Setor do turismo admite abrandamento do crescimento. Tendência pode manter-se nos próximos dois ou três anos
O setor do turismo admite que o ritmo de crescimento está a abrandar, tendência que poderá manter-se nos próximos dois ou três anos. Contudo, diz ser "consolidação" do bom desempenho.
A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) e a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) consideram o abrandamento do crescimento turístico expectável, sendo a consolidação do alto desempenho dos últimos anos, mas lembram que há desafios a trabalhar.
A 15 de julho, dados do Instituto Nacional de Estatística até maio deste ano voltaram a comprovar que o número de turistas em Portugal continua a crescer, mas a um ritmo mais moderado. Confrontados pela Lusa, tanto o presidente da CTP, Francisco Calheiros, como o da APAVT, Pedro Costa Ferreira, desvalorizaram haver motivo de preocupação, realçando o trabalho que o setor e o futuro Governo têm que fazer para atingir novos picos de crescimento.
“Nos últimos quatro anos, até 2017, atingiram-se crescimentos que ninguém estava à espera. Cresceu-se cerca de 50%. Isto é insustentável, não é possível crescer mais. E foi o que aconteceu em 2018, um ano mais ou menos estável, e em 2019 estamos a assistir a um crescimento muito mais moderado“, disse o presidente da CTP.
Com níveis de crescimento daqueles “tudo entope, a começar no aeroporto [de Lisboa]” e lembrou que o setor, “neste momento, “precisa de dezenas de milhares de pessoas que não tem”. “Portugal está a consolidar o crescimento dos últimos anos”, acrescentou.
Sobre se está preocupado com este abrandamento, Francisco Calheiros refere: “Está tudo na paz de Deus. Não é uma questão de ser previsível ou não, é uma consequência normal. Tivemos um crescimento muito grande. 2018 foi de consolidação, aumentaram as receitas, não aumentaram as dormidas, mas os últimos números mostram um crescimento nas dormidas e nas receitas“.
Ainda assim, o responsável admite “alguns receios” em relação ao verão, nomeadamente em algumas regiões como o Algarve, para onde voam menos companhias e existe a questão do impacto do Brexit. “Não prevemos que vamos ter um mau ano de 2019. Estamos a falar de abrandamento do crescimento. De menor crescimento, o que é perfeitamente normal”, reforça Francisco Calheiros.
Até porque, sustenta, o crescimento dos últimos anos não foi porque Portugal está na moda, mas é sim uma tendência que “é estrutural”. “Fez-se muita coisa boa em Portugal e está-se a colher os frutos. É evidente que existem problemas grandes, como o do aeroporto, ou a questão do SEF e, portanto, são esses novos desafios que temos de combater”.
Também sem encarar o abrandamento turístico como drama, mas convencido que é “um fim de ciclo”, está o presidente da APAVT. Pedro Costa Ferreira constata que é um facto que existem “várias taxas de crescimento que são substancialmente inferiores às taxas de crescimento que acompanharam o ciclo [anterior]”. “Tal como eu já tinha dito há um ano, o fim do ciclo não é nenhuma catástrofe e, se o final de ciclo for apenas o abrandamento das taxas de crescimento, significa que estamos a consolidar os passos anteriores e a preparar-nos bem para um próximo ciclo de crescimento“, refere.
“Não são apenas taxas de crescimento mais baixas de um modo geral [que o comprovam], como também houve problemas específicos de procura no Algarve e na Madeira. Portanto, nos nossos destinos mais ligados a férias de verão e de resort, vamos dizer assim, sobretudo no Algarve, e isso é também ele próprio definidor de fim de ciclo”.
Mas o presidente da APAVT considera que não é preocupante, mas “expectável e natural. “Preocupante é se não soubermos tratar dos desafios tremendos que temos pela frente — e temos sempre –, de maneira a que em cima desta consolidação possamos voltar a crescer. Toda a atividade tem que ter um crescimento contínuo, mais agressivo ou menos agressivo“, refere Pedro Costa Ferreira.
Questionado como estima o ano de 2020, refere acreditar que será novamente um ano de consolidação, de abrandamento do crescimento turístico, até porque “há uma fase de adaptação às novas realidades”.
“É natural que este abrandamento possa verificar-se nos próximos dois ou três anos e não vem mal ao mundo por isso. Assim nós saibamos é resolver os problemas dos recursos humanos, dos aeroportos [Lisboa, Madeira, Açores…] e da qualidade de serviços de algumas atividades turísticas, nomeadamente dentro dos nossos hotéis, e nomeadamente a dos cinco estrelas. Se tivermos a aproveitar esta quebra de fim de ciclo para resolver esses problemas, significa que teremos outro ciclo virtuoso” a seguir, conclui o presidente da APAVT.
Refira-se que no acumulado até maio, o aumento das dormidas registou-se em todas as regiões com exceção da Madeira (que baixou 3,8%). O Alentejo e o Norte destacaram-se com crescimentos de 10,5% e 9,9%, respetivamente.
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