Patrões acusam motoristas de “irresponsabilidade” por recusarem cumprir serviços mínimos e requisição civil
Ao terceiro dia, a luta dos motoristas sobe de tom. Recusam cumprir serviços mínimos e requisição civil. Antram acusa os trabalhadores de irresponsabilidade. Governo apela às negociações.
Ao terceiro dia de greve, os ânimos voltam a subir de tom. O Governo revelou que houve 14 incumprimentos da requisição civil e que 11 motoristas já tinham recebido uma notificação por isso. Numa resposta de solidariedade, os motoristas de matérias perigosas recusam-se a trabalhar e deixam de cumprir serviços mínimos.
“O que eles disseram é que se vai um motorista ser preso, então o senhor ministro tem de trazer grandes autocarros para trazer os motoristas dos país. O senhor ministro diz que há onze pessoas que vão ser detidas e há três que andam foragidas. Não aceitamos. Em solidariedade com os colegas ninguém vai sair daqui hoje, nem cumprir serviços mínimos, nem requisição civil. Não vão fazer absolutamente nada”, disse Pedro Pardal Henriques em declarações transmitidas pelas televisões esta manhã.
Em solidariedade com os colegas ninguém vai sair daqui hoje, nem cumprir serviços mínimos, nem requisição civil. Não vão fazer absolutamente nada.
O porta-voz do Sindicato de Motoristas de Matérias recordou que o lema é “um por todos e todos por um” por isso, os 800 motoristas estão dispostos a ser detidos. “Se é para ir preso um vão todos”, acrescentou Pardal Henriques, numa referência às notificações enviadas aos motoristas que não cumpriram a requisição civil. Só depois desta primeira notificação se seguirá uma segunda com a sanção. Pardal Henriques esclarece que ninguém está foragido e que aqueles que não foram notificados estavam no piquete da greve.
Em Matosinhos também houve uma mudança de postura dos trabalhadores. O responsável sindical conta à RTP3 que estão a “abordar os colegas para não cumprirem os serviços mínimos” porque “há colegas a serem ameaçados de prisão e processos”. “É tempo de parar e acabar com esta brincadeira. Não vamos fazer serviços mínimos hoje“, disse Manuel Mendes explicando ainda que os camiões não estão a abastecer na refinaria da Galp em Matosinhos. “O nosso Governo tem de nos ouvir, ver que temos razão e fazer algo. E pedimos desculpa aos portugueses, mas estamos a lutar pelos nossos direitos”, disse Manuel Mendes, um dos coordenadores do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas.
Este escalar surge num momento em que o Governo voltou a colocar sobre a mesa a carta negocial. Durante o dia de terça-feira houve ao longo do dia conversas de bastidores com os intervenientes, para se tentar chegar a um acordo, escreve o Público (acesso condicionado).
No terreno os camionistas tentam uma posição de “tudo ou nada”, porque estão “cansados, não desgastados” desta greve. Na refinaria de Leça da Palmeira, José Rego, coordenador do SNMMP, em declarações à SIC Notícias, sublinha que “esta é uma luta que já devia ter sido feita há muitos anos” e que é “precisa”, dando o exemplo de um colega da transportadora Paulo Duarte que esteve de baixa e recebeu apenas 390 euros, porque o salário base dos motoristas é de apenas 630 euros. Com um piquete de greve com cerca de 50 motoristas, já persuadiram 30 colegas a não abastecer os camiões.
Antram acusa motoristas de “irresponsabilidade”
A resposta da Antram ao endurecimento da posição dos motoristas não se fez esperar. Os padrões consideram esta recusa de cumprimento dos serviços mínimos e da requisição civil uma “irresponsabilidade”.
“É uma irresponsabilidade recusar uma requisição civil. Falamos de hospitais que estarão em causa a partir de hoje. O Governo não poderá, perante estas declarações, deixar de utilizar a requisição civil total, que não tem utilizado”, disse à TSF André Matias de Almeida, porta-voz da Antram.
“Gostávamos que houvesse também uma sensibilização por parte de quem conhece a lei destes sindicatos para lhes explicar exatamente o que é que vai acontecer por parte do Ministério Público caso incumpram a requisição civil”, acrescentou ainda André Matias de Almeida, que já tinha pedido que Pardal Henriques fosse afastado das negociações para que o dossier pudesse avançar. No entanto, em declarações ao jornal i que recusa sair. “Não vou sair de maneira nenhuma”, disse.
“É importante perceber que os sindicatos não podem reclamar, por um lado, a aplicação da lei naquilo que querem e, depois, não cumprir a lei naquilo que não lhes dá jeito. Isto é inaceitável”, frisou André Matias de Almeida, garantindo que está a negociar de boa-fé com a CGTP.
Vieira da Silva desafia partes em conflito a negociar
O ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social desafiou os motoristas em greve e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) a voltarem à mesa de negociações. Em entrevista à SIC Notícias, na terça-feira à noite, o responsável da pasta do Trabalho disse que “chegou o momento de as partes, provavelmente até teria sido melhor que tivesse chegado mais cedo, assumirem a responsabilidade por encontrar uma alternativa a este conflito e a alternativa tem que ser a negociação”.
Chegou o momento de as partes assumirem a responsabilidade por encontrar uma alternativa a este conflito e a alternativa tem que ser a negociação.
“Aquilo que hoje já podemos verificar é que esta greve tem efeitos prejudiciais, não apenas para os setores em causa, que essa é a função da greve e a greve é um direito constitucional incontestável, mas está a produzir efeitos negativos em zonas críticas da nossa economia e da nossa sociedade”, sublinhou Vieira da Silva.
O ministro garante que o Governo tem mostrado “uma enorme contenção”, definiu serviços mínimos e não avançou com uma requisição civil preventiva. “Não o fez, esperou para ver se as partes se entendiam”, sublinhou, acrescentando que “só avançou para a requisição civil quando identificou zonas onde [os serviços mínimos] não estavam ser cumpridos”.
(Notícia em atualização)
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