Consórcio europeu desenvolve colmeias inteligentes de baixo custo

  • Lusa
  • 17 Dezembro 2019

Os testes com as colmeias inteligentes permitirão obter informações sobre o estado de saúde das colónias, bem como do potencial agrícola destas. O projeto terá um financiamento de 7 milhões de euros.

Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) iniciam em janeiro testes com colmeias inteligentes de baixo custo, instalados na região do Douro, no âmbito de um projeto europeu para melhorar a gestão dos apiários, foi hoje anunciado.

Uma equipa de cientistas vai iniciar “um conjunto de testes com colmeias inteligentes de baixo custo”, para dotar os apicultores de “ferramentas de monitorização remota em tempo real, quer em termos da avaliação da saúde das colónias, quer do potencial apícola de áreas ao nível de recursos para as abelhas, para uma melhor gestão dos seus apiários”, revela a UC, numa nota enviada esta terça-feira à agência Lusa.

Designado B-GOOD, “Giving Beekeeping Guidance by Computational Assisted Decision Making” (desenvolvimento de sistemas de decisão para uma apicultura sustentável – novas ferramentas assistidas por computação), o projeto reúne “perto de 70 cientistas de 17 instituições de 13 países europeus, bem como apicultores e especialistas em tecnologias informáticas”.

O projeto dispõe de um financiamento global de mais de sete milhões de euros da União Europeia (UE), através do Programa Horizonte 2020.

Estas colmeias inteligentes, que vão ser testadas simultaneamente em mais sete países envolvidos na investigação, estão instrumentadas com “sensores que recolhem e monitorizam continuamente vários parâmetros”, como humidade, temperatura, vibração das abelhas e peso da colmeia, exemplifica a UC.

O sistema permite conhecer “o estado da colónia, de acordo com o denominado índice do estado de saúde das abelhas (Health Status Index – HSI)”, desenvolvido pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA, na sigla original).

Com esses dados, aliados a outras ferramentas, será possível “testar, padronizar e validar os métodos para medir e reportar os indicadores selecionados que afetam a saúde das abelhas”, afirma José Paulo Sousa, vice-coordenador do projeto e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC).

Uma simples aplicação informática permitirá aos apicultores obter “informação rápida e fidedigna em tempo real sobre o estado de cada uma das suas colónias, podendo detetar antecipadamente fenómenos de enxameamento e sintomas de diversas doenças”, evitando constantes monitorizações dos apiários”, acrescenta José Paulo Sousa.

Numa segunda fase, os cientistas vão também desenvolver um modelo fenológico dos recursos alimentares para as abelhas, isto é, “mapear as flores que são importantes para as abelhas sob o ponto de vista nutricional, período de floração ao longo do ano e a quantidade de recursos que podem providenciar”.

Será um trabalho de elevada complexidade, porque, clarifica o docente da FCTUC, envolve muita informação: “trabalhar dados ao nível das paisagens agrícolas, florestais e de áreas naturais e as associações florísticas destes elementos da paisagem, e validar em campo o modelo fenológico identificando as flores “amigas” das abelhas e avaliar o teor de açúcar, néctar, pólen, etc.”.

O objetivo final é “não apenas mapear os recursos importantes para as abelhas à escala europeia, mas criar mapas dinâmicos de adequação do habitat em termos de quantidade e qualidade de recursos que cada zona geográfica pode providenciar por ano às abelhas, informação muito relevante não só para os apicultores, como também para entidades estatais que estabelecem os limites para o número de apiários que podem ser instalados em cada zona do território”, salienta, citado pela UC, José Paulo Sousa.

Esta ferramenta de gestão assume particular relevância, sublinha ainda o investigador, notando que, “devido às alterações climáticas, a disponibilidade de recursos florais constitui um grave problema, pois pode haver espécies que deixem de florir a determinada altura, o período de floração pode variar, podendo causar um desfasamento entre o período de floração e as necessidades nutricionais das abelhas e, consequentemente, originar uma alteração do estado de saúde das colónias, com uma diminuição da capacidade de reprodução e uma redução na resistência a diversas doenças”.

É essencial, sustenta José Paulo Sousa, “uma gestão adequada dos recursos ao nível da paisagem, adotando medidas que incentivem a implementação de infraestruturas verdes em áreas agrícolas com misturas florais ajustadas a cada região que permitam períodos de floração mais alargados”.

O B-GOOD “abre caminho para uma apicultura saudável e sustentável na UE, seguindo uma abordagem colaborativa e interdisciplinar”, afirma ainda o também investigador do Centro de Ecologia Funcional da FCTUC.

O que torna único este projeto é “a utilização de uma ampla rede espacial de recolha de dados em colónias de abelhas com estreita ligação a dados apícolas já existentes, assim como o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e autónomas para a monitorização de colmeias”, conclui.

Toda a tecnologia que suporta as colmeias inteligentes do projeto B-GOOD deverá estar no mercado dentro de dois a três anos.

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