Riscos para a economia portuguesa? Há, mas maioria são externos
Fatores potencialmente geradores de mais volatilidade nos mercados financeiros, menor crescimento económico global e/ou aumento do grau de aversão ao risco, podem penalizar Portugal.
Os economistas ouvidos pela Lusa consideram que os principais desafios que condicionarão a economia portuguesa em 2020 são externos, mas enumeram, a nível interno, a necessidade de reduzir a dívida pública e aumentar o investimento.
“O principal desafio está relacionado com o fraco crescimento esperado da procura externa, pois antecipa-se que os principais parceiros comerciais, maioritariamente do espaço europeu, mantenham um ritmo de expansão económica baixo”, afirmou à Lusa Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, recomendando que “será fundamental aprofundar a estratégia de diversificação em termos de zonas económicas de destino”.
Por outro lado, a economista salientou que “é mais um ano recheado de fatores políticos potencialmente perturbadores”, com destaque para as ‘guerras’ comerciais dos EUA com a China e outras zonas económicas e os impactos no crescimento, por via da maior incerteza e retração do comércio internacional, e nos mercados financeiros.
"Principal desafio está relacionado com o fraco crescimento esperado da procura externa, pois antecipa-se que os principais parceiros comerciais, maioritariamente do espaço europeu, mantenham um ritmo de expansão económica baixo.”
Outro fator são as eleições presidenciais norte-americanas e o processo da saída do Reino Unido da União Europeia, “que ainda poderá gerar alguma incerteza e volatilidade”, frisou Paula Carvalho.
“Todos estes fatores são potencialmente geradores de mais volatilidade nos mercados financeiros, menor crescimento económico global e/ou aumento do grau de aversão ao risco (e consequente aumento dos custos de financiamento), pelo que será um ano em que as probabilidades estão muito divididas”, disse a economista-chefe do BPI, acrescentando que “o cenário central para Portugal é de um crescimento robusto, mas há que contar com a probabilidade de ocorrência de cenários adversos”.
No mesmo sentido, Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, considerou que “os principais desafios [para a economia portuguesa em 2020] virão de fora e dizem muito respeito ao ciclo económico, caso se deteriore, e às questões ligadas à política monetária”.
O economista explicou que, uma vez que Portugal tem uma dívida pública muito elevada, “qualquer aumento dos juros da dívida prejudicará Portugal e retirará espaço orçamental”, sendo que uma das maiores vulnerabilidades portuguesas é o financiamento.
Para Filipe Garcia outro desafio é tentar conseguir captar investimento estrangeiro e aumentar a competitividade da economia.
Pedro Lino, economista da Dif Broker e da Otimize, considera, por seu turno, que “o principal desafio é a redução da dívida pública, num ambiente de abrandamento do crescimento económico”.
O economista salientou que “o excedente orçamental previsto [de 0,2% do Produto Interno Bruto] não significa uma redução da dívida pública em termos nominais, tendo em conta, principalmente, a injeção de capital no Fundo de Resolução para o Novo Banco”.
Pedro Lino considerou que “o elevado nível de endividamento da economia e baixa taxa de poupança implica uma dependência externa do sistema financeiro”, que esteve “na origem da transferência de grande parte do sistema financeiro para o estrangeiro”.
O economista indicou ainda que a retoma do investimento público é outro desafio.
“Ano após ano, o Governo tem adiado investimentos que são estruturais para o futuro da economia portuguesa, tendo-se focado na reposição dos gastos com a Função Pública em detrimento de um equilíbrio entre reposição de rendimentos e investimento”, referiu.
Para Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, “o principal desafio [para a economia portuguesa em 2020] é continuar a crescer acima da média da zona euro e aproximar-se do ritmo de crescimento das economias de leste (para não falar da Irlanda), sem comprometer o endividamento externo”.
“A questão da aceleração do crescimento potencial da economia portuguesa continua a ser um enorme desafio, que não será obviamente resolvido com mais um OE [Orçamento do Estado] ou numa legislatura, mas ao longo de anos”, acrescentou.
Rui Bernardes Serra apontou também a necessidade de melhorar as instituições e a governação, aumentar o progresso tecnológico, destacando a importância do reforço da formação em engenharia e tecnologias emergentes e apoiar a criação e desenvolvimento de ‘startups’.
Bruno Fernandes, economista do Santander em Portugal, considerou, à Lusa, que um dos principais desafios que Portugal enfrenta é o de “aumentar o investimento produtivo, no contexto de elevado endividamento face ao potencial de geração de riqueza, que exige que os recursos disponíveis, exíguos, sejam utilizados de forma mais eficiente e eficaz”.
Para o economista, a expansão das exportações portuguesas “exige a prossecução de investimentos em setores estratégicos, inovadores e de elevado valor acrescentado, mas requer também a capacidade em atrair e reter talento”.
Bruno Fernandes salientou ainda que “países cujo tecido empresarial promove e estimula o talento registam níveis elevados de competitividade e produtividade”, o que tem como consequência salários mais elevados e um nível de desemprego estrutural baixo, “contribuindo para que a procura interna seja resiliente, mitigando os impactos de uma redução da procura externa, como ocorre atualmente”.
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