Não há Haitong, mas há research “suficiente” em Lisboa, diz Isabel Ucha
A presidente da bolsa de Lisboa vê a decisão do Haitong de deixar de acompanhar cotadas portuguesas como uma má notícia, mas considera que os 44 bancos de investimento que o fazem são suficientes.
O fim da análise de research do Haitong sobre as empresas portuguesas não é positivo, mas também não é dramático para a presidente da bolsa de Lisboa. Isabel Ucha considera que o número de analistas a cobrirem as cotadas nacionais e a dimensão dos bancos de investimento que o fazem é “suficiente”.
“O nível de cobertura que a maior parte das empresas cotadas tem é suficiente, adequado e até, comparativamente, bastante interessante quer em número de casas que fazem research quer em termos de dimensão global dessas casas. Há muitos bancos de investimento de natureza global que cobrem as empresas portuguesas”, disse Ucha, ao ECO.
O Haitong — antigo Banco Espírito Santo Investimento (BESI) — anunciou esta segunda-feira aos clientes que deixou de fazer análise financeira de ações portuguesas e espanholas. A decisão, motivada principalmente por um realinhamento do modelo de negócio, limitou ainda mais o número de analistas financeiros que cobrem títulos da bolsa de Lisboa.
“Haver menos intermediários financeiros a fazer cobertura de research de empresas portuguesas é sempre algo que não podemos ver como positivo, mas as empresas cotadas portuguesas continuam a ter um nível de cobertura de research muito interessante”, acredita a presidente da Euronext Lisbon sobre o caso do Haitong.
Todas as empresas do PSI-20 têm cobertura de análise e cinco cotadas do PSI Geral também. Ainda assim, apenas sete cotadas do índice de referência têm mais de dez analistas. “Comparativamente com outros mercados e para empresas de dimensão semelhante não podemos dizer que as nossas empresas não têm uma boa cobertura de research“, remata Isabel Ucha.
Mais de duas dezenas de empresas portuguesas têm research
Fonte: Bloomberg e Euronext Lisbon
DMIF II não ajudou o cenário
Existem atualmente 44 casas de research a cobrir empresas portuguesas, com o BPI e a Caixa Banco de Investimento (BI) a destacarem-se: fazem análise sobre 20 e 19 cotadas respetivamente. A partir de Portugal, além destes dois só mesmo o BiG – Banco de Investimento Global o faz, que cobre apenas quatro empresas.
Além destes, é de Espanha que vem o maior número de notas de análise, incluindo do Santander, JB Capital Markets ou BBVA. Grandes players como o Goldman Sachs, o JP Morgan ou o Morgan Stanley focam-se nas empresas maiores e acompanham menos de 10 empresas cada. Até ao mês passado, o Haitong acompanhava nove cotadas portuguesas.
Além da reestrutura pela qual o banco está a passar, o Haitong apontou para outras razões para ter decidido acabar com o research, incluindo “mudanças estruturais” no setor na Europa. A presidente da bolsa de Lisboa concorda que a regulação mais apertada — com a entrada em vigor da revisão da diretiva dos mercados de instrumentos financeiros (DMIF II) — aumentou os custos para os bancos e está a causar concentração no setor.
“Com entrada desta legislação, todo o research que é produzido tem de ser vendido e tem de haver uma justificação. Isto tem a ver naturalmente com temas de conflitos de interesses que resultaram da crise financeira. Não obstante, introduziu não só em Portugal, mas em toda a Europa, um novo quadro regulatório que torna difícil — para não dizer impossível — a algumas casas de research, especialmente a que cobrem poucas empresas e que não têm atividade muito alargada, justificar custos“, apontou Isabel Ucha.
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