Zelensky recusa pedido de demissão do seu primeiro-ministro

  • Lusa
  • 17 Janeiro 2020

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, decidiu dar uma segunda “oportunidade” ao Executivo, ao rejeitar o pedido de demissão do primeiro-ministro.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, recusou esta sexta-feira o pedido de demissão apresentado esta manhã pelo seu primeiro-ministro, ao referir que pretende dar uma segunda “oportunidade” ao Executivo.

Decidi dar uma oportunidade a si e ao seu Governo”, declarou Zelensky na sequência de um encontro com o primeiro-ministro Oleksiy Honcharuk, de acordo com um vídeo divulgado pela presidência. Honcharuk apresentou o pedido de demissão após a divulgação de declarações muito críticas face ao chefe de Estado, na primeira crise política para o jovem Presidente.

De acordo com fugas de informação publicadas nas redes sociais e retomadas pelos media, Honcharuk qualificou de “primitivos” os conhecimentos económicos do Presidente, um ex-comediante e humorista antes sua eleição para a liderança do país em abril.

Zelensky não fez qualquer menção a estas declarações, mas exigiu ao primeiro-ministro que reforce a sua cooperação com o parlamento e reveja os salários dos altos responsáveis governamentais. A concessão de importantes bónus a estes responsáveis provocou nas últimas semanas um escândalo na Ucrânia.

“Na atual situação da nossa economia, estes salários não podem existir na Ucrânia”, declarou Zelensky. A Ucrânia, ex-república soviética com uma superfície semelhante à da França e cerca de 42 milhões de habitantes, é considerado um dos países mais pobres da Europa.

Segundo a lei ucraniana, cabe ao parlamento aceitar o rejeitar a demissão do primeiro-ministro. O Servidor do Povo, o partido do Presidente, garante a maioria absoluta no hemiciclo.

Previamente, Zelensky, tinha exigido uma investigação judicial às escutas que provocaram o pedido de demissão de Oleksiy Honcharuk, que supostamente criticou o chefe de Estado durante uma reunião registada em áudio sem a sua autorização.

“Exijo que dentro de duas semanas, se possível antes, recebamos a informação sobre quem fez as gravações (…) encontremos que as fez e esclareceremos a situação”, informou ao início desta tarde em comunicado a presidência ucraniana. Zelensky, que na ocasião se dirigia às forças de segurança, sublinhou que a investigação deverá clarificar quem participou nas referidas conversas e esclarecer as circunstâncias em que decorreram.

Numa série de gravações difundidas esta semana pela rede social Youtube escutam-se vozes parecidas com as do primeiro-ministro, da subdiretora do Banco Nacional da Ucrânia, Ekaterina Rozhkova, e da ministra das Finanças, Oksana Markarova, em que debatem a política económica do país, questionando as capacidades do chefe de Estado.

O homem cuja voz que se assemelha à de Honcharuk afirma durante a conversa que o Presidente ucraniano possui escassos conhecimentos na área económica. “Nos media houve muitas falsidades sobre a presença de uns ou outros funcionários. Sobre a fotografia publicada nos media, terá de ser esclarecido se toda essa gente participou, ou não, [nas conversas]”, disse ainda Zelensky.

Revelou ainda que o primeiro-ministro lhe explicou que a reunião, à qual pertence a gravação publicada, se prolongou por cinco horas. O Presidente também ordenou medidas para evitar incidentes semelhantes no futuro e recordou que as escutas ou a manipulação de conversações em instituições estatais são ilegais.

O Servidor do Povo tinha informado que aceitaria por unanimidade a demissão do primeiro-ministro, caso fosse apoiada por Zelensky, mas o Presidente optou pela solução contrária. Honcharuk, 35 anos, tomou posse como chefe do Executivo em agosto de 2019.

“Assumi o posto para aplicar o programa do Presidente. Para mim, ele é um exemplo de transparência e honradez. No entanto, para eliminar qualquer dúvida sobre o nosso respeito e confiança no Presidente, escrevi uma carta de renúncia e vou apresentá-la ao Presidente com a opção de remetê-la ao parlamento”, alegou no Facebook.

O primeiro-ministro assegurou que o áudio comprometedor foi “manipulado” e procura “criar artificialmente” a ideia de que a sua equipa não respeita o chefe de Estado, “um homem no qual os ucranianos depositaram uma confiança sem precedentes”.

O primeiro-ministro afirmou que o Presidente “tem todo o direito de avaliar a competência de cada membro da sua equipa, responsável por aplicar as alterações que o país necessita”.

Na sequência da divulgação pública das gravações, vários deputados exigiram a renúncia de Honcharuk, que se defendeu ao desvincular-se do áudio e afirmando num primeiro momento que prosseguira nas suas funções.

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