Like & Dislike: Poliéster e familygate são altamente inflamáveis

No ano passado, os bombeiros queixavam-se de não ter luvas para combater incêndios. Este ano, a Proteção Civil mandou distribuir à população golas de proteção inflamáveis. E o ministro está à nora.

Todos os anos, por esta altura dos incêndios, somos confrontados com notícias mais ou menos caricatas que espelham a nossa incompetência coletiva em lidar de forma competente com os fogos, seja no combate, seja na prevenção.

No ano passado, pouco antes do arranque da época dos incêndios, o comandante dos GIPS (Grupos de Intervenção de Proteção e Socorro) enviou um email ao Governo onde se queixava da falta de equipamentos para combater os fogos: “não temos Equipamento de Proteção Individual — capacete, cogula, luvas, farda, etc. –, nem viaturas para os transportar”.

O comandante alertava ainda para a falta de luvas, dizendo que a corporação estava à procura de “soluções imaginativas para solucionar este problema”. Como se isso não fosse suficiente, chamava à atenção para a falta de rádios, telemóveis, computadores, impressoras e até de fardas porque naquela altura em Portugal não havia tecido anti-inflamável suficiente para as produzir.

Este ano, em plena época dos incêndios, somos novamente confrontados com uma notícia caricata, avançada pelo Jornal de Notícias e pelo Observador. Contam os jornais que a Proteção Civil distribuiu às populações mais de 70 mil golas de proteção de fumo para o rosto e pescoço que são inflamáveis e podem constituir perigo caso sejam utilizadas num cenário de incêndios.

As golas — que deviam servir de máscara de proteção num contexto de fogo — são compostas 100% por poliéster (material inflamável) e estão a ser distribuídas desde o verão de 2018 em várias aldeias no âmbito dos programas ‘Aldeia Segura’ e ‘Pessoas Seguras’. A empresa que fabricou as ditas golas diz que a Proteção Civil comprou um “kit de sobrevivência” low cost.

A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) não aceitou pagar mais e alegou que as golas eram distribuídas numa lógica de “merchandising” e “propaganda” e não propriamente para proteção das populações contra os incêndios. O problema é que ninguém avisou as populações e, conta-nos a Renascença, o próprio Ministério da Administração Interna chamou-lhes “kits de autoproteção e golas de proteção de fumo”.

A Liga dos Bombeiros exige um “inquérito rigoroso” e um pedido de desculpas. Revela “tremenda negligência e irresponsabilidade”, disse Jaime Marta Soares à Lusa. “Quando se faz um kit para prevenção e defesa das populações (…) e se entrega um equipamento que pode levar à morte isso é profundamente criticável e inaceitável”, frisou.

Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra, já disse que vai “recolher de imediato todos os componentes inflamáveis” do kit entregues em 12 aldeias do Concelho, garantindo que os materiais recolhidos serão substituídos por “equipamento que garanta a segurança dos voluntários”.

Já Eduardo Cabrita está de cabeça perdida. Nem inquérito rigoroso, nem pedido de desculpas, nem substituição dos kits. Passou a semana toda num jogo de passa a culpa com o presidente da câmara de Mação por causa dos incêndios. Agora, perante este escândalo das golas inflamáveis, o melhor que conseguiu dizer foi que o microfone do jornalista que lhe fez a pergunta sobre as golas também era inflamável (????) e que a notícia do Jornal de Notícias e do Observador era “irresponsável e alarmista”.

Quando confrontado pelos jornalistas sobre o facto de as golas serem feitas com material inflamável, o ministro atirou: “não me vai pedir para falar das boinas da GNR”. (????)

Como se esta desorientação do ministro não fosse triste o suficiente, conta-nos a revista Sábado que a empresa que fabricou as golas inflamáveis é detida por Ricardo Peixoto Fernandes, casado com Isilda Silva, socialista e presidente de junta em Guimarães.

Esta empresa foi constituída poucos meses antes da assinatura dos contratos e vendeu ao Governo 328,356 mil euros em golas e kits para a ANPC. A revista recorda que Carlos Mourato, presidente da ANPC, esteve envolvido numa polémica recente porque a filha tinha sido nomeada para o gabinete da secretária de Estado Adjunta do ministro Eduardo Cabrita.

Eduardo Cabrita, que nomeou Carlos Mourato para dirigente máximo da ANPC, claro está, não viu nenhum mal na nomeação da filha de Mourato para o seu ministério. Eduarda Cabrita que se senta ao lado da mulher no conselho de ministros de um Governo onde já foram identificados mais de 40 relações familiares.

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