Bruxelas defende compras de dívida do BCE. Lembra tribunal alemão que lei europeia tem primazia
Alemanha deu três meses ao Banco Central Europeu para alterar programa de compra de dívida. Conselho de Governadores vai reunir-se ainda esta terça-feira para decidir como responder.
A lei da União Europeia tem primazia em relação à constituição alemã. A mensagem foi transmitida por Bruxelas a Berlim, depois de um tribunal alemã ter deliberado que a compra de dívida do Banco Central Europeu (BCE) não cumpre os tratados europeus, o que agravou os juros da dívida dos países do sul da Europa.
“Não obstante a análise detalhada da decisão tomada hoje [terça-feira] pelo Tribunal Constitucional Alemão, reafirmamos a primazia da lei da UE e o facto de os acórdãos do Tribunal de Justiça da União Europeia serem vinculativas para todos os tribunais nacionais“, disse o porta-voz do executivo comunitário, Eric Mamer, citado pela Reuters.
O Tribunal Constitucional Federal alemão pronunciou-se esta terça-feira sobre o programa de compra de ativos do BCE, tendo dado três meses à autoridade monetária da Zona Euro para o corrigir.
Numa decisão quase unânime (7 contra 1), os juízes de Karlsruhe consideram que o programa não cumpre com os tratados europeus e defenderam que o BCE terá de rever o programa de compras criado por Mario Draghi entre 2015 e 2019. A decisão segue-se à queixa de um grupo de duas mil pessoas, encabeçado por economistas e professores de Direito.
O processo atual, que arrancou na justiça alemã em março de 2015, não é o primeiro. Em 2017, o Tribunal Constitucional, assumiu ter dúvidas de que a compra de ativos fosse compatível com a proibição de financiamento monetário, reencaminhando a sentença para o Tribunal de Justiça Europeu (TJE).
Governadores do BCE reúnem-se para discutir decisão
O TJE pronunciou-se a favor do BCE, mas ficou à responsabilidade da entidade máxima de justiça alemã interpretar a sentença à luz da sua Constituição. Agora, a Comissão Europeia reafirma o apoio à entidade liderada por Christine Lagarde. “A Comissão Europeia sempre respeitou a independência do BCE na sua implementação de política monetária”, sublinhou Mamer.
Contactado pela Reuters, o TJE não quis comentar a decisão do tribunal alemão. Já do lado do BCE, o Conselho de Governadores irá reunir-se de forma extraordinária esta terça-feira à tarde para discutir a decisão.
Esta não se aplica ao programa de emergência criado para responder à crise pandémica (no valor de 750 mil milhões de euros), mas aos programas anteriores. E mesmo que o Bundesbank decida sair e vender todos os ativos que detém, o mercado não deverá ficar inundado já que poderá fazê-lo definindo uma estratégia de longo prazo.
Ainda assim, a deliberação gera preocupações sobre eventuais expansões dos programas de compra de ativos do BCE. Em reação, o euro cede 0,5% e os juros das dívidas soberanas dos países do sul agravam. Em Portugal, as obrigações a dez anos sobem para 0,932% e, em Itália, o juro dos mesmos títulos avança para 1,896%.
(Notícia atualizada às 12h55)
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