Há crise financeira no Sporting. O que querem fazer os três principais candidatos
Frederico Varandas, João Benedito e José Maria Ricciardi vão na frente à corrida pela presidência do clube dos leões, de acordo com as sondagens. Prejuízos de 20 milhões e falência técnica, E agora?
É este sábado que se fica a conhecer o 43.º presidente do Sporting, numa corrida eleitoral com um número de candidatos recorde. À frente nas sondagens estão Frederico Varandas, João Benedito e José Maria Ricciardi, com propostas centradas no futebol, mas também na reestruturação económica e financeira do clube. Mas, dos três, é Ricciardi quem tem um discurso sem ambiguidades na dimensão financeira, enquanto Varandas e Benedito centraram as atenções na estratégia desportiva. A poucas horas de se conhecer o novo presidente dos leões, que será escolhido entre seis candidatos, o ECO reuniu as propostas destes três candidatos.
Propostas divulgadas antes de serem conhecidas as contas do clube, divulgadas ao mercado na madrugada de sábado. É que confirmam o retrato: a situação está muito no vermelho. De acordo com o relatório e contas enviado à CMVM, o Sporting apresentou um prejuízo de 19,9 milhões de euros e capitais próprios negativos no último ano terminado a 30 de junho. Em termos globais, o volume de negócios do Sporting totalizou os 126 milhões de euros, dos quais 34 milhões com venda de jogadores. No ano anterior, a faturação da SAD foi de 173 milhões e o resultado líquido foi negativo, em quase 20 milhões de euros. A SAD do Sporting está assim em falência técnica, com os capitais próprios a apresentarem um valor negativo de 13,3 milhões de euros. Uma evolução que a gestão justifica com “o investimento efetuado no plantel”.
As duas sondagens realizadas — uma pela Intercampus para o jornal A Bola e outra pela Domp — Desenvolvimento Organizacional, Marketing e Publicidade, a pedido de José Maria Ricciardi –, apontam Frederico Varandas e João Benedito como sendo os dois candidatos favoritos à presidência do Sporting. A diferença entre as duas sondagens reside, precisamente, nos resultados obtidos pelo terceiro candidato: enquanto na sondagem da Intercampus, José Maria Ricciardi surge com uma intenção de voto de 5,3%, na da Domp é de 28%.
Frederico Varandas: “Missão central, prioritária, unir o Sporting”
Nas redes sociais multiplicam-se as campanhas, numa tentativa de aproximação com os sócios. Frederico Varandas, diretor clínico do Sporting até se ter demitido na sequência das agressões em Alcochete, foi o primeiro a a admitir que se pretendia candidatar à presidência. Com 27 mil likes no Facebook, sob o lema “Unir o Sporting“, Varandas tem a seu lado Francisco Salgado Zenha, responsável financeiro, Rogério Alves, candidato a presidente da Assembleia Geral, e Joaquim Baltazar Pinto, candidato a presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar.
Na candidatura apresentada por Frederico Varandas — Lista D –, a prioridade é o Sporting, conforme escreve: “A candidatura que encabeço tem como missão central, prioritária, unir o Sporting. Vamos acabar com os sectarismos, a cultura de ódio, a degradação, o bullying, os rótulos ofensivos, as perseguições por delito de opinião, as censuras em razão do livre exercício de direitos fundamentais”.
Entre as principais medidas a implementar estão um novo empréstimo obrigacionista até 60 milhões de euros, reestruturação do passivo bancário com a compra da divida com desconto e a securitização do contrato da Nos. Para além disso, pretende que haja uma manutenção da maioria do capital da SAD e, se possível, um aumento. Somado está ainda que todos os elementos da equipa terão de apresentar a declaração de rendimentos.
No passado dia 3, em entrevista ao Notícias ao Minuto, questionado sobre as mudanças prioritárias caso ganhes as eleições, o candidato respondeu: “Acima de tudo, tornar o Sporting profissional à dimensão e valor desportivo do clube. A exploração da marca Sporting está muito aquém das suas possibilidades e basta ver que temos o nível de receita em 3,9 milhões de euros em merchandising, enquanto um dos nossos rivais têm 5,4 e o outro quase 10. Não faz sentido, pois estamos a viver no mesmo país, com as mesmas pessoas. Temos que ser mais competentes“.
Numa outra entrevista, dada ao Observador, Francisco Salgado Zenha, o futuro responsável pela área financeira caso Varandas vença as eleições, afirmou que “a parte financeira nunca desapareceu totalmente, até porque mesmo com estas vendas mais significativas falou-se sempre da cativação de parte dessa receita”, quando questionado sobre a importância dada à parte desportiva da candidatura apresentada. “Todos sabemos que existe o empréstimo obrigacionista já a vencer em novembro e teremos como prioridade refinanciar esse empréstimo obrigacionista. Agora, o problema principal do Sporting, ou da Sporting SAD, não é esse, mas sim a sustentabilidade da situação financeira e desportiva a médio e longo prazo e que passa muito por receitas”, completou.
João Benedito: “O sucesso desportivo tem de ser o motor da estabilidade financeira e institucional do Sporting”
A encabeçar a Lista A está João Benedito, antigo guarda-redes de futsal do Sporting, com mais de 21 mil likes no Facebook. Com o mote “Candidatura Raça e Futuro”, durante um debate realizado na TVI24, Benedito falou sobre Bruno de Carvalho, afirmando: “Qualquer sócio que tenha orgulho em ser o Sporting terá o mesmo orgulho que eu de recuperar a herança do clube. Eu valorizo o que está bem feito. Há efetivamente coisas que estão más, mas também quero chegar a um ponto de consenso em relação aos sócios“.
A seu lado tem João Paulo Feliciano Neves Benedito, como presidente do conselho executivo, José Manuel Araújo, como presidente da mesa da assembleia geral, e Luís Filipe da Silva Ferreira, como presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar. A nível financeiro, o candidato disse-se “preocupado” com a “fuga da informação”. Para isso, pretende criar a figura de CEO, que seja “transversal”, porém, não adiantou possíveis nomes. Em declarações ao Diário de Notícias, comentou que será “uma figura, perfil, função que faça a gestão das áreas não desportivas. A estratégia será o conselho diretivo a definir, esta pessoa terá uma função não decisória, terá uma função executiva”.
“O Sporting não está sem salvação, o que é preciso é um modelo de gestão independente“, disse. Em termos de futebol, as promessas vão desde um modelo que inclua o futebol profissional e a formação, para além do “Sporting Performance”, cujo objetivo passa por aperfeiçoar as capacidades dos jogadores. Por fim, pretende reduzir o plantel para 23/24 jogadores. “O modelo tradicional assenta primeiro na gestão e depois no desporto, o que eu quero implementar é um modelo com base no desporto e depois na gestão“, disse o candidato, em entrevista ao DN.
José Maria Ricciardi: “A situação em geral e no Sporting não é fácil”
Responsável pela Lista B está o banqueiro José Maria Ricciardi, apoiado por José Eduardo, como diretor para o futebol, Marco Caneira, diretor desportivo, e Jorge Cadete, na estrutura. A seu lado tem ainda Luís Borges Rodrigues, Presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar e Miguel Jorge Frasquilho, Presidente da Mesa Assembleia Geral.
Com mais de 7.500 likes no Facebook, o candidato tem como lema “Equipados para o Amanhã”. Entre as principais medidas que pretende implementar, a nível financeiro, estão um empréstimo obrigacionista, uma melhor gestão em todas as áreas, a entrada de novos investidores ou um aumento de investimento dos atuais acionistas, lê-se na candidatura apresentada. Ricciardi alerta, desde o início, para a situação financeira de emergência do Sporting, talvez o único a fazê-lo de forma clara e sem subterfúgios. Há um défice de tesouraria global de mais de 120 milhões de euros, dos quais 60 milhões de exploração, para o qual é preciso ter respostas até ao final do ano.
José Maria Ricciardi pretende ainda negociar a amortização da dívida do clube com os bancos. Como referiu no debate na TVI24: “A situação em geral e no Sporting, não é fácil. Quando há uma crise muito grave, isso afeta a confiança no setor”. “O Sporting está num momento decisivo onde fica do lado certo ou errado. Para lá chegar tem um problema de tesouraria para resolver. Se calhar em janeiro temos de reforçar a equipa para lutar pelo título. Isso acarreta grande capacidade de liderança, gestão e experiência. Se falhar agora as consequências são mais profundas”, afirmou.
No futebol em concreto, o candidato pretende ganhar os jogos da Champions, de forma a diminuir o valor da obrigação a vender, acabar com as reestruturações sucessivas, “acabar com o despesismo das contratações em larga escala”, reduzir o plantel para 28 jogadores, reforçar o departamento de Scouting e “ter como princípio a celebração de contratos profissionais tendo por base uma tabela salarial com forte componente em objetivos“, etc.
De acordo com o Record, o candidato referiu, durante um jantar de campanha, que Frederico Varandas e João Benedito recorrem a “técnicas do brunismo”, afirmando mesmo que ambos “são uma espécie de Bruno de Carvalho em segunda versão“. Face a isto, mostrou-se totalmente confiante de que vencerá as eleições: “Temos a perfeita convicção que os sócios nos vão dar a vitória final. Não se vão deixar influenciar por estas campanhas negras”.
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