Paradas, 25% das empresas ficam sem dinheiro para salários em pouco mais de um mês
As empresas de alojamento e restauração são as que têm menos dinheiro em caixa disponível para pagar salários num cenário de paragem total parecido ao que estamos a viver.
Se fossem a contar apenas com o dinheiro que têm em caixa ou nos depósitos bancários, 25% das empresas portuguesas não conseguiriam pagar mais do que um mês de salários numa paragem total da sua atividade. Essa situação é mais dramática no alojamento e restauração, grande parte do setor do turismo, segundo uma análise publicada no boletim mensal do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia que, porém, não vincula o Governo.
Num momento em que muito do tecido empresarial está há cerca de mês e meio (quase) paralisado, dois economistas do GEE, Gabriel Osório de Barros e Nuno Tavares, foram tentar perceber qual é a capacidade das empresas portuguesas para assegurar o pagamento das remunerações numa situação de paragem total da atividade. “Esta situação colocou-as numa situação única em termos da sua gestão corrente uma vez que a repentina quebra de receitas não pode ser, pelo menos no curto prazo, acompanhada por uma equivalente redução na estrutura de custos”, escrevem.
“No caso do encerramento compulsivo e na ausência de outras alternativas, restará às empresas fazerem uso das suas disponibilidades como forma de garantir a continuidade dos pagamentos“, concluem. Para aferir a margem das empresas, foi calculado o “cash-buffer” que corresponde ao rácio entre o valor das disponibilidades e a folha salarial mensal. Esta é uma forma de medir a resistência das empresas antes de as medidas de apoio anunciadas pelo Governo chegarem ao terreno, como é o caso das linhas de crédito ou do lay-off, medidas que não são tidas em conta neste exercício.
A conclusão é clara: há uma “forte prevalência de empresas com capacidade reduzida (em número de meses) para fazer face aos seus custos salariais recorrendo apenas à sua caixa ou a depósitos bancários“. Falando em números, é possível dizer que, com base nos dados disponíveis e apesar das limitações metodológicas, “25% das empresas não disporiam de recursos suficientes para fazer face a mais do que um mês de salários”.
Em termos setoriais, o alojamento e a restauração são os mais afetados com 50% das empresas sem recursos suficientes para assegurar “muito mais do que um mês” de salários. Estas áreas ligadas ao turismo são precisamente das mais expostas às medidas de contenção adotadas pelo Governo e a nível mundial, sendo também são das mais afetadas no volume de negócios, entre outros indicadores, tal como mostram os inquéritos semanais do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Banco de Portugal.
Em contraste, o comércio é o que está “mais preparado” para fazer face a encargos salariais dado que 50% das empresas desse setor “conseguiriam assegurar aproximadamente quatro meses de pagamento de salários com recurso a disponibilidades”.
Empresas maiores com menos cash-buffer, mas melhor acesso a crédito
Na análise pela dimensão das empresas, há um problema que se coloca: a capacidade de acesso ao crédito, antes das medidas de liquidez tomadas pelo Governo, era desigual. Normalmente, as micro, pequenas e médias empresas (PME) têm mais restrições de liquidez em comparação com empresas grandes.
Esse fator faz com que nesta análise sejam as empresas de maior dimensão — segundo o Jornal de Negócios (acesso pago), as empresas do PSI-20 tinham pouco mais de 6,7 mil milhões de euros em caixa no final de 2019 — as que dispõem de menor capacidade para pagar os seus salários durante vários meses utilizando apenas o dinheiro em caixa ou depositado.
“Este resultado, à primeira vista surpreendente, não será no entanto de estranhar, uma vez que empresas de maior dimensão disporão de maior acesso ao crédito, permitindo-lhes uma gestão muito mais flexível da sua tesouraria”, explicam os autores da análise.
“Na verdade, a manutenção de saldos elevados em caixa ou em bancos poderá constituir mais um sinal da existência de restrições no acesso ao financiamento do que de um nível acrescido de liquidez“, notam, referindo o caso das pequenas e médias empresas “uma vez que será este o segmento, previsivelmente, mais afetado pelas restrições de liquidez e com menor capacidade de acesso ao crédito”.
Assim, as empresas de menor dimensão acabam por ser as que têm maiores saldos de disponibilidades, ainda que isso não signifique que, na prática, tenham maior resiliência numa situação de paragem total.
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