melhor os recursos humanos, ter capacidade para os reter, o que acaba por implicar um modelo de autonomia universitário melhor do que aquele que temos atualmente”. E acrescenta: “sou um defensor da autonomia financeira, o que implica grande responsabilidade”.

O ex-reitor da Universidade do Minho lembra que a “Universidade é sui generis, é um misto de gestão estratégica institucional e, felizmente, um dos problemas que temos tido nos últimos tempos é o de termos de ser mais seletivos nos projetos em que nos queremos envolver”.

Cunha admite que tem em mãos três grandes projetos, para o período dos próximos três anos, e que envolvem 100 milhões de euros. “Isto é possível devido ao nosso passado”.

De resto, a Bosch e a Universidade do Minho têm uma estreita ligação ao nível dos projetos de inovação e I&D, mas como surgiu esta ligação? Para Carlos Ribas, o grande responsável foi precisamente António Cunha. “Foi ele que nos desafiou constantemente e agora já replicamos este modelo na Vulcano com a Universidade de Aveiro e na Bosch de Ovar com a Universidade do Porto”. Ribas diz mesmo que no nosso caso também se traz “a academia para dentro da fábrica”. “Temos 20 doutorados dentro da fábrica para resolver os problemas que temos dentro da fábrica”.

“Há uma parceria e um ganho para todos os intervenientes”, remata. E diz o óbvio: “queremos I&D para ganhar dinheiro e para que a economia possa andar para a frente”.

Carlos Oliveira, por seu turno, lembrou que a inovação não é só o que se faz ao nível do produto e dos serviços. “Podemos estar a falar de inovação em marketing, nas estratégias de internacionalização e comercialização, por exemplo”.

Recursos humanos são entrave ao crescimento

A falta de recursos humanos começa a ser apontada como um entrave ao crescimento da economia. Mas será que em Braga o problema já se faz sentir?

Carlos Oliveira é perentório. “Só há inovação com talento, são precisas pessoas dos diferentes níveis desde os doutorados ao chão da fábrica, e este é um aspeto essencial para a atração do investimento, sendo mesmo um fator diferenciador”, refere.

Apesar de dizer que o problema não é ainda muito notório, o presidente da InvestBraga diz que “obviamente têm de existir mais recursos humanos face às atuais necessidades e, sobretudo, face às necessidades futuras”. Caso contrário, acrescenta, corre-se o risco de se tornarem “vítimas do próprio sucesso”.

Carlos Oliveira, já durante a tarde, tinha dado nota dos dados relativos ao emprego em Braga, com o concelho a ser responsável por uma geração líquida de 8 mil postos de trabalho entre o período de 2014-2017, uma média anual de cerca de 2 mil postos de trabalho. No mesmo período, verificou-se uma redução do desemprego de 49% em Braga. Não é pois uma questão do imediato, mas, refere Carlos Oliveira, “na maior parte dos setores é preciso que se implementem medidas a médio e longo prazo”. Isto, garante, necessita do “envolvimento das empresas e até da questão como a imigração e eventualmente até dos filhos dos nossos emigrantes”.

Atrair investimento? “Com muito trabalho”

Perante a pergunta de como é que se atraem projetos de investimento como o da Bosch, Castro Henriques responde: “com muito trabalho”.

O presidente da Aicep avançou então que existem muitas empresas, que não conhecem Portugal e que ficam surpresas com “as vantagens competitivas do país e, sobretudo, que ficam espantadas com os casos disruptivos que apresentamos“.

Mas acrescenta que hoje em dia é impossível falar com investidores “sem falar de talento”. E também da questão da inovação, porque “só projetos com inovação incorporada podem ter apoios fiscais e incentivos”. De resto, Castro Henriques lembra ainda que “não se pode vender tudo ao mesmo tempo, há que ter foco e os resultados estão à vista”.

Castro Henriques elenca ainda três medidas importantes para debelar os problemas: “dar visibilidades aos casos de sucesso, demonstrando que há boas oportunidades em Portugal; retenção dos alunos que vêm estudar para Portugal; e finalmente uma iniciativa coletiva que cative os jovens a trabalhar na indústria”.

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