Imobiliário quer usar a inteligência artificial para vender casas. E está de olho na blockchain

O setor imobiliário está em alta e conduziu até ao Web Summit alguns players do setor. Em conversa com o ECO, discutiram-se as tendências e o futuro. Vem aí mais digitalização.

O mercado imobiliário está tão em alta que são cada vez mais os empreendedores que se aventuram neste mundo. Criam-se todos os dias novas ideias e, claro, novas empresas e startups. O objetivo é comum: tirar proveito do momento positivo do setor, mas que está em mudança, dizem os especialistas presentes no Web Summit e vindos de várias partes do mundo. O mercado imobiliário ainda não está digitalizado, mas o futuro vai trazer muita tecnologia, desde a Inteligência Artificial (IA) à blockchain.

Nils Henning nasceu na Alemanha e, há quatro anos, decidiu mudar-se e fundar em terras lusas a Casafari. “Portugal é um bom mercado para fazer crescer uma empresa porque tem pessoas de todo o mundo”, começa por dizer ao ECO, durante o Web Summit. A Casafari é uma plataforma que, através da IA, é capaz de identificar vários anúncios com o mesmo imóvel e agregar toda essa informação num único local. “Portugal é um mercado interessante. É muito dramático entender o mercado imobiliário porque há muitos dados duplicados e não há um marketplace dominante”.

Atualmente a Casafari trabalha com várias empresas, desde a Sotheby’s International Realty, Savills, Fine & Country, Remax, Engel & Voelkers e Keller Williams. Recentemente, captou cinco milhões de euros numa ronda de financiamento liderada pelos fundos Lakestar. “Haverá mais empresas. Vamos crescer em termos de parcerias e não vamos ter apenas agentes imobiliários nem brokers. Vamos ser parceiros de fundos de pensões e companhias de seguros para ajudar os jovens a comprarem casa“, revelou o CEO e cofundador.

Nils Henning, CEO da Casafari, em entrevista ao ECO - 05NOV19
Nils Henning, CEO da CasafariHugo Amaral/ECO

Para Nils Henning, a Casafari destaca-se no setor e não teme a concorrência. “Fomos a primeira empresa a construir o que construímos. É uma tecnologia verdadeiramente complexa e já vemos as primeiras empresas a tentar copiar-nos. Mas elas não percebem que não se trata da utilização, mas de construir uma clara base de dados. E isso nós sabemos que mais ninguém é capaz de fazer em toda a Europa“, disse o fundador.

Quando vemos como este mercado funciona, é assustador. Porque ainda não está digitalizado. Ainda há muitas pessoas a trabalharem nele de caneta e papel na mão.

Nils Henning

Cofundador e CEO da Casafari

Ainda assim, o CEO defende que o mercado português ainda tem um longo caminho pela frente. “Quando vemos como este mercado funciona, é assustador. Porque ainda não está digitalizado. Ainda há muitas pessoas a trabalharem nele de caneta e papel na mão. Há muitas decisões que são tomadas com base em tendências do mercado e não em factos reais. Por isso eu defendo que devíamos tornar-nos mais digitais”.

“Vamos combinar a tecnologia com o mercado imobiliário”

Matheus Sequeiros tem apenas 24 anos e é country manager da Arca Properties, uma empresa que liga estudantes a plataformas como o Airbnb ou a Booking.com. A empresa nasceu pensada por estudantes que queriam rentabilizar as casas quando passavam grandes temporadas fora. A Arca funciona como uma ponte de ligação entre os donos do apartamento e as plataformas de arrendamento. “Nós tornamos a casa numa casa de férias durante esse tempo. As pessoas não têm de se preocupar com nada, só em dar-nos as chaves do apartamento e todos os meses nós enviamos um relatório com informação sobre quem esteve no apartamento e quanto lucro deu”, explica ao ECO Matheus Sequeiros.

A Arca nasceu em Milão mas, atualmente, está presente em Luxemburgo e em Montreal. Contudo, está à procura de novos mercados. “Estamos claramente interessados no mercado português, em desenvolver a ideia em Portugal”, revelou o responsável, durante o Web Summit. “Aqui as casas são realmente caras e a maior parte das pessoas não consegue suportar esses preços. Por isso é que há muitas casas vazias em Lisboa e isso é perfeito para nós, porque nós podemos ajudar as pessoas a gerar dinheiro com essas casas vazias”.

Callum McDonell, da Tangent, Trinity’s Ideas Worspace, (que poderá vir a colaborar com a Arca Properties) e Matheus Sequeiros, country manager da Arca Properties.Hugo Amaral/ECO

Para Matheus Sequeiros, o tempo do arrendamento tradicional está a ser ultrapassado. A internet e a tecnologia estão a tornar esse processo cada vez mais fácil e rápido. “A tecnologia da Arca vai tornar as coisas bastante mais fáceis. Estamos à procura de conhecer no Web Summit novas empresas que possam desenvolver os nossos produtos e serviços”, disse, acrescentando que o objetivo é “aplicar, de alguma maneira, a blockchain e a IA”. “Estou totalmente otimista de que isso vai trazer vantagens”, sublinhou.

Sabemos que há alguns grupos a fazer este tipo de negócio, mas é fácil competir se souberes que o teu serviço vai muito além de oferecer uma gestão da propriedade.

Matheus Sequeiros

Country Manager da Arca Properties

Tal como a Arca Properties, existem outras empresas semelhantes em Portugal. Mas, assim como a Casafari, também Matheus Sequeiros se mostra destemido. “Sabemos que há alguns grupos a fazer este tipo de negócio, mas é fácil competir se souberes que o teu serviço vai muito além de oferecer uma gestão da propriedade“, disse. Por isso, ainda este ano ou no início do próximo poderemos ver a Arca Properties a entrar em Portugal, revelou ao ECO o country manager.

“Portugal tem enorme potencial de crescimento”

Exemplo de uma empresa semelhante é a Guesty, fundada por Amiad Soto em 2013, em Israel. “A Guesty nasceu quando o meu irmão e eu compreendemos a verdadeira dor de cabeça que era gerir os nossos próprios apartamentos no Airbnb, principalmente quando estávamos fora da cidade”, explica ao ECO o fundador. “Tínhamos identificado uma oportunidade e rapidamente a transformamos num negócio”.

Presente em mais de 70 países e, com mais de 300 colaboradores espalhados por 11 escritórios, a Guesty funciona à base do online: oferece aos utilizadores serviços como “caixa de entrada unificada (que centraliza toda a comunicação com o convidado), ferramentas de automatização, comunicação 24 horas por dia, sete dias por semana, processamento de pagamentos”.

“Em 2013, nunca teríamos adivinhado que seria com este tipo de tecnologia que a indústria imobiliária começaria a evoluir para novos moldes”, diz Amiad Soto, explicando que os programadores, investidores e proprietários “estão cada vez mais cientes de que o alojamento de curta duração é 30% mais rentável do que o tradicional”.

Amiad Soto, CEO e fundador da Guesty

A entrada em território nacional aconteceu porque os estudos de mercado da Guesty “indicaram que Portugal tem uma comunidade de aluguer de curta duração próspera e com um enorme potencial de crescimento”. Assim, para o futuro, “tendo em conta o rápido crescimento desta indústria”, o fundador acredita que haverá uma “consolidação de ferramentas de software a evoluir para plataformas”.

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