Eurodeputado do PS desvaloriza não estar no lugar de Elisa Ferreira, vê em Portugal um Governo com "fortíssima capacidade política" e lamenta um PSD em lutas internas. E Centeno? "Está bem onde está".
O eurodeputado do PS considera “muito positiva” a experiência no Parlamento Europeu, desvalorizando não ter sido o escolhido para o cargo de comissário ocupado por Elisa Ferreira. Em entrevista ao ECO, acredita no sucesso da comissária portuguesa, assim como no do Governo de António Costa que diz estar “bem preparado” para enfrentar a nova legislatura, mesmo não tendo o apoio por escrito dos partidos à esquerda do PS. Fulcral neste novo Executivo continua a ser Mário Centeno que, garante Pedro Marques, não está para ser substituído. “Não andámos a falar de nenhum nome para substituir o Mário”, assegura.
Como é que está a ser a experiência e o trabalho no Parlamento Europeu?
Está a ser muito positiva. Estou a desenvolver uma série de trabalhos e temas que não tratava a nível nacional. Noutros casos não é bem assim. Falámos aqui de temas em que eu trabalhava no governo, mas há aqui uma dimensão de avanço do projeto europeu em várias áreas que é muito interessante e que pode fazer a diferença na vida das pessoas. O tema do salário mínimo a nível europeu, o seguro de desemprego europeu, a garantia para as crianças de melhores políticas e de combate à pobreza, a reforma do Semestre Europeu [processo de coordenação de políticas económicas] para que não seja só finanças públicas mas mais desenvolvimento social e ambiental, bem como a responsabilidade no grupo socialista do acompanhamento da execução do programa de ação da Comissão. É uma função não executiva diferente da do Governo. Tem sido um mandato frutuoso.
Mas não era apenas isto que pretendia fazer. O primeiro-ministro propôs o seu nome e o de Elisa Ferreira para o cargo de comissário. Está desiludido por não ter sido escolhido?
Esse é um assunto que já ficou lá atrás. Nós temos uma comissária de elevadíssima competência que foi reconhecida como tal por toda a gente quer aqui, na audição no Parlamento Europeu, quer de forma geral também em Portugal. Ainda por cima foi atribuído um pelouro a Portugal de enorme centralidade nas políticas europeias e com potencial impacto no nosso país. É, de facto, um dossiê que ficou lá atrás. Honra-me que o meu nome tenha sido considerado mas como também sempre disse durante a campanha estou preparado para desempenhar um mandato que dê resultados concretos. Um mandato com resultados é agora o meu objetivo.
"Temos um Governo bem preparado para enfrentar um momento sempre difícil que é o exercício da presidência do Conselho da União Europeia. A forma como o Governo foi constituído dá todas as garantias de que haverá a sustentabilidade política para exercer a presidência do Conselho”
Mas não ficou frustrado com a situação?
É como digo, tendo Portugal uma comissária desta qualidade e um pelouro desta relevância, isso é o mais importante para o nosso país. É importante para a Europa. Eu agora faço aquilo que me cabe aqui que é trabalhar a partir do Parlamento Europeu para ter boas políticas na Europa.
Elisa Ferreira tem condições para fazer um bom mandato?
Estou absolutamente convencido disso. Tem muita experiência europeia e nos dossiês europeus. Conhece esta área política que lhe foi atribuída, uma vez que foi também ministra do Planeamento e, certamente, fará um excelente mandato. Foi indicada uma pessoa que gerou um grande consenso no país e que foi uma das que teve melhor performance nas audições parlamentares [aos comissários designados].
Agora no plano nacional, e até porque já foi ministro, qual é a sua opinião sobre o novo Governo com 70 membros?
A dimensão do Governo… se tem mais ou menos um membro, mais um ministro ou menos um secretário de Estado… isso não me parece o mais importante. O que me parece muito importante é que o primeiro-ministro constituiu um Governo de fortíssima capacidade política e isso é muito importante. Precisamos de comando político para a execução das políticas públicas. Isso é, de facto, aquilo que temos assegurado pelo Governo do primeiro-ministro António Costa.
"Não julgo que os partidos à nossa esquerda [do PS] tenham a vida mais facilitada do que tiveram na legislatura anterior. Esta ideia de não assinatura de acordos formais não os iliba da responsabilidade política.”
Temos um Governo bem preparado para falar com o mundo real, nomeadamente as empresas. Precisamos de continuar o ciclo de prosperidade económica da última legislatura. E temos um Governo bem preparado para enfrentar um momento sempre difícil que é o exercício da presidência do Conselho da União Europeia (UE). A forma como o Governo foi constituído dá todas as garantias de que haverá a sustentabilidade política para exercer a presidência do Conselho [da UE no primeiro semestre de 2021].
A legislatura tem a sua complexidade. Mas como já disse, não julgo que os partidos à nossa esquerda tenham a vida mais facilitada do que tiveram na legislatura anterior. Esta ideia de não assinatura de acordos formais não os iliba da responsabilidade política. Se em algum momento da legislatura o Governo ficar em causa e não tiver condições para continuar, é porque os partidos à nossa esquerda se aliaram aos partidos da direita. Teriam que votar ao lado dos partidos da direita para que este Governo ficasse em causa. A responsabilidade política dos partidos à nossa esquerda é ainda maior.
O caminho só pode ser de continuidade deste ciclo de afastamento das políticas de austeridade mais “troikista” do que a troika que vinha da direita portuguesa e das quais ainda não se conseguiu libertar. A direita portuguesa ainda não tem um discurso nem um programa de ação política posterior ao “passismo”. Estão reféns de uma mensagem e de uma ação políticas que não funcionou. Foi possível demonstrar que havia mesmo uma alternativa a esse programa de ação política que alguns diziam que era a única possível. Afinal havia mesmo alternativa e a direita ainda anda perdida à procura de um outro programa de ação política. Por isso, à esquerda e ao PS, não resta alternativa se não entenderem-se para continuar este ciclo de governação.
Mário Centeno está muito bem onde está. No círculo restrito do PS não andámos a falar de nenhum nome para substituir o Mário.
Governo deve manter como parceiros privilegiados os partidos à esquerda?
Os partidos que sustentaram esta solução política na legislatura anterior vão continuar a ser o sustentáculo deste modelo de governação no período mais próximo, e espero que isso aconteça. Gostava que o PSD estabilizasse, com um programa de ação política previsível para o futuro próximo e que as guerrilhas internas parassem para termos alternativa política no nosso país, mas também para que os grandes desafios estruturais do país pudessem ser acordados com o PSD. Devemos falar com o PSD, mas temos que ter um PSD previsível e não um partido que está em lutas internas há um ano e meio. Pouco tempo depois de Rui Rio ser eleito líder eu dei o exemplo como ministro e estabelecemos um acordo importante sobre os desafios do próximo quadro comunitário. Vários destes desafios precisam de estabilidade mas com um PSD aos ziguezagues nunca lá chegaremos.
Nas últimas semanas houve muita especulação sobre a eventual saída de Mário Centeno do Governo quando terminar o mandato à frente do Eurogrupo. Marques Mendes diz que o ministro das Finanças está em rota de colisão com o primeiro-ministro e que num círculo restrito do PS se fala em segredo de Fernando Medina para o lugar de Centeno. Fala-se?
(Risos) Eu acho que faço parte do círculo restrito do PS e não temos falado de nenhum nome para substituir Mário Centeno à frente das Finanças porque ele tem feito um trabalho absolutamente extraordinário. E foi aliás instrumentalmente muito importante para o país ter alguém naquele lugar que finalmente apresentou resultados. Não foram precisos orçamentos retificativos, não andámos a ultrapassar sistematicamente os objetivos orçamentais. Ao mesmo tempo isso foi feito com a capacidade de o país recuperar uma trajetória de redução das desigualdades, de redução da pobreza. Isso foi possível fazer com uma política de finanças públicas “amiga” da dimensão de solidariedade que é uma marca da governação do PS. Portanto, Mário Centeno está muito bem onde está. No círculo restrito do PS não andámos a falar de nenhum nome para substituir o Mário.
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No PS, “não andámos a falar de nenhum nome para substituir o Mário [Centeno]” na pasta das Finanças, diz Pedro Marques
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