Depois dos combustíveis, brasileiros já só querem #foratemer
A greve começou com os combustíveis. Mas com as eleições à porta, o Governo do Temer está agora sob a pressão mais forte do mandato.
A paralisação em resultado do aumento do preço dos combustíveis já vai longa. Começou com a greve dos camionistas brasileiros, que pararam para demonstrarem o descontentamento com a elevada “fatia” que vai para os cofres estatais em cada litro que abastecem, passando depois para uma paralisação geral. Da luta contra o imposto, nasceu a luta contra o Planalto. #foratemer está nas ruas (e na internet).
As filas de camiões ocupam já dezenas de quilómetros de autoestrada. As vias principais de acesso às cidades estão bloqueadas, impedindo que cheguem combustíveis, alimentos frescos e todos os outros bens que dependem do transporte rodoviário aos brasileiros.
Nos supermercados, as prateleiras de vegetais, frutas e pão estão vazias. Nas ruas, não há hora de ponta porque os carros não estão a sair das garagens e os autocarros estão a operar em serviços mínimos. Nas bombas de gasolina que estão vazias, as correntes estão a impedir a passagem, enquanto nas poucas que ainda vão sendo reabastecidas as filas vão para lá da vista.
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O Governo de Michel Temer começou a tomar medidas, procurando evitar os efeitos nefastos da paralisação na economia. Primeiro anunciou uma redução dos preços durante duas semanas, para que os camionistas voltassem à estrada. Não funcionou. Depois, aumentou-a para um mês. A mesma reação. Saíram depois os militares às ruas, mas não conseguiram demover a enchente de manifestantes.
Com o caos a espalhar-se, Temer foi mais além e anunciou que o preço do diesel terá uma redução de 0,46 reais por litro pelo prazo de 60 dias, o que representa uma queda de 12%. Ao não ter sido acordado com a Petrobras, o presidente afirmou que “o Governo assume o sacrifício no orçamento e, naturalmente, honrará essa diferença de custo”.
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Mas nem esta medida foi capaz de tirar os camiões das ruas. São já mais de 500 as vias bloqueadas, a maior parte delas parcialmente. Ao El País Brasil, os representantes dos camionistas afirmaram que “o primeiro ponto de qualquer acordo é que Michel Temer deixe a presidência”. E com o as eleições a acontecerem daqui a quatro meses, o Governo do PMDB está agora sob a maior pressão do mandato.
Depois dos camionistas… o Brasil inteiro
Com os camionistas a manifestarem-se um pouco por todo o país, a onda de reivindicação deixa de se espalhar espacialmente para transpor setores. Pelos mesmos motivos, e por verem as suas margens reduzidas, os condutores da Uber saíram à rua. E até os trabalhadores da empresa que fornece os combustíveis a todo o país, a Petrobras, têm uma palavra a dizer.
Os trabalhadores da petrolífera nacional decretaram uma greve de “advertência” contra a manutenção dos preços dos produtos refinados e… a privatização da empresa. Para além dos alvos estarem apontados para Michel Temer, o arquiteto deste projeto de privatizações, o presidente da empresa também está na mira dos seus trabalhadores.
“Os eixos principais do movimento são a redução dos preços dos combustíveis, a manutenção dos empregos, a retomada da produção das refinarias, o fim das importações de derivados de petróleo, não às privatizações e ao desmembramento da Petrobras e pela demissão de Pedro Parente da presidência da empresa”, afirmaram os trabalhadores em comunicado.
O descontentamento em relação à governação de Temer, principalmente às medidas que afetam a economia, é um sentimento geral no Brasil. A acrescentar aos pouco menos de 5% de aprovação, Temer está agora perante uma população — e um eleitorado que irá votar nas presidenciais dos próximos quatro meses — sem acesso aos bens essenciais.
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Camionistas põem travão à economia
Paralisação do país significa também travão na economia. O Banco Central do Brasil já fez as contas aos últimos dias de greve e reviu em baixa as suas previsões de crescimento da economia para este ano. Esta atualização, feita semanalmente, retirou mais de 10 pontos percentuais à previsão da semana passada.
Segundo a sondagem que a instituição faz junto de uma centena de economistas de bancos e instituições financeiras, a nova projeção para a expansão do PIB brasileiro fica nos 2,37%, 0,40 pontos percentuais abaixo da que foi prevista há quatro semanas quando se antecipava um crescimento de 2,75% em 2018.
Também devido aos potenciais efeitos da greve, os analistas elevaram as projeções relativas à inflação de 3,50% para 3,60%. Estes receiam ainda que a paralisação e os seus efeitos afetem negativamente uma economia ainda débil, que estava lentamente a recuperar da profunda recessão que o país sofreu entre 2015 e 2016.
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