Excedente é bom, mas eventual saída de Centeno é um risco
Economistas aplaudem o excedente previsto na proposta de Orçamento do Estado, mas dizem que existe à custa de medidas que condicionam o crescimento. E temem a saída de Centeno.
Os economistas contactados pela Lusa consideram que a previsão do excedente de 0,2% em 2020 “é uma boa notícia”, mas à custa de medidas que limitam o crescimento, e sujeita a vários riscos, como a eventual saída de Mário Centeno.
A previsão de um excedente “é uma boa notícia, mas é feita à custa de opções políticas que limitam o crescimento do potencial da economia”, disse à Lusa Pedro Lino, economista da Dif Broker e da Optimize, frisando que “o aumento da carga fiscal através da subida dos impostos indiretos e a limitação do investimento publico minam o esforço feito, especialmente considerando que uma parte do excedente advém da redução de juros com a dívida pública”.
No mesmo sentido, Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, referiu que “é sempre importante Portugal continuar a apresentar contas públicas credíveis”, referindo, contudo, que é preciso esperar para ver se a previsão de excedente se manterá.
“Falta incluir as medidas que permitirão viabilizar o Orçamento do Estado para 2020 (OE2020), por um lado, e, por outro lado, não teremos a folga de queda dos juros (os juros continuarão baixos, mas não deverão descer mais) e tenho dúvidas de que os dividendos do Banco de Portugal sejam os mesmos”, explicou.
Filipe Garcia indicou ainda que não se sabe “se a pessoa que ‘executa o orçamento’ durará até ao final do ano ou não”, referindo-se ao ministro das Finanças, Mário Centeno.
“Uma coisa é o orçamento e outra coisa é a sua execução”, frisou, destacando a questão das cativações e adiantando que, “se houver uma margem mais reduzida por ordem da política monetária, haverá maior pressão” na execução orçamental.
Para Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, a previsão de um excedente orçamental no próximo ano “representa alívio, na medida em que parece existir algum espaço de atuação no âmbito da política orçamental, caso o cenário externo se deteriore de forma expressiva”.
“Todavia, esse espaço irá sempre depender da intensidade com que a procura interna for afetada caso ocorra algum choque exógeno adverso”, ressalvou a economista.
Já Filipe Garcia considera que a previsão de um excedente “não é um alívio, mas coloca mais pressão”.
“Politicamente, diz-se que a economia está a crescer, que há menos desemprego, mas depois o que vemos é um aumento da carga fiscal e um OE que vai deixar menos rendimento disponível para a maioria das famílias”, acrescentou.
Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, afirmou, por seu turno, que “a previsão de um excedente orçamental vai ao encontro das recomendações de Bruxelas e das próprias agências de ‘rating’, constituindo, dessa forma, um alívio para os investidores em dívida portuguesa”.
Contudo, o economista frisou que aquele excedente “resultará sobretudo do funcionamento dos estabilizadores automáticos, com a continuação do crescimento da economia e da redução do desemprego a gerarem mais receita e menos despesa com subsídios de desemprego”.
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