Metas europeias para transição energética “podem gerar conflitos”, alerta Durão Barroso
Apesar de considerar que o pacto ecológico europeu é positivo, Durão Barroso alerta que as metas da UE são " muito ambiciosas" e que não vai ser nada fácil" traduzi-las em "resultados concretos".
O antigo presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso considerou esta sexta-feira que as metas atuais da União Europeia para a redução de emissões de carbono são “muito ambiciosas” e “podem gerar conflitos” e problemas de competitividade.
“Apoio este pacto ecológico europeu, acho que vai no bom sentido, mas é muito ambicioso e não vai ser nada fácil traduzir aquilo em resultados concretos“, afirmou o também antigo primeiro-ministro português, à margem do sétimo encontro do Conselho da Diáspora, que decorreu esta sexta-feira em Cascais.
Estas medidas “podem gerar conflitos”, admitiu, referindo: “Por exemplo, trabalhadores do setor da indústria, ou mesmo da agricultura (…), portanto de setores ditos tradicionais, se não lhes for bem explicada a política e não houver medidas de acompanhamento, vão revoltar-se contra essas medidas”.
Durão Barroso deu o exemplo dos protestos dos “coletes amarelos“, iniciados há mais de um ano em França.
“Foi porque o Governo francês decidiu aumentar o preço dos combustíveis, com uma boa razão, que era precisamente para desenvolver outras alternativas. Portanto, a política estava, em princípio correta, ambientalmente justa, mas as pessoas, sobretudo na província, que têm que se deslocar em maiores distâncias, com automóveis (…) ou tratores, que consomem as chamadas energias fósseis, sentiram-se discriminadas. E isso gerou uma revolta de que ainda se estão a ver os efeitos, em França”, referiu.
Durão Barroso defendeu por isso que “é muito importante a componente social na transição energética”.
“Podemos ter aqui um grande problema se não a soubermos gerir com prudência. E, sobretudo, se não formos capazes de chamar outros (…) e de comprometer outros”, considerou.
O responsável deixou um lamento: “Infelizmente, os outros grandes parceiros não estão necessariamente alinhados connosco”.
Para Durão Barroso, “dentro da União Europeia houve, até agora, apenas a saída da Polónia, um em 27 ou 28 Estados, se considerarmos ainda o Reino Unido (…)”, portanto não será por isso que a União Europeia não vai estar “na vanguarda deste movimento”.
Mas, para Durão Barroso, sem este comprometimento de outros países grandes poluidores, fora da Europa, as suas empresas vão enfrentar problemas de competitividade.
“Se as empresas europeias vão ter de que aplicar estas políticas (UE), tendo em vista estas metas e as outras não o fazem, então podemos ter um problema de competição”, comentou.
“Está previsto no pacto ecológico europeu a chamada taxa carbono, ou seja, taxar as importações para a União Europeia com origem em países que não aplicam medidas comparáveis. Só que isso vai ser muito difícil, se não impossível de aplicar”, defendeu.
Os Estados Unidos e a China são os maiores poluidores hoje à escala mundial. Mas cada vez mais a Índia está também nessa trajetória, disse, e a Europa é responsável por um volume “relativamente pequeno de gases com efeitos de estufa”, considerou.
“Mesmo que a Europa consiga todos os seus objetivos, mesmo que hoje tivesse emissões zero, isso não resolvia o problema das alterações climáticas”, disse.
O Conselho da Diáspora, que reúne 96 portugueses destacados no mundo, debateu esta sexta-feira em Cascais a “economia no nosso planeta”, no seu sétimo encontro, que contou na abertura com a intervenção do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e, no encerramento, com a participação do Presidente da República.
O Conselho da Diáspora Portuguesa é uma associação privada sem fins lucrativos, fundada em 2012, com o Alto Patrocínio da Presidência da República e do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
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