Setor do turismo admite abrandamento do crescimento. Tendência pode manter-se nos próximos dois ou três anos

  • Lusa
  • 28 Julho 2019

O setor do turismo admite que o ritmo de crescimento está a abrandar, tendência que poderá manter-se nos próximos dois ou três anos. Contudo, diz ser "consolidação" do bom desempenho.

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) e a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) consideram o abrandamento do crescimento turístico expectável, sendo a consolidação do alto desempenho dos últimos anos, mas lembram que há desafios a trabalhar.

A 15 de julho, dados do Instituto Nacional de Estatística até maio deste ano voltaram a comprovar que o número de turistas em Portugal continua a crescer, mas a um ritmo mais moderado. Confrontados pela Lusa, tanto o presidente da CTP, Francisco Calheiros, como o da APAVT, Pedro Costa Ferreira, desvalorizaram haver motivo de preocupação, realçando o trabalho que o setor e o futuro Governo têm que fazer para atingir novos picos de crescimento.

“Nos últimos quatro anos, até 2017, atingiram-se crescimentos que ninguém estava à espera. Cresceu-se cerca de 50%. Isto é insustentável, não é possível crescer mais. E foi o que aconteceu em 2018, um ano mais ou menos estável, e em 2019 estamos a assistir a um crescimento muito mais moderado“, disse o presidente da CTP.

Com níveis de crescimento daqueles “tudo entope, a começar no aeroporto [de Lisboa]” e lembrou que o setor, “neste momento, “precisa de dezenas de milhares de pessoas que não tem”. “Portugal está a consolidar o crescimento dos últimos anos”, acrescentou.

Sobre se está preocupado com este abrandamento, Francisco Calheiros refere: “Está tudo na paz de Deus. Não é uma questão de ser previsível ou não, é uma consequência normal. Tivemos um crescimento muito grande. 2018 foi de consolidação, aumentaram as receitas, não aumentaram as dormidas, mas os últimos números mostram um crescimento nas dormidas e nas receitas“.

Ainda assim, o responsável admite “alguns receios” em relação ao verão, nomeadamente em algumas regiões como o Algarve, para onde voam menos companhias e existe a questão do impacto do Brexit. “Não prevemos que vamos ter um mau ano de 2019. Estamos a falar de abrandamento do crescimento. De menor crescimento, o que é perfeitamente normal”, reforça Francisco Calheiros.

Até porque, sustenta, o crescimento dos últimos anos não foi porque Portugal está na moda, mas é sim uma tendência que “é estrutural”. “Fez-se muita coisa boa em Portugal e está-se a colher os frutos. É evidente que existem problemas grandes, como o do aeroporto, ou a questão do SEF e, portanto, são esses novos desafios que temos de combater”.

Também sem encarar o abrandamento turístico como drama, mas convencido que é “um fim de ciclo”, está o presidente da APAVT. Pedro Costa Ferreira constata que é um facto que existem “várias taxas de crescimento que são substancialmente inferiores às taxas de crescimento que acompanharam o ciclo [anterior]”. “Tal como eu já tinha dito há um ano, o fim do ciclo não é nenhuma catástrofe e, se o final de ciclo for apenas o abrandamento das taxas de crescimento, significa que estamos a consolidar os passos anteriores e a preparar-nos bem para um próximo ciclo de crescimento“, refere.

Não são apenas taxas de crescimento mais baixas de um modo geral [que o comprovam], como também houve problemas específicos de procura no Algarve e na Madeira. Portanto, nos nossos destinos mais ligados a férias de verão e de resort, vamos dizer assim, sobretudo no Algarve, e isso é também ele próprio definidor de fim de ciclo”.

Mas o presidente da APAVT considera que não é preocupante, mas “expectável e natural. “Preocupante é se não soubermos tratar dos desafios tremendos que temos pela frente — e temos sempre –, de maneira a que em cima desta consolidação possamos voltar a crescer. Toda a atividade tem que ter um crescimento contínuo, mais agressivo ou menos agressivo“, refere Pedro Costa Ferreira.

Questionado como estima o ano de 2020, refere acreditar que será novamente um ano de consolidação, de abrandamento do crescimento turístico, até porque “há uma fase de adaptação às novas realidades”.

É natural que este abrandamento possa verificar-se nos próximos dois ou três anos e não vem mal ao mundo por isso. Assim nós saibamos é resolver os problemas dos recursos humanos, dos aeroportos [Lisboa, Madeira, Açores…] e da qualidade de serviços de algumas atividades turísticas, nomeadamente dentro dos nossos hotéis, e nomeadamente a dos cinco estrelas. Se tivermos a aproveitar esta quebra de fim de ciclo para resolver esses problemas, significa que teremos outro ciclo virtuoso” a seguir, conclui o presidente da APAVT.

Refira-se que no acumulado até maio, o aumento das dormidas registou-se em todas as regiões com exceção da Madeira (que baixou 3,8%). O Alentejo e o Norte destacaram-se com crescimentos de 10,5% e 9,9%, respetivamente.

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