Economia portuguesa está fora de perigo? Nem por isso, diz o Commerzbank

  • Rita Atalaia
  • 7 Dezembro 2016

Reconhece os progressos feitos por Portugal, mas não descarta a hipótese de uma crise. O Commerzbank não acredita que a economia já esteja fora de perigo e relembra os problemas por resolver na banca.

O terceiro trimestre assistiu a um crescimento forte de Portugal. Mas isto quer dizer que a economia está fora de perigo? Nem por isso, diz o Commerzbank. O banco aplaude os progressos feitos pelo país, mas acredita que continua a ser um dos candidatos à crise na zona euro. Porquê? O banco acredita que o problema reside na trajetória adotada pelo novo Governo e nos problemas por resolver na banca.

O Commerzbank começa por elogiar o desempenho de Portugal no terceiro trimestre, dizendo que as notícias sobre o crescimento foram “surpreendentemente boas”. O banco diz numa nota de research que “o crescimento no terceiro trimestre cresceu 0,8% face ao segundo trimestre, o melhor resultado entre todos os países da zona euro para este período. Para além disso parece haver uma boa hipótese de o alvo para o défice de 2,2% do PIB, que foi definido junto da Comissão Europeia esta primavera, ser alcançado”, algo que o Commerzbank duvidava que acontecesse.

Exportações sobem mas investimento estagna

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Fonte: Global Insight, Commerzbank Research

 

Mas isto não quer dizer que o país esteja fora de perigo. “Apesar do crescimento económico forte no terceiro trimestre e a possibilidade de o alvo para o défice de 2016 ser alcançado, Portugal continua a ser um dos candidatos à crise na zona euro“, salienta o Commerzbank. O banco refere que o crescimento tem-se baseado totalmente na procura externa e que uma recuperação doméstica não está à vista. Por isso, o crescimento forte do PIB no terceiro trimestre não representa o início de um longo período de expansão forte. “Este sucesso não se deve repetir.”

O banco também levanta dúvidas sobre a trajetória do atual Governo. “A trajetória adotada pelo novo Governo significa, à primeira vista, custos mais elevados para o setor empresarial“. Por exemplo, o Commerzbank relembra os quatro feriados que foram repostos e o aumento do salário mínimo. “Neste cenário, o investimento não deve recuperar de forma significativa ao longo dos próximos trimestres”, conclui.

Banca ainda é um problema

Os problemas no setor bancário continuam à espera de ser resolvidos. A Caixa Geral de Depósitos está novamente na mira por maus motivos. O Commerzbank refere que o aumento de capital de perto de 4,6 mil milhões de euros que é “urgentemente necessário para a CGD” foi adiado até ao primeiro trimestre do próximo ano. O plano passa pela injeção de 2,7 mil milhões de euros por parte do Estado, mas a colocação de “obrigações subordinadas junto de investidores privados, na ordem dos mil milhões de euros, pode acabar por ser um obstáculo” a este processo.

Sobre o Novo Banco, o Commerzbank diz que a privatização do banco que restou do falido Banco Espírito Santo ainda está pendente, o que pode vir a penalizar as finanças do Governo e de outros bancos portugueses.

Obrigações portuguesas estão em risco

O crescimento moderado, a dívida do Governo logo abaixo dos 130% do PIB — e que não deve descer muito no próximo ano — e os problemas no setor bancário são fatores de risco para as obrigações soberanas portuguesas. O Commerzbank defende que as obrigações soberanas podem ser o ativo mais pressionado.

“Tornar-se-á cada vez mais claro ao longo do próximo ano que o Banco Central Europeu está a alcançar os limites do seu programa de compra de dívida“. Por isso, o banco acredita que o banco central terá de reduzir estas compras, relembrando que o BCE já admitiu estar a comprar menos dívida portuguesa. Na quinta-feira, o BCE termina uma reunião de dois dias e pode vir a dar mais pistas sobre os próximos passos do seu programa de compra de obrigações.

Nota: A informação apresentada tem por base a nota emitida pelo banco de investimento, não constituindo uma qualquer recomendação por parte do ECO. Para efeitos de decisão de investimento, o leitor deve procurar junto do banco de investimento a nota na íntegra e consultar o seu intermediário financeiro.

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