Fabricar diamantes no micro-ondas? Sim, o setor da joalharia está a mudar

Os cientistas defendem o mercado de diamantes de laboratório como uma opção "mais barata, mais ecológica e eticamente correta".

Diamantes e micro-ondas parecem, à partida, palavras que não estariam na mesma frase. Mas, a verdade é que, graças à transformação digital, não só se dizem uma a seguir à outra como, também, uma fabrica a outra. Vários grupos de cientistas estão a utilizar o pequeno eletrodoméstico que faz parte da cozinha da maioria dos portugueses para fabricar diamantes “perfeitos”.

Tecnologias como a inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT, na sigla inglesa) e big data têm sido algumas das grandes protagonistas da transformação digital, um processo que está a revolucionar todo o tipo de setores e que já carrega, por isso, o título de quarta revolução industrial. Nem o setor da joalharia escapa, aliás, nesta indústria as mudanças podem ser enormes.

A nova solução pode passar por um laboratório, tal como já acontece com algumas soluções de carne, a chamada carne de laboratório. A história é contada pelo Business Insider. Cada vez são mais os cientistas que se dedicam ao fabrico de diamantes sintéticos. Saídos diretamente de um laboratório, é praticamente impossível distingui-los dos extraídos da terra, de acordo com um artigo da Science Alerta. Para decifrar quais é que são os diamantes sintéticos, é preciso maquinaria avançada.

O processo funciona assim: introduz-se uma peça de carbono num micro-ondas, juntamente com metano ou algum outro gás que contenha carbono, e espera-se até que a alta temperatura aqueça a mistura o suficiente até que se criem uma série de partículas, que depois podem chegar a cristalizar em diamantes, ao fim de dez semanas.

“Mais baratos, mais ecológicos e eticamente corretos”

De acordo com os cientistas, citados pelo Business Insider, o mercado de diamantes de laboratório é “seguramente crescente”, uma vez que “oferece uma opção mais barata, mais ecológica e eticamente correta”. Mais correta porque, em teoria, os diamantes do laboratório servirão para acabar com o negócio dos “diamantes de sangue”, extraídos em zonas de conflito e vendidos para financiar guerras em África, muitas vezes recorrendo à escravatura.

Além de baixar os custos de produção, de serem mais ecológicos e “eticamente corretos”, os diamantes do laboratório recolhem cada vez mais adeptos. De acordo com um recente inquérito, menos de metade dos consumidores dos Estados Unidos da América (EUA), com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, preferem um diamante natural a um químico.

Ainda que os diamantes fabricados artificialmente já existam há décadas, ao longo dos últimos anos a tecnologia tem facilitado o processo e criado diamantes cada vez maiores e mais parecidos com os “tradicionais”. Os estudos apontam para que, até 2026, sejam criados 20 milhões de diamantes em laboratório.

Há umas semanas, o The New York Times (acesso condicionado, conteúdo em inglês) publicou uma reportagem sobre a decisão da Swarovski de começar a comercializar joias realizadas com minerais sintéticos. O texto desencadeou uma carta a Jean-Marc Lieberherr, CEO da Associação de Produtores de Diamantes (DPA, na sigla inglesa), a entidade mais importante do setor mineiro. Na opinião do CEO da DPA, “tal como não se pode comparar um quadro original como uma reprodução, não se pode comparar um diamante com uma réplica”. Uma lógica bastante parecida com aquela que os produtores de carne dos EUA defendem, lutam para que a carne saída de laboratórios não seja comercializada como “carne”.

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