Quebra abrupta dos juros põe depósitos a prazo abaixo de 90 mil milhões
O montante aplicado em depósitos a prazo pelos portugueses caiu para 89.781 milhões de euros. Seria necessário recuar até janeiro de 2011 para ver um valor mais baixo.
De mês para mês, os juros dos depósitos a prazo renovam mínimos históricos e tal está a refletir-se na retirada de poupanças dos depósitos a prazo. Pela primeira vez desde o início da crise, as aplicações em depósitos a prazo estão abaixo dos 90 mil milhões de euros, com os portugueses a preferirem deixar as poupanças simplesmente paradas na conta à ordem.
De acordo com dados disponibilizados pelo Banco Central Europeu, entre setembro e outubro, os depósitos a prazo emagreceram em 403 milhões de euros, com o bolo total a baixar para 89.781 milhões de euros. Seria necessário recuar até janeiro de 2011 para ver tão pouco dinheiro aplicado naquele que tradicionalmente sempre foi o produto de poupança preferido dos portugueses.
A quebra das aplicações a prazo insere-se num contexto de remunerações cada vez mais “magras” e já muito próximas dos 0%. Os últimos dados disponíveis, relativos a setembro, mostram que as novas aplicações em depósito a prazo foram remuneradas a uma taxa de juro média de 0,09%.
Depósitos a prazo emagrecem. À ordem engordam
Fonte: BCE
Com remunerações desta ordem, muitos aforradores nem se dão ao trabalho de aplicar as suas poupanças em depósitos a prazo, preferindo ter o dinheiro parado e facilmente acessível na conta à ordem.
A evolução dos valores depositados à ordem atestam precisamente essa realidade. O valor que saiu dos depósitos a prazo, em outubro, acabou por ser totalmente para aí canalizado. Nesse mês, as contas à ordem engordaram em 421 milhões de euros, para um total de 61.175 milhões de euros. Ou seja, um valor próximo do recorde histórico de 61.506 milhões de euros estabelecido em julho.
Ou seja, já menos de 60% do total de 151.517 milhões de euros que as famílias têm nos bancos estão em depósitos a prazo. Trata-se da proporção mais baixa de um histórico com início em janeiro de 2003, e que compara com níveis que chegaram a atingir os 80%.
Tal aconteceu em 2012, quando os bancos nacionais ofereciam taxas de juro médias superiores a 4% como forma de captar recursos dos clientes e melhorar os seus rácios. Num contexto em que os juros de referência da Zona Euro estão em mínimos históricos, os bancos não têm atualmente qualquer incentivo a remunerar os depósitos a prazo. Porque em termos práticos significa perderem dinheiro, com reflexo negativo nas suas margens financeiras.
E tudo aponta para que esse quadro não se altere nem tão cedo. Na última reunião do conselho de governadores do BCE, a entidade responsável pela política monetária da Zona Euro disse esperar que “as taxas de juro diretoras do BCE se mantenham nos níveis atuais ou em níveis inferiores até observar que as perspetivas de inflação estão a convergir de forma robusta no sentido de um nível suficientemente próximo, mas abaixo, de 2%”.
Os números da inflação na Zona Euro ainda estão muito longe desta fasquia. Os últimos dados do Eurostat mostram que a inflação no espaço do euro terá sido de 1%, em novembro.
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