Maior ciclo de quedas em sete anos tira 3,5 mil milhões de euros à bolsa de Lisboa
A perda de capitalização bolsista do PSI-20 em nove sessões equivale quase ao valor de mercado do BCP.
O clima de instabilidade provocado pela incerteza em torno da guerra comercial está a provocar fortes danos não só às praças internacionais como à nacional. A bolsa lisboeta vive o mais extenso ciclo de perdas em mais de sete anos que já lhe “roubou” cerca de 3,5 mil milhões de euros em termos de valor de mercado.
Esta sexta-feira foi a nona sessão consecutiva em que o PSI-20 fechou em terreno negativo, a perder 0,55% para os 5.232,99 pontos, um mínimo de um ano, com grande parte das cotadas em queda. O BCP foi o título que mais pesou, recuando 2,68% para 24,33 cêntimos.
Com mais esta sessão no vermelho, o índice elevou para mais de 5% a queda em nove dias de negociação negativas que representam o ciclo de perdas mais extenso desde o período terminado a 10 de agosto de 2011.
Índice de Lisboa em queda
Em termos de valor de mercado do PSI-20, este passou de perto de 69 mil milhões de euros no final do passado dia 27 de agosto para um pouco menos de 58,5 mil milhões de euros. Ou seja, o valor de mercado global das 18 cotadas do índice de referência encolheu em perto de 3,5 mil milhões de euros em apenas nove sessões. Para dar uma ideia, esta perda corresponderia, por exemplo, ao desaparecimento do BCP da bolsa nacional.
No jogo das perdas há sobretudo três títulos que se destacam. Mais de um terço dessas perdas devem-se à desvalorização da Galp Energia. A capitalização bolsista da maior cotada nacional encolheu em 1.191 milhões de euros, quantia resultante de uma queda de 8,6% das suas ações nas últimas nove sessões.
Cinco maiores quedas em valor de mercado
Fonte: Reuters
No ranking das maiores perdedoras figuram ainda os “pesos pesados” Jerónimo Martins e EDP. A descida de 9,4% das ações da retalhista resultaram numa queda de 807 milhões de euros na sua capitalização bolsista. Já no caso da elétrica, as últimas nove sessões apresentam um saldo negativo de 2,3% no valor das suas ações e de quase 280 milhões de euros em termos de capitalização.
Já as cotadas nacionais cujas ações mais recuam no acumulado das últimas nove sessões foram a Mota-Engil, a Jerónimo Martins e a Sonae Capital. Os seus títulos desvalorizam 24%, 9,4% e 10,4%, respetivamente.
As perdas que se assistem na praça bolsista lisboeta são um pouco mais dilatadas face às que afetam o resto do Velho Continente, com as ações europeias em mínimos de cinco meses. Nas mesmas nove sessões, o Stoxx 600, índice que agrega as 600 principais cotadas europeias, recuou mais de 3%.
A rentrée não está a ser a melhor para os investidores que não escapam ao clima de instabilidade a nível internacional dominado pelo crescendo da certeza sobre o comércio global. Os investidores temem o agudizar da disputa comercial entre os EUA e a China, bem como revelam preocupações face à fragilidade dos mercados emergentes.
Os investidores estão expectantes para saberem se o Presidente Donald Trump vai mesmo avançar com o pacote de 200 mil milhões de dólares em tarifas aduaneiras sobre as importações chinesas, algo que, a avançar, merecerá retaliação de Pequim.
"Os investidores continuam a ter a questão dos mercados emergentes e do comércio global para enfrentar.”
Em simultâneo, a crise nos mercados emergentes continua a provocar ondas de choque. Nomeadamente na Turquia e na Argentina, país que numa altura de forte desvalorização do peso argentino tenta alcançar um novo acordo de resgate com o FMI.
“Os investidores continuam a ter a questão dos mercados emergentes e do comércio global para enfrentar”, disse David Madden, analista de mercado da CMC Markets, citado pela Reuters.
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