Pedro Nuno Santos apela para sindicatos voltarem à negociação, mas promete: governo não hesitará na requisição civil
Governo apela a sindicatos para retomar diálogo, mas sublinha: Executivo não vai hesitar na requisição civil. Antram lembra que motoristas dos sindicatos independentes não vão ter aumentos em 2020.
Na sequência da reunião desta terça-feira entre o Governo, a Fectrans e a Antram, Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas, mostrou-se esperançoso que até dia 12 a greve dos motoristas de matérias perigosas ainda possa ser cancelada. O governante realçou os ganhos da negociação entre a federação de sindicatos e a Antram e apelou aos dois sindicatos independentes, responsáveis pelo aviso prévio de greve, que abdiquem da paralisação e voltem às negociações. Caso não voltem, assegurou, o Executivo não hesitará em responder à altura.
“Os serviços mínimos serão decretados pelos ministérios já que as partes não chegam a acordo dentro dos prazos. Esse trabalho está feito e os serviços mínimos tentarão acautelar as questões mais fundamentais. Embora não anulem a greve, teremos serviços mínimos e faremos tudo para que sejam cumpridos, não haverá muita hesitação, caso não sejam, para que se aprove uma requisição civil“, avançou o ministro. “Temos tudo programado para estar a à altura das dificuldades que uma greve como esta representa.”
Mas o foco do governante está ainda virado para evitar a greve, conforme explicou esta tarde aos jornalistas, à saída da reunião com a Antram e a Fectrans. Pedro Nuno Santos lembrou que a Fectrans não é conhecida “por fazer fretes a Governos ou empregadores” e que os avanços que estão a ser conseguidos entre esta federação e a associação de empresas devia ser olhada pelos dois sindicatos independentes. “Se temos a Fectrans a conseguir resultados, não percebemos porque os outros não possam também conseguir.”
O responsável abordou de seguida a proposta apresentada na segunda-feira aos sindicatos de motoristas de matérias perigosas e independente que, apesar de toda a retórica destas duas estruturas, assegurou, se mantém disponível para ser ativado até ao dia da greve.
“Há dois [sindicatos] que mantêm o pré-aviso de greve e sugerimos o recurso a um mecanismo legal previsto no Código do Trabalho que permitiria explorar todas as hipóteses de diálogo. Sobre este ponto só digo que até 12 de agosto, os dois sindicados ainda podem recorrer a este mecanismo e continuar a explorar a via do diálogo”, salientou Pedro Nuno Santos. E apontou então para o caminho que vem sendo trilhado entre Antram e Fectrans para os restantes motoristas de mercadorias algo que, diz, prova que não é preciso estar sempre a ameaçar com greves para obter ganhos.
“Fica provado que é possível, com diálogo e negociação, conseguir-se resultados e vitórias sem ter que se recorrer sistematicamente à greve”, destacou o ministro. Que insistiu na ideia: “Há uma forma de fazer sindicalismo que passa pela negociação, pelo diálogo aberto entre as partes, que permite que os trabalhadores tenham vitórias. Se podemos dizer que há aumentos de 10% a 18% em 2020 é só porque a Fectrans se mostrou disponível para continuar a trabalhar e negociar, isto além de outras matérias em que já há acordo, como a questão das cargas e descargas”, apontou.
Sobre a posição já assumida pelo sindicato das matérias perigosas, de que não aceitará a proposta de mediação ontem colocada em cima da mesa pelo Governo, Pedro Nuno Santos referiu apenas que essa é uma hipótese que continuará em cima da mesa até dia 12 de agosto. Mas depois olhou para o cenário que parece atualmente inevitável, a greve avança. “Se não for desconvocada, o Governo está preparado para minorar os impactos negativos de uma greve como esta”, assegurou.
Antram: “Sindicatos enganam os trabalhadores. Assim não vão ter aumentos em 2020”
Do lado da Antram, André Matias de Almeida voltou a lamentar a postura dos sindicatos independentes em todo o processo negocial dos últimos meses. “Lamentamos que o sindicato não tenha dito que o que apresentou ao Governo, e que hoje nos seria transmitido, não tem uma única cedência. Voltamos a falar precisamente das mesmas coisas”, disse, à saída do encontro. Segundo explicou, as propostas entregues pelos sindicatos na reunião de ontem com o Ministério não são mais do que as exigências originais.
“Não há uma única cedência, voltam a falar de 100 euros em 2021 e em 2022. Já chega desta tentativa de lavar a cara e de dizerem que querem ceder e negociar, estão a enganar os seus trabalhadores. O acordo que sai daqui hoje, com a Fectrans, não beneficiará os associados destes dois sindicatos”, sublinhou Matias de Almeida. “Falamos de mais de 250 euros de aumento para 2020 que os trabalhadores do sindicato das matérias perigosas não vão ter.” O responsável da Antram foi mesmo mais longe e questionou se os motoristas destes sindicatos estarão a ser bem informados pelos próprios.
“Estes motoristas não vão ter nenhuma portaria de extensão”, detalhou. O acordo “só se aplicará aos trabalhadores filiados na Fectrans e é por isso que não compreendemos se os trabalhadores deste sindicato, que eventualmente formam hoje a sua decisão de aderir ou não à greve, se não estão em erro quando os representantes lhes dizem que vão ter aumentos em 2020. É falso. Não vai ocorrer devido a esta postura negocial”, apontou Matias de Almeida.
O representante da Antram criticou ainda o facto de o SNMMP ter optado por divulgar enquanto decorria a reunião entre Governo, Antram e Fectrans a sua recusa em participar no mecanismo de mediação proposto pelo Executivo na segunda-feira, uma recusa que, diz, “mostra que não têm qualquer vontade de negociar”.
Fectrans, Antram e Governo criam Grupo de Trabalho
Sobre os avanços obtidos na reunião de esta terça-feira, a Antram não teve grandes dúvidas em rotulá-los de históricos. “Será porventura a reunião mais importante em toda a história do setor. Em 90 dias teremos um conjunto de medidas para melhorar a vida de trabalhadores“, apontou André Almeida. O responsável referia-se ao acordo entre as partes para a criação de um grupo de trabalho para melhor regulamentar o trabalho de motorista de mercadorias — cujo desenho será finalizado nas próximas 48 horas.
Graças à abertura negocial da Fectrans, da Antram e do Governo, explicou, este Grupo de Trabalho irá resultar “e num prazo curto” numa melhoria das regras a gerir as cargas e descargas, que não são obrigação do motoristas, mas também ao nível das horas suplementares e dos tempos de espera dos motoristas, um grupo de trabalho que contará não apenas com trabalhadores e empresas do setor, mas também dos maiores contratantes deste tipo de serviços, como as empresas de distribuição, explicou.
Também José Manuel Oliveira, da Fectrans, se mostrou otimista com o andamento das negociações entre Antram e motoristas. “Mesmo que não negociássemos mais matérias, já temos garantido aumentos de 10% a 18% para 2020 e para as diversas categorias de motoristas”, explicou à saída da reunião.
“Há um pressuposto de negociação que passa pelo aumento da retribuição base para 700 euros, ou seja, 120 a 140 euros por trabalhador, mais o subsídio de operações de 125 euros, que ainda discutimos da sua abrangência, mas há matérias onde ainda é preciso fechar alguns detalhes”, explicou ainda.
A Fectrans e a Antram prosseguem negociações na próxima quinta-feira.
(Notícia atualizada pela última vez às 15h44)
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