Como um telefonema às 2 da manhã desbloqueou acordo da OPEP
Meses e meses de negociações e, no final, um telefonema às 2 da manhã entre os dois homens mais poderosos do petróleo bastou para resolver o impasse na OPEP. Preços do barril avançam finalmente.
Na véspera da decisiva reunião de 30 de novembro, as probabilidades de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) chegar a um acordo para reduzir a produção de ouro negro eram bastante reduzidas. Mantinha-se o braço de ferro entre os seus membros quanto ao volume que cada um deveria cortar. Ninguém queria ceder. Foi então que entraram em cena dois dos homens mais poderosos na indústria do petróleo. E um telefonema bastou para desbloquear todo o processo que conduz ao primeiro corte na produção em oito anos no seio do cartel.
Nas primeiras horas da manhã do dia 29, à hora de Riade e Moscovo, o ministro da Energia saudita, Khalid Al-Falih, e o seu homólogo russo, Alexander Novak, falaram por telefone. Novak manifestou a disponibilidade para manter o nível de produção ou até cortar, contribuindo com metade do corte de produção que a OPEP estava a negociar com os países fora do cartel, de acordo com os relatos de responsáveis e ministros envolvidos nas negociações, citados pela Bloomberg. Em contrapartida, Al-Falih teria de pressionar a organização a fechar um acordo com uma forte redução da produção.
A palavra de Al-Falih prevaleceu. Eram 17h, hora local, do dia 30 de novembro quando a OPEP anunciou em Viena que o cartel tinha finalmente chegado a acordo. Anunciou uma redução em 1,2 milhões de barris por dia. Por seu lado, a Rússia anunciava que iria reduzir a produção em 600 mil barris juntamente com outros países fora do cartel.
Foi uma questão de segundos até os preços do ouro negro dispararem nos mercados. O Brent avança 14% na semana para 54 dólares por barril. Em Nova Iorque, o crude acumula um ganho de 11%.
“A OPEP manteve-se firme e agora terão de passar à ação mais tarde ou mais cedo se quiserem manter estas valorizações”, referiu John Kilduff, da Again Capital, à Bloomberg. “O mercado está a premiar a OPEP pelo acordo e agora quer ver se há seguimento a esse entendimento. Os cortes não deverão começar antes de janeiro e o manter um compromisso sempre foi um problema dentro do grupo”, acrescentou.
O que espera o mercado?
- Commerzbank: aumentou o preço-alvo do barril dos 48 dólares para 53 dólares no primeiro trimestre de 2017, mas reviu a avaliação em baixa para o resto do ano, dos 55 dólares para 48 dólares, dado que os preços mais altos do crude deverão levar a um aumento de produção nos EUA;
- Citigroup: antecipa um cenário de alta para o preço do ouro negro, embora saliente possibilidade de a OPEP não cumprir o acordo caso os países produtores fora do cartel não cumpram a sua parte;
- Société Generale: não espera mudanças no nível de produção dos países fora da OPEP;
- Wood Mackenzie: aponta para uma subida de 5 dólares do preço médio do barril para os 58 dólares.
Acordo em risco
Aparentemente, o caminho até ser alcançado o acordo pode ter sido fácil. Mas as fontes envolvidas nas negociações dizem que foi precisamente o contrário. Em abril, um acordo entre a OPEP e a Rússia para congelar a produção caiu em saco roto no dia em que deveria ser assinado, depois de a Arábia Saudita ter pedido, de forma inesperada, a inclusão do Irão no entendimento.
Numa nova tentativa diplomática para baixar o nível de ouro negro nos mercados, vários membros da OPEP combinaram através de mensagens no WhatsApp um novo encontro para 28 de setembro, na capital argelina, Argel. Foi aí que desenharam um acordo inicial, deixando de fora os detalhes em relação ao corte individual de cada país — algo para ser resolvido na decisiva reunião de 30 de novembro.
Entre o dia 28 e 30 de novembro, técnicos e missões diplomáticas tentaram chegar a uma base de entendimento. Sem sucesso. As diferenças pareciam irreconciliáveis e um acordo quase impossível, numa altura em que a Arábia Saudita já estava fora das negociações a dizer que os preços do petróleo iriam estabilizar em 2017 “mesmo sem a intervenção da OPEP”.
"A OPEP manteve-se firme e agora terão de passar à ação mais tarde ou mais cedo se quiserem manter estas valorizações. O mercado está a premiar a OPEP pelo acordo e agora quer ver se há seguimento a esse entendimento. Os cortes não deverão começar antes de janeiro e o manter um compromisso sempre foi um problema dentro do grupo.”
Depois de um esforço final liderado pelo ministro da Energia da Argélia, Nourredine Bourtarfa, que tinha viajado a Teerão e a Moscovo nos dias anteriores, uma base de entendimento tomou forma durante o pequeno-almoço antes da reunião de 30 de novembro. O Irão tinha a autorização para aumentar a produção face aos níveis atuais, mas não poderia atingir os objetivos que almejava.
Seguiu-se uma reunião de mais de cinco horas. E quase tudo estava decidido, depois do telefonema na madrugada anterior entre os ministros russo e árabe, não fosse a Indonésia, que tinha reentrado na OPEP na ano passado após uma ausência de sete anos, ter manifestado a sua oposição à última da hora. O cartel pretendia que os indonésios baixassem em 34 mil barris a produção diária, quando a delegação daquele país tinha em mente uma redução de apenas 5.000. Solução de recurso? Pela segunda vez, a permanência da Indonésia na OPEP era suspensa.
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