António, o Santo milagreiro da Nação

Não foi um debate do Estado da Nação para crentes. Não houve milagres nem apareceu o diabo. Se a geringonça continua a engolir sapos, a oposição à direita continua a encanar a perna à rã.

Há um ano, António Costa aparecia no debate do Estado da Nação numa altura em que o Governo enfrentava três crises em simultâneo: Pedrógão, Tancos e uma mini-remodelação provocada pela queda de três secretários de Estado que foram constituídos arguidos na sequência do caso Galpgate.

Doze meses volvidos, António Costa regressa ao mesmo local num clima de maior desanuviamento político e para um discurso tranquilo, confiante e com números para mostrar: a economia está a crescer, o défice a baixar e a dívida a aliviar.

O primeiro-ministro antecipou-se às criticas da oposição para tentar disfarçar os pontos fracos deste Governo: ausência de reformas estruturais, falta de investimento e serviços públicos envelhecidos e a rebentar pelas costuras.

Foi aqui que aconteceu o primeiro embate com o PSD e o primeiro soundbite do debate. António Costa aproveitou para responder ao grande ausente na sala, Rui Rio, que tem insistido na mensagem de que “o discurso do milagre económico é uma aldrabice política”. Ao que António Costa respondeu hoje: “O anterior líder do PSD jurava que vinha o diabo. Este exige um milagre. Não somos santos milagreiros”.

Costa tem razão: este António não é santo e a situação do país está longe de ser milagrosa. Basta percorrer os corredores do hospital de São João, bater com o nariz na porta das salas fechadas da maternidade Alfredo da Costa, olhar para as “catástrofe” no São José ou para as contas calamitosas do Santa Maria. Como diz o provérbio, santos da casa não fazem milagre. Nem o São José, nem o São João, nem a Santa Maria e muito menos o Santo António.

Mas Santo António tem fama de casamenteiro e o debate do Estado da Nação mostrou que o casamento de conveniência da geringonça está para durar. Com a entrevista de Santos Silva ao Público como pano de fundo, Bloco, PCP e Verdes não fizeram juras de amor eterno mas, como num casamento de conveniência que se preze, engoliram sapos e segue a caravana, ou melhor, a geringonça.

António Costa assumiu para com os seus parceiros de geringonça uma postura cândida e didática, explicando que só cumprindo as regras de Bruxelas é que o país recupera confiança e baixa a fatura de juros, ganhando margem para repor rendimentos. Uma postura didática e quase pueril, de uma Carochinha desesperadamente à procura do seu João Ratão.

Se a geringonça continua a engolir sapos e a fabular, a oposição à direita continua a encanar a perna à rã. Os discursos de Adão Silva e de Emídio Guerreiro foram fracos, confusos e sem entusiasmo, deixando a nação social-democrata a suspirar por Luís Montenegro. Fernando Negrão lá salvou a honra do convento, lembrando a António Costa os dados publicados esta quinta-feira, que mostram que há 20 países na União Europeia a crescer mais do que Portugal. Há 20 milagreiros por esta Europa fora que não multiplicam pães nem peixes mas conseguem colocar a economia a crescer mais do que a nossa.

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