Investimento recupera. Mas já vem tarde, diz a Frulact
Em 2016 atingiu mínimos de últimos 20 anos, mas está a a recuperar e Centeno prevê um crescimento de 37,1% face à anterior legislatura. Mas o CEO da Frulact antecipa uma fatura pesada no futuro.
Promessa eleitoral, promessa ano após ano, mas os resultados têm sido até agora, no mínimo, ambíguos. Em 2016, o primeiro ano deste Governo, o investimento público caiu para níveis que não se viam há duas décadas. O investimento recuperou, conseguindo chegar a níveis que não se viam desde 1997, mas não foi graças ao investimento público. O que fica para a frente? João Miranda, presidente da Frulact, empresa de preparados de fruta, antecipa que os investimentos que não têm sido feitos “vão obrigar a um esforço tremendo de recuperação destes recursos”.
Tem sido um tema de intenso debate político. Estão as cativações a espremer os serviços públicos? Está o Governo a ignorar as necessidades de investimento do país para em troca apostar na devolução e aumento de rendimentos dos funcionários públicos e pensionistas? Os défices historicamente baixos foram conseguidos à custa do investimento público? São tudo questões colocadas consistentemente pela oposição e alguns setores da economia. A todas estas questões, o Governo garante que não.
O ministro das Finanças tem repetido sucessivamente o número de funcionários contratados para o setor da saúde — médicos, enfermeiros e pessoal de apoio — como um dos melhores exemplos do investimento que o Estado tem feito. Quanto aos restantes investimentos, a resposta tem variado entre o tempo que demora a que estejam refletidos nas estatísticas e os concursos públicos que têm ficado desertos.
O Governo vai chegar ao debate do Estado da Nação ainda com o trunfo de um valor recorde do investimento no primeiro trimestre do ano — embora uma boa parte seja acumulação de inventários e os próximos números possam não ser tão bons no segundo trimestre do ano devido às condições meteorológicas –, mas desse investimento, diz o INE, pouco dele é investimento público.
Mário Centeno discorda e, numa decisão muito pouco habitual, o Ministério das Finanças enviou um comunicado às redações durante a campanha para as europeias a garantir que “a verdade é que o investimento não contribuiu para a consolidação orçamental” e que o investimento público financiado pelo Orçamento do Estado cresceu 37,1% nesta legislatura face à anterior.
João Miranda, presidente da Frulact — uma empresa de preparados à base de fruta e legumes com fábricas em Portugal, França, África do Sul e Canadá –, diz que a estratégia do Governo tem sido apostar nos rendimentos dos funcionários públicos e na consolidação das contas públicas, à conta do investimento. E isso vai ter custos elevados para o futuro.
“Vai ter impactos à frente. Vai ser ser exponencial face a um orçamento normal. O nível de decadência a que chegaram os equipamentos sem a manutenção necessária, acredito que as próximas legislativas vão obrigar a esforço tremendo de recuperação destes recursos. O problema é que se privilegiou aumentar o poder de compra através de dar mais dinheiro aos rendimentos da Função Pública e criaram-se custos recorrentes para os próximos orçamentos que vão hipotecar as contas futuras, que não permitem que seja feito o investimento que se deveria ter feito”, disse.
O empresário diz que nesta altura o país tem “uma necessidade urgente de investimento em tudo o que tem a ver com diversidade áreas fundamentais”, dando o exemplo dos hospitais com equipamentos esgotados e nos quais não se tem investido no desenvolvimento. Mas este não é o único setor. “Se fosse um só setor; mas é a saúde, juntamente com a segurança, as obras públicas e as infraestruturas”.
“O investimento público não pode ser olhado unicamente como um equilíbrio de contas. É como uma empresa mugir a vaca até a vaca morrer. Estamos a mugir a vaca até morrer. Equilíbrios das contas sim, mas não à custa do bom estado dessas infraestruturas”, acrescentou.
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