Vara disse que não falava de Vale do Lobo. Mas falou: “É muito fácil 12 anos depois achar que era um disparate”, diz ex-administrador da Caixa
Armando Vara disse que não falava de Vale do Lobo por ser tema na Operação Marquês. Mas falou. Diz que olha "com dor" para o que se passou com um projeto que o entusiasmou. Talvez em demasia.
Armando Vara chegou ao Parlamento dizendo que não falaria de Vale do Lobo por ser um tema da Operação Marquês, onde é um dos arguidos. Mas falou, ainda que contrariado. Diz que olha “com dor” para o que se passou com um projeto que entusiasmou todos os administradores da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Mas frisa que, se se fizerem as contas entre o deve e o haver, “se concluirá que a Caixa até acabou por recuperar o dinheiro que emprestou”.
“Na pior das hipóteses, a Caixa acabou por receber o que emprestou. Mas continuamos a dizer que houve um buraco de 250 milhões. Ninguém fala disto?”, questionou Armando Vara esta sexta-feira na comissão de inquérito ao banco público.
De acordo com a EY, Vale do Lobo devia à CGD 180 milhões de euros no final de 2015. O projeto do resort turístico no Algarve passou entretanto para o fundo de recuperação imobiliário ECS, liderado por António de Sousa, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos.
Segundo Vara, se a Caixa perdeu dinheiro com Vale do Lobo, terá perdido pouco, mas acredita que terá ficado “ela por ela” graças ao modelo de financiamento do projeto exigido pelo banco: além do empréstimo, o banco público também entrou com 30 milhões de euros (dois milhões de euros de capitais, mais 28 milhões de suprimentos), para ficar com 25% da sociedade Wolfpart — com os outros 75% a ficarem na posse dos promotores, que aplicaram seis milhões de euros.
Mariana Mortágua questionou por que razão a Caixa pagou mais para ficar com uma participação mais reduzida na Wolfpart. Armando Vara explicou que os promotores manifestaram resistência e não queriam abdicar de nenhuma posição no projeto, mas a Caixa forçou e insistiu porque dessa forma ficaria com 25% de um projeto que valeria 300 milhões. Ou seja, o banco estava a pagar 30 milhões por uma posição no projeto a valer 75 milhões, disse o antigo gestor.
Apesar de ter dito que a Caixa não terá perdido dinheiro com Vale do Lobo, Armando Vara lamentou que o projeto “tenha corrido mal”. Até disse que talvez tivesse havido demasiado entusiasmo em torno do empreendimento. Mas “é difícil pensar hoje que, nas mesmas condições, não teria feito mesmo”, disse.
Já num tom mais emocionado, e ressalvando sempre que falava sobre Vale do Lobo de forma contrariada, disse que “era com dor” que olhava “para trás” em relação “ao que aconteceu àquele projeto”, disse. Associou os problemas à grave crise financeira mundial.
Armando Vara também desvalorizou qualquer contradição com o que disse numa anterior audição sobre como o projeto lhe tinha chegado às mãos. Disse que tinha sido a direção de empresas que lhe mostrou o dossiê. Ainda assim, Alexandre Santos, antigo diretor de Empresas Sul, revelou que foi Vara quem lhe entregou um dossiê preparado sobre Vale do Lobo.
“Há uma certa confusão na minha memória sobre o que aconteceu primeiro. Talvez por me ser indiferente. Recebia muita correspondência de todo o tipo. Não há muita memória sobre quem nasceu primeiro: se o ovo ou a galinha“, explicou. Todavia, negou que tenha sido ele a entregar a proposta de crédito.
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