Estes são os países que ganham mais com o Fundo de Recuperação. Portugal é o oitavo
Tanto no valor nominal como em percentagem do PIB, Portugal é o oitavo mais beneficiado pela proposta da Comissão Europeia para o Fundo de Recuperação.
Itália e Espanha, dois dos países europeus mais afetados pela pandemia, recebem o maior envelope de dinheiro na proposta da Comissão Europeia para o Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros, mas a conclusão muda quando se compara com a dimensão da economia. Portugal fica em oitavo lugar tanto nas duas óticas, de acordo com a análise feita pelo ECO aos números de Bruxelas, os quais ainda podem ser alterados no futuro.
A Comissão Europeia apresentou ontem a sua proposta para o próximo Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 que alberga um Fundo de Recuperação por causa da pandemia. Além dos habituais 1,1 biliões de euros do QFP, Bruxelas propõe 500 mil milhões de euros de subvenção a fundo perdido, sob critérios definidos, e 250 mil milhões de euros de empréstimos para os Estados-membros. Esta proposta vai ser debatida no Conselho Europeu, o qual tem de rejeitar, modificar ou aprovar.
Mas quem recebe mais ou menos dinheiro? A Comissão elaborou uma chave de distribuição com base na população, no PIB per capita e na taxa de desemprego. A orientação é simples: “A chave de distribuição irá beneficiar particularmente os países mais afetados pela crise, especialmente aqueles com um rendimento per capita baixo e elevado desemprego“. A fórmula é explicada em detalhe pelos técnicos num documento divulgado esta quinta-feira (de referir que a tabela está em preços de 2018 e os valores aqui referidos em preços correntes) e resume-se na relação entre a população, o PIB per capita e a taxa de desemprego dos últimos 5 anos.
No caso dos empréstimos, existe um volume máximo de 4,7% do RNB (rendimento nacional bruto) de cada Estado-membro, ainda que o valor possa ser superado em “circunstâncias excecionais” consoante os recursos disponíveis.
Assim, Portugal deverá receber um total de 26,3 mil milhões de euros: 15,5 mil milhões de euros em transferências a fundo perdido e 10,8 mil milhões de euros em empréstimos. Contudo, é de notar que os 15,5 mil milhões de euros em subvenções não são diretamente comparáveis com os 500 mil milhões anunciados. Os 15,5 mil milhões dividem-se entre 12,9 mil milhões de euros do Instrumento para a Recuperação e Resiliência (4,2% dos 310 mil milhões totais deste instrumento) e o restante pelo REACT EU, Fundo da Transição Justa e Desenvolvimento Rural.
Os 26,3 mil milhões de euros colocam Portugal em oitavo lugar no ranking dos países que mais recebem tanto em termos nominais como em percentagem do PIB. Itália é o país que mais recebe em termos nominais (172,7 mil milhões de euros), seguindo-se Espanha (140,4 mil milhões) e a Polónia (63,8 mil milhões). Até chegar a Portugal há ainda França (38,7 mil milhões), Grécia (32 mil milhões), Roménia (31,2 mil milhões) e a Alemanha (28,8 mil milhões).
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2020/05/fundos-europeus-pandemia-2-01.png)
Contudo, esta ordem muda significativamente caso se coloque estes valores em percentagem do PIB (dados do Eurostat para 2019), apesar de no caso de Portugal (ajuda de cerca de 12,4% do PIB de 2019), por coincidência, o lugar relativo seja o mesmo. Nesta ótica, a Bulgária destaca-se ao receber 20,4% do PIB de 2019 em ajuda europeia, seguindo-se a Croácia (18,5%) e a Grécia (17%). Já Itália (9,7%) é o 15º mais beneficiado nesta comparação e em 12.º lugar aparece Espanha (11,3%).
Nos menos beneficiados, em percentagem do PIB, por este desenho dos apoios encontram-se o grupo dos quatro países “frugais”: Dinamarca, Holanda, Suécia e Áustria recebem no máximo 1% do seu PIB. É o caso da Alemanha também, mas o Governo alemão está alinhado com a maioria dos Estados-membros na defesa por um envelope maior e na forma de subvenções. O Luxemburgo e a Irlanda ocupam os dois últimos lugares, mas esta comparação é dificultada pela inflação do PIB destes dois países por causa do registo de patentes e multinacionais maioritariamente para efeitos fiscais.
![](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2020/05/fundos-europeus-pandemia-2-02-1.png)
Porém, para avaliar quem ganha mais (ou perde) é preciso também olhar para a proposta do QFP 21-27, o qual tem o dinheiro que habitualmente é distribuído aos Estados-membros através do orçamento comunitário durante sete anos. Ontem, na RTP3, o eurodeputado do PSD, José Manuel Fernandes, disse que serão 33 mil milhões de euros do QFP para Portugal: “Nunca recebemos tanto dinheiro. É uma enorme pipa de massa”, disse, pedindo para que a discussão passe a ser sobre onde investir esse dinheiro.
No mesmo espaço, a eurodeputado do PS, Margarida Marques, garantiu que os valores do Fundo de Recuperação vão “na prática compensar a perda que [a proposta de 2018 da Comissão Europeia para o QFP 21-27] tinha nos valores da coesão e na PAC (segundo pilar)”. Ambos (que estão envolvidos nas negociações do orçamento comunitário) elogiaram a proposta de Bruxelas, pedindo ao Conselho Europeu que trabalhe num acordo que também agrade ao Parlamento Europeu. É preciso o aval dos eurodeputados para que o QFP veja a luz do dia.
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