Fórum Bizfeira: “Mercado das tecnologias nos EUA é o mais apetecível para empresas portuguesas”
É um mercado muito forte e que já conta com a presença de vários casos portugueses. Além disso, há inúmeras oportunidades no mercado tradicional, que pode incorporar tecnologia e inovação.
O ramo tecnológico e da inovação pode ser o caminho mais rápido para as empresas portuguesas que procuram internacionalizar-se e entrar no mercado norte-americano. A afirmação é de Graça Didier, diretora executiva da Câmara de Comércio Americana em Portugal, e foi feita durante a quarta edição do Fórum Bizfeira.
“É um mercado muito forte e que já conta com a presença de vários casos portugueses. Além disso, há inúmeras oportunidades dentro do mercado tradicional, que pode incorporar tecnologia e inovação”, justifica a responsável.
Um desses exemplos é a MyCujoo, empresa de streaming de conteúdos desportivos com origem portuguesa, que, nos últimos anos, conseguiu estabelecer-se com sucesso nos EUA.
Ricardo Rodrigues, diretor de operações em Portugal da MyCujoo, conta que a chave para entrar num mercado tão competitivo como o norte-americano foi identificar o nicho de mercado para o serviço que pretendiam oferecer. “O nosso foco era o futebol e sabíamos que a MLS, a principal liga do país, tem apenas vinte anos de existência. Era manifestamente pouco se compararmos com a tradição de décadas da NBA e da NFL. Por isso, apostámos aqui e agimos também como impulsionadores da modalidade nos Estados Unidos”, disse na conferência Negociar e investir nos EUA.
A verdade é que não foi difícil estabelecermo-nos na América, mesmo com a exigência a que obrigava a tecnologia de ponta que existe por lá.
O mercado regulado, especialmente ao nível dos direitos digitais, não colocou entraves ao crescimento da MyCujoo em solo americano, que através da parceria com a Federação de Futebol do país foi aumentando o volume de transmissões de jogos e ganhando cada vez mais notoriedade. “A verdade é que não foi difícil estabelecermo-nos na América”, revela Ricardo, “mesmo com a exigência a que obrigava a tecnologia de ponta que existe por lá. O mercado digital é o futuro e é possível identificar várias oportunidades comerciais. O facto de as pessoas olharem para um conteúdo e fazerem disso um negócio é meio caminho andado”.
A mesma ênfase no produto foi assinalada por Gabriela Caballero, especialista em comércio internacional com os EUA. “O mais importante é adaptar os produtos ao local onde se pretende que sejam comercializados, e ainda procurar o nicho onde estes podem ser mais vendidos a um bom preço. O mercado americano é sem dúvida para todas as empresas, mas requer uma preparação rigorosa, um produto diferenciador e uma boa estratégia”, afirma.
O mais importante é adaptar os produtos ao local onde se pretende que sejam comercializados, e ainda procurar o nicho onde estes podem ser mais vendidos a um bom preço.
Para muitos setores e negócios, entrar na economia norte-americana é visto com especial interesse, mas muitas empresas têm receio de avançar, não só pelas diferenças em relação ao mercado português, mas também pelos riscos e cuidados a que o investimento obriga. Questionada sobre se seria preferível para as empresas portuguesas entrar nos EUA sozinhas ou com a ajuda de parceiros, Gabriela Caballero respondeu que isso depende da estratégia que se pretende seguir, mas que pode sempre ser uma boa ideia procurar parceiros, mesmo entre concorrentes.
Enquanto a burocracia para abrir uma empresa nos Estados Unidos não é excessivamente exigente, por outro lado podem surgir contratempos, avisa Graça Didier: “Abrir uma conta bancária não é fácil, assim como a relação com os bancos, por vezes. E é difícil entrar efetivamente no mercado, arranjar parceiros estratégicos, conseguir destaque…”. Além disso, o desconhecimento sobre o modo como funciona o modelo empresarial e económico norte-americano pode ser comprometedor. “É necessário estar ao corrente das regras, das taxas alfandegárias, saber que nos EUA, por exemplo, não entram sequer alguns produtos como a carne e os enchidos”, acrescenta. Esta complexidade aumenta atendendo ao facto de o mercado americano ser, na verdade, composto por cinquenta mercados diferentes, cada um com as suas especificidades e regras inerentes a cada Estado.
Quem quer encarar a sério o mercado nos EUA, a uma dada altura vai ter de pensar em instalar-se por lá. Até por questões relacionadas com prazos e certos benefícios e oportunidades que apenas se conseguem com uma sede no país…
Na verdade, quem quer exportar para os Estados Unidos não escapa a outras dificuldades relacionadas com a diferença de moeda, de cultura ou de fuso-horário. Daí que, “quem quer encarar a sério o mercado nos EUA, a uma dada altura vai ter de pensar em instalar-se por lá. Até por questões relacionadas com prazos e certos benefícios e oportunidades que apenas se conseguem com uma sede no país…”, afiança ainda a diretora executiva da Câmara de Comércio Americana em Portugal.
O jornalista Nuno Rogeiro aponta outro obstáculo, a questão da imagem de Portugal não ser muito conhecida na América. “Há muitas pessoas que não sabem onde fica o nosso país, e enquanto a França está associada aos vinhos e a Alemanha à tecnologia, Portugal carece de uma autêntica significação para impulsionar as vendas. Temos de ter maior capacidade para promover a marca portuguesa”, assevera.
Não obstante, Nuno Rogeiro indiciou haver hoje boas condições para o crescimento das relações empresariais e comerciais entre Portugal e os EUA: “Hoje estamos num bom período, embora ainda haja muito trabalho por fazer. Existem atualmente uma série de nichos outrora desconsiderados e que agora são relevantes. Por isso, vale a pena investir em redes menos óbvias”.
Sob a moderação de António Costa, publisher do ECO, nesta conferência realizada no Europarque de Santa Maria da Feira, Nuno Rogeiro expressou ainda que o fator político norte-americano não é causa de instabilidade para potenciais negócios entre empresas. “Há quem ache os EUA estão envolvidos numa guerra comercial, mas curiosamente a Administração americana está hoje mais talhada para se estabelecerem relações empresariais”, refere o jornalista.
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