Presidente chinês promete abrir mercado mas não refere políticas industriais
O Presidente chinês não respondeu às queixas de Washington e Bruxelas sobre transferência forçada de tecnologia e obstáculos ao investimento externo.
O Presidente chinês prometeu esta segunda-feira abrir a China aos produtos estrangeiros, no arranque de uma feira que promove o país como importador, mas não respondeu às queixas sobre transferência forçada de tecnologia e obstáculos ao investimento externo.
“É o nosso sincero compromisso abrir o mercado chinês”, afirmou Xi Jinping no discurso de abertura da Feira Internacional de Importações da China, perante uma audiência composta por vários chefes de Estado e de Governo, incluindo o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev. Xi prometeu “abraçar o mundo”.
O evento, que decorre em Xangai, faz parte dos esforços do país em promover a sua abertura ao comércio internacional, numa altura em que as potências ocidentais acusam as políticas industriais de Pequim de violar os seus compromissos de abertura do mercado.
Washington e Bruxelas condenam a transferência forçada de tecnologia por empresas estrangeiras, em troca de acesso ao mercado, a atribuição de subsídios a empresas domésticas e obstáculos regulatórios que protegem os grupos chineses da competição externa.
Grupos empresariais queixam-se de que Pequim está a ampliar as suas importações, visando atender à procura dos consumidores e fabricantes domésticos, mas que bloqueia o acesso a vários setores.
Na semana passada, os embaixadores da França e Alemanha em Pequim emitiram um comunicado conjunto a apelar a mudanças, incluindo o fim de regulamentos que forçam as empresas estrangeiras a fazer ‘joint-ventures’ com firmas estatais locais.
A China pratica um capitalismo de Estado, em que os setores importantes da economia são dominados por grupos estatais, enquanto as firmas chinesas compraram, nos últimos anos, empresas e ativos estratégicos em todo o mundo.
Um plano de modernização designado “Madein China 2025” visa transformar as firmas estatais do país em líderes globais em setores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.
Cerca de 3.600 empresas oriundas de 152 países, incluindo de Portugal, de todos os setores, desde tâmaras egípcias a maquinaria, participam no evento de cinco dias em Xangai.
O certame faz também parte de um esforço para desenvolver uma rede comercial centrada na China e aumentar a influência do país num sistema global dominado pelas potências ocidentais.
Xi não referiu as disputas comerciais com os Estados Unidos, em torno das ambições chinesas para o setor tecnológico, mas numa indireta ao líder norte-americano, Donald Trump, afirmou que “o sistema de comércio multilateral deve ser defendido“.
A China reduziu taxas alfandegárias e anunciou outras medidas este ano, visando impulsionar as importações, que aumentaram 15,8%, em 2017, para 1,8 biliões de dólares. Contudo, não endereçou as queixas de Washington, que levaram Trump a impor taxas alfandegárias de até 25% sobre cerca de metade das importações oriundas da China. Pequim retaliou com taxas sobre vários bens norte-americanos.
Na semana passada, dois conhecidos economistas chineses admitiram que o modelo chinês alimenta riscos de um conflito com o Ocidente. “O modelo chinês é para o Ocidente uma anomalia alarmante, e leva à discórdia com a China”, afirmou Zhang Weiying, professor da Universidade de Pequim, num discurso publicado no portal oficial da instituição, e entretanto apagado. “Aos olhos do Ocidente, o modelo chinês é incompatível com o comércio justo e a paz mundial, e não deve avançar triunfante”, observou.
Sheng Hong, diretor executivo da unidade de investigação Unirule Institute of Economics, com sede em Pequim, advertiu também as autoridades chinesas que, ao recuarem na política de Reforma e Abertura, lançada em 1978, e que abriu o país ao mercado livre, aumentam o potencial de conflito com o Ocidente.
“A reforma e abertura da China é a garantia de cooperação estratégica entre a China e os Estados Unidos“, afirmou Sheng, num artigo difundido pelo jornal Financial Times, atribuindo à abertura da economia chinesa “a convergência de valores com o Ocidente”.
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