Juros baixos não são novos. Bancos deviam ter “diversificado os seus serviços”
Baixas taxas de juro já são uma realidade na Europa “há 10 anos”. Muitos bancos adaptaram-se. Os bancos portugueses deviam ter diversificado o negócio, diz o presidente da EBF.
A Federação Europeia de Bancos nota que as baixas taxas de juro já são uma realidade na Europa “há 10 anos”, pelo que as instituições bancárias, incluindo as portuguesas, já deviam ter “diversificado os seus serviços”.
“Este não é o primeiro ano em que estamos a viver com taxas de juro baixas, já existem há 10 anos. Por isso, muitos bancos já diversificaram os seus serviços”, afirmou o presidente executivo da Federação Europeia de Bancos (EBF, sigla em inglês), Wim Mijs.
Em entrevista à Lusa, em Bruxelas, o responsável comentou as recentes preocupações manifestadas pelos bancos portugueses sobre a manutenção de reduzidas taxas de juro, referindo que “se o modelo de negócio [dos bancos] só se baseia nisso, então sim, terão problemas porque não diversificaram os seus serviços”.
As baixas taxas de juro têm vindo a ser referidas como uma preocupação para o setor bancário, nomeadamente em Portugal, uma vez que penalizam a margem financeira.
Esta inquietação tem aumentado de tom perante a possibilidade de um prolongamento dos níveis baixos, que contraria as anteriores expectativas de que iriam aumentar ligeiramente.
“Percebemos o porquê de ter havido esta estimulação – no passado funcionou bem para países como Portugal, Grécia e Itália –, mas o problema é que [o mercado] fica viciado em taxas de juro baixas”, acrescentou Wim Mijs.
Ainda assim, o responsável notou que a EBF acompanha “a preocupação dos bancos portugueses”, por não ser apenas relacionada com as baixas taxas de juro, mas antes de um “nível macroeconómico”, por problemas como a desaceleração da economia.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve recentemente as taxas de juro diretoras – taxa de juro aplicada às principais operações de refinanciamento em 0%, taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez em 0,25% e taxa de facilidade permanente de depósito em -0,40% – e deu a indicação de que poderá voltar a reduzir.
“O nosso banco central está a regular com base nos seus instrumentos, mas se este agora é um obstáculo económico e se existe uma nova e séria desaceleração, o banco central poderia usar” outra das suas “muitas ferramentas”, adiantou Wim Mijs.
Na entrevista à Lusa, o presidente da EBF aludiu também aos desafios do novo executivo comunitário, que entra em funções em novembro, liderado por Ursula von der Leyen.
Como principal reivindicação do setor bancário, Wim Mijs pediu a concretização da União dos Mercados de Capitais, pensada para tornar o sistema financeiro da UE mais estável e para reduzir os custos da captação de verbas.
“É simples: se dizemos aos bancos que têm de ter capital para [enfrentar] as mudanças, é frustrante que os maiores bancos europeus tenham de ir ao mercado de capitais norte-americano para conseguir as verbas que necessitam. Por isso, por favor, criem uma União dos Mercados de Capitais”, concluiu.
A EBF agrega 32 associações bancárias nacionais na Europa – entre as quais a Associação Portuguesa de Bancos – que, ao todo, representam cerca de 3.500 bancos europeus, num total de quase dois milhões de funcionários.
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