Lay-off trava desemprego apesar de queda histórica do PIB. BdP mantém previsão nos 10,1%
O Banco de Portugal reviu significativamente em baixa a previsão do PIB em 2020, mas a taxa de desemprego é a mesma: 10,1%. O segredo está nas medidas de apoio ao emprego, nomeadamente o lay-off.
Não haja dúvidas: o aumento do desemprego vai ser “muito significativo” em 2020, mas as medidas de apoio do Estado permitem atenuar essa subida. Apesar de ter revisto significativamente em baixa a previsão do PIB de -3,7% para -9,5%, o banco central não mexeu na previsão da taxa de desemprego: vai subir da casa dos 6% para os 10,1% este ano, segundo o boletim económico de junho divulgado esta terça-feira.
“A forte contração da atividade em 2020 e a lenta recuperação posterior terão reflexo no mercado de trabalho“, começam por assumir os economistas do BdP no documento que atualiza as projeções de março com data de fecho antes do agravamento da pandemia. Agora, continua a prever-se uma “queda significativa” do emprego em 2020 (-4,5%), mas a quebra do PIB é bem mais forte.
Vamos aos números. Em março, o BdP avançava com dois cenários: um cenário base com uma queda de 3,7% do PIB e uma taxa de desemprego de 10,1% e um cenário adverso onde o PIB ia cair 5,7% e a taxa de desemprego subia para os 11,7%. Três meses depois, o cenário base do banco central ultrapassou o cenário adverso de março ao prever uma contração de 9,5%, uma queda histórica do PIB português. Porém, a previsão para a taxa de desemprego mantém-se nos 10,1%, o mesmo valor do cenário base de março.
Porquê? A resposta está nas medidas de apoio ao emprego que o Governo lançou, nomeadamente o lay-off simplificado e o seu sucessor. “O impacto da crise sobre o mercado de trabalho tenderá a ser atenuado ou desfasado pela existência de políticas que visam preservar o emprego e a liquidez das empresas“, explica o Banco de Portugal, assinalando a importância do lay-off simplificado na evolução deste indicador.
“O prolongamento destas medidas deverá facilitar a manutenção da atividade e do emprego em empresas consideradas viáveis, mas em alguns casos poderá conduzir a um adiamento do processo de saída do mercado por parte de empresas sem capacidade competitiva, condicionando assim uma dinâmica endógena ao funcionamento da atividade económica”, analisam os economistas.
Este menor impacto da pandemia no mercado de trabalho dará as bases para uma recuperação “gradual” em 2021 e 2022, mas à semelhança do que acontece no PIB esta melhoria não vai permitir regressar aos níveis de emprego registados em 2019. “Em 2021 e em 2022, deverão registar-se melhorias quer no emprego quer na taxa de desemprego, mas não suficientes para retomar os valores observados em 2019“, lê-se no boletim económico de junho.
Ainda assim, a evolução é melhor do que nas projeções anteriores: a taxa de desemprego irá descer para 8,9% em 2021 e 7,6% em 2022 em comparação com 9,5% e 8%, respetivamente, nas projeções de março (cenário base). Esta previsão assume que a população ativa se mantenha estável nos próximos anos e que o emprego aumente 2% em 2021 e 1,5% em 2022.
No entanto, o banco central nota que a evolução do emprego e da taxa de desemprego está “muito condicionada” pelo impacto e duração das políticas de apoio ao emprego e à liquidez das empresas. Em maio, um exercício dos economistas do BdP baseado em hipóteses “simplificadoras” estimava que o lay-off podia vir a compensar o impacto da pandemia na liquidez das empresas.
Cenário adverso levará a mais desemprego
Mas há um cenário ainda pior para a evolução da economia portuguesa onde se prevê uma nova vaga de infeções e a reintrodução de medidas de contenção. Com o PIB a contrair 13,1% em 2020, “a deterioração das condições do mercado de trabalho é mais expressiva neste cenário mais severo”.
“Face às projeções apresentadas neste boletim, o emprego reduz-se mais significativamente em 2020 e o ritmo da retoma subsequente é mais fraco, refletindo-se em taxas de desemprego mais elevadas ao longo de todo o horizonte”, antecipa o Banco de Portugal, sem quantificar a taxa de desemprego ou a redução do emprego. “É importante notar que a evolução do mercado de trabalho é muito incerta, sendo muito influenciada pelo impacto das medidas de política económica”, concluem os economistas.
Note-se que estas projeções foram fechadas a 18 de maio, antes da divulgação do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) e do Orçamento Suplementar onde constam novas medidas do Governo relativamente ao apoio ao emprego.
No cenário macroeconómico que acompanha o PEES e o Orçamento Suplementar, Governo prevê uma taxa de desemprego de 9,6% e uma contração do PIB de 6,9%.
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