Catarina Martins acusa Centeno de ter posições contraditórias com o próprio Governo
"É preocupante que Mário Centeno tenha uma posição que contraria a do Governo", diz Catarina Martins, relativamente ao que o presidente do Eurogrupo defende em relação à moeda única.
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, considerou esta quarta-feira, em Bruxelas, que Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, defende posições que são contraditórias com as do próprio Governo e que até fazem lembrar o seu antecessor, Jeroen Dijsselbloem.
Em declarações à imprensa após participar numa conferência de imprensa da plataforma eleitoral de partidos europeus de esquerda a que o Bloco pertence, no Parlamento Europeu, Catarina Martins admitiu ter partilhado a “enorme estranheza e preocupação com que o BE vê que o ministro das Finanças português, que é também presidente do Eurogrupo, enquanto presidente do Eurogrupo se oponha até às medidas que o Governo português propõe para que o euro deixe de ser uma forma de o nosso país empobrecer”.
“Nós achamos estranho e preocupante que Mário Centeno tenha uma posição que contraria aquela que é a posição do Governo português de um orçamento que possa compensar alguns dos desequilíbrios que o euro provoca”, afirmou.
A líder bloquista prosseguiu dizendo que o BE acha que “a proposta de orçamento que o Governo faz é claramente limitada, mas que venha Mário Centeno dizer que nem essa é admissível, que tudo deve ficar com está, e utilizando expressões de ‘riscos morais’, que nós nos lembramos do anterior presidente do Eurogrupo, nós achamos preocupante e julgamos que o Governo português também deve estar preocupado”, disse.
Para a responsável do Bloco, “não é normal esta posição, que é uma posição contraditória dentro do próprio Governo”.
Perspetivando a cimeira de chefes de Estado e de Governo que se realiza em Bruxelas entre quinta e sexta-feira, e que será dominada pelas questões das migrações – no Conselho Europeu no seu formato habitual – e pela reforma da zona euro e aprofundamento da União Económica e Monetária, na “Cimeira do Euro” que terá lugar no segundo dia de trabalhos, Catarina Martins antecipou maus resultados no primeiro tema e nenhuns no segundo.
“Na verdade, a ideia era que chegássemos a junho com uma nova ideia para o euro. Chegamos a junho e sabemos que não há nenhuma ideia para o euro neste Conselho Europeu. E, pelo contrário, vemos sim é uma ideia absolutamente desastrosa sobre as migrações. Ou seja, não se resolve o problema financeiro e económico da UE e ainda se agrava o problema das crises de direitos humanos ao querer-se fazer campos de desembarque para imigrantes fora do espaço da UE, o que é um atentado aos mais básicos direitos humanos e uma falha de direito internacional muito grave”, disse.
Catarina Martins falava à imprensa depois de ter participado num evento da plataforma eleitoral europeia à qual o Bloco pertence, que esta quarta-feira adotou um novo documento, intitulado “Agora o Povo!”, na sequência da “Declaração de Lisboa” (assinada a 12 de Abril com Jean-Luc Mélenchon, do partido La France Insoumisse, e Pablo Iglesias, do Podemos).
A nova declaração é subscrita por seis partidos, já que outros três associaram-se à plataforma: os partidos The Red-Green Alliance, da Dinamarca, o Vasemmistoliitto, da Finlândia, e o Vänsterpartiet, da Suécia.
Defendendo que, 10 anos após o início da crise financeira, a “Declaração de Bruxelas” considera que se pode concluir que os líderes europeus condenaram os cidadãos a “uma década perdida” e que “a aplicação dogmática e irracional das políticas de austeridade não resolveram nenhum dos problemas estruturais que levou à crise”, tendo a União salvado apenas “os bancos e seus donos”, os subscritores do manifesto defendem ser altura de romper com os atuais Tratados “antidemocráticos” da UE e “construir uma nova ordem”.
A aliança de partidos de esquerda garante que, no quadro das eleições europeias de 2019, vai lutar contra o dumping social, pelos direitos sociais, pela justiça fiscal e um sistema financeiro justo, pela igualdade e direitos das mulheres, pelo direito ao asilo e contra a Fortaleza Europa, por políticas comerciais democráticas e sustentáveis e contra acordos de livre comércio, contra as alterações climáticas e pela sustentabilidade ecológica, e, por fim, pela paz e desarmamento.
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