“Dificilmente haverá um bloco homogéneo de sinal abertamente anti-europeu”, diz Paulo Rangel

Paulo Rangel foi anunciado como cabeça de lista do PSD às europeias. Quer explicações do primeiro-ministro sobre a escolha de Pedro Marques e garante que o objetivo do PSD "é ganhar sempre".

O cabeça de lista do PSD volta a ser, pela terceira vez consecutiva, o eurodeputado Paulo Rangel. Rui Rio anunciou-o esta quinta-feira e, no dia seguinte, concedeu uma mini-entrevista ao ECO, por escrito, publicada originalmente na nova newsletter, o ECO Insider, reservada a subscritores e que é enviada às sextas feiras a partir das 15h30. Questiona o que considera ser a “propaganda” do ministro Pedro Marques em pré-campanha para as europeias e, sobre o populismo, admite o seu crescimento, mas considera que não são uma frente homogénea anti-europeia.

Os movimentos populistas estão a crescer na Europa. Vão ser um ‘Cavalo de Troia’ da União Europeia e, nesse quadro, qual deve ser a prioridade política das instituições europeias, como a Comissão e o Parlamento?

Não há dúvida de que os movimentos populistas estão a crescer na Europa, mas, apesar de serem normalmente amalgamados num só bloco, têm visões muito diferentes. Le Pen ou Salvini são claramente contra a União Europeia (quase que replicando o Brexit). Mas os partidos que estão no Governo na Polónia, na Roménia, na Eslováquia, na República Checa ou na Hungria, de tendência populista, são provenientes de todas as famí­lias polí­ticas (conservadores, socialistas, liberais, PPE). Todos eles excluem liminarmente qualquer saí­da ou dissolução da União.

O mesmo se diga da direita radical de austrí­acos, finlandeses, dinamarqueses ou até de grande parte da AfD alemã. Há também o populismo de esquerda, seja na versão Cinco Estrelas (pouco enquadrável), seja na versão Podemos ou Melenchon. Também aqui há imensas matizes. Não pode esquecer-se que todos eles são muito nacionalistas e isso faz com que o interesse de uns choque fortemente com o interesse dos outros. Este retrato de complexidade serve para mostrar que, mesmo com algum sucesso nas eleições europeias, dificilmente haverá um bloco homogéneo de sinal abertamente anti-europeu, que reúna todos ou quase todos os movimentos populistas.

Claro que esta complexidade mostra bem que a “governabilidade” da União vai ser muito mais difícil, seja para erigir a Comissão, seja para aprovar pacotes legislativos. Comissão e Parlamento só têm um caminho: a pedagogia sistemática sobre as enormes vantagens que as políticas da União trazem aos cidadãos e que estes, hoje em dia, dão por adquiridas. Nesse processo pedagógico, o desenlace do Brexit, que antecederá as eleições europeias, pode ter um papel de enorme relevo. Nunca esquecer que, logo depois do referendo britânico, o cenário de saída em paí­ses que estavam especialmente “eurocépticos” (Holanda, Dinamarca) perdeu grande parte do apoio (e não voltou a ganhá-lo.

O que vai dizer a Pedro Marques no primeiro debate em que o encontrar?

Antes do mais, não há qualquer informação de que seja Pedro Marques o cabeça de lista do PS. Esta falta de esclarecimento, corroborado ontem pelo silêncio tático de António Costa, é preocupante, dado que adensa a suspeição de que terá havido o aproveitamento de um cargo ministerial para engendrar, lançar e promover um candidato. Isto, no período inicial do ano em que se assistiu a uma enorme operação de propaganda ligada aos grandes investimentos.

Mas, seja quem for o candidato, começarei sempre por o questionar sobre a negociação das perspetivas financeiras para 2021-2027. O Governo dá sinais de se contentar com a proposta da Comissão Europeia em que Portugal perde em toda a linha (7%), enquanto países bem mais ricos vêm aumentar as suas dotações (Espanha e Finlândia, 5%; Itália, 6%). Esta é uma proposta inaceitável, que contraria o acordo de regime celebrado entre o PSD e o PS. Mais: não é apenas contrária ao interesse nacional, é contrária ao objetivo de convergência (que o digam países como a Croácia, a Lituânia ou a Polónia, que perdem mais do que Portugal). Que vai fazer o PS e o Governo?

Nas últimas eleições europeias, o PS venceu “por poucochinho” e o líder socialista de então [António José Seguro] perdeu a liderança. Para Rui Rio e a atual liderança do PSD, perder “por poucochinho” pode ser uma vitória?

O objetivo do PSD é sempre ganhar. É melhor que os menos otimistas comecem a contar com isso. (Fim)

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