Banco de Portugal vê PIB a cair entre 9,5% e 13,1%. É mais pessimista que o Governo

O Banco de Portugal está mais pessimista que o Governo para a evolução da economia. Prevê uma forte contração seguida de uma recuperação de 5,2% em 2021 e de 3,8% em 2022.

Três meses após ter sido a primeira instituição a divulgar projeções para a economia portuguesa logo no início da pandemia, o Banco de Portugal atualiza-as esta terça-feira no boletim económico de junho. E as notícias não são boas: o cenário adverso de março (-5,3%) foi superado pelo cenário base de junho com a economia a cair 9,5%, acima dos 6,9% estimados pelo Governo. No novo cenário adverso, a queda do PIB em 2020 pode ir até aos 13,1%.

A revisão em baixa das previsões deve-se aos desenvolvimentos dos últimos meses, os quais foram mais negativos do que o esperado no início de março. “Em 2020, a economia portuguesa deverá contrair-se de forma muito acentuada, num contexto de reduções do PIB mundial e do comércio internacional apenas comparáveis às registadas na Grande Depressão de 1929“, antecipa o Banco de Portugal. A previsão de uma queda de 9,5% do PIB é feita no pressuposto de que há um “relativo controlo” do vírus e um “progressivo levantamento das medidas de contenção”.

O cenário macroeconómico do banco central, num exercício feito em conjunto com os bancos centrais da Zona Euro, prevê que o maior contributo negativo para o PIB venha da procura externa (-6,2 pontos percentuais), ou seja, da diferença entre as exportações — que num só ano vão cair 25,3% — e as importações. “A queda nas exportações reflete, sobretudo, uma descida muito acentuada das exportações de serviços associados ao turismo”, esclarece o BdP, antecipando que a balança de bens e serviços seja deficitária em 2020, o que acontecerá pela primeira vez desde 2011.

Já a procura interna terá um contributo negativo de 3,2 pontos percentuais, o que reflete não só o impacto no consumo privado (-8,9%) da quebra do rendimento disponível mas também o aumento da poupança por precaução. “A taxa de poupança deverá aumentar substancialmente em 2020, refletindo a dificuldade de consumir alguns bens e serviços durante o estado de emergência e a elevada incerteza prevalecente”, explicam os economistas do BdP. A queda da procura interna, também pela via da queda do investimento privado (principalmente empresarial), é parcialmente compensada pelo esperado maior investimento público e pelos maiores gastos em saúde pública, o que deverá levar a uma subida de 0,6% do consumo público.

No que toca à evolução da inflação em 2020, o Banco de Portugal espera uma “virtual estabilização”: os preços dos bens e serviços devem aumentar mas de forma “contida” e os preços dos bens energéticos deverão diminuir.

Nova vaga da pandemia contrai PIB em 13,1%

Apesar de ter atualizado as projeções com muita mais informação do que a de março, os economistas do banco central avisam que estas continuam “condicionadas por uma elevada incerteza quanto à evolução da pandemia, à duração e ao impacto das medidas de contenção e ao efeito das medidas de política adotadas”. E os riscos são de revisão em baixa das projeções, o que leva ao desenho de um cenário adverso — sem um cenário benigno — onde o PIB contrai 13,1% em 2020 e a recuperação nos anos seguintes é mais lenta. Esta previsão assume uma nova vaga de infeções e um regresso das medidas de contenção “rigorosas”, o que terá “efeitos mais severos e persistentes sobre a atividade e sobre o mercado de trabalho”.

A previsão da quebra do PIB em Portugal, estimada pelo Banco de Portugal, fica assim acima da previsão feita pelo Banco Central Europeu divulgada a 4 de junho, neste mesmo exercício do Eurossistema, de uma contração de 8,7% para o conjunto da Zona Euro em 2020, sendo notórias “consideráveis diferenças” entre os países da União Económica e Monetária. “A estrutura produtiva dos países, o grau de severidade das medidas de contenção adotadas e as medidas de mitigação do impacto económico e social da crise podem ajudar a explicar estas diferenças”, adianta o BdP.

Recuperação de 2021 e 2022 será parcial

No cenário base, o Banco de Portugal antevê uma recuperação da economia portuguesa de 5,2% em 2021 e de 3,8% em 2022 — valores semelhantes aos estimados pelo BCE para a Zona Euro –, o que, ainda assim, é insuficiente para reconquistar a atividade económica perdida durante a primeira vaga da pandemia. A recuperação deverá começar no terceiro trimestre, após uma contração histórica do PIB à volta de 15% no segundo trimestre deste ano, segundo a previsão do BdP.

“No final do horizonte de projeção, a atividade deverá situar-se num nível próximo do observado em 2019, mas consideravelmente abaixo do esperado antes da pandemia”, lê-se no boletim económico de junho. Mais concretamente: em 2022, o nível do PIB será cerca de 6% abaixo da projeção feita em dezembro do ano passado, antes da pandemia.

Ainda assim, é de notar que esta será uma “recuperação mais rápida do que na recessão anterior”, o que é explicado principalmente pelo comportamento do investimento que retomará com mais força do que na anterior crise ao contrário das exportações que demoraram mais tempo a restabelecer os níveis anteriores na sequência do impacto da pandemia nas cadeias de valor. O consumo privado também deverá recuperar a um ritmo mais elevado.

A diferença no comportamento das exportações é explicada pelos serviços, nomeadamente no turismo e outros serviços associados, cuja “queda muito acentuada em 2020” será seguida por uma “recuperação mais lenta”, o que reflete o impacto da crise nestes setores que implicam o movimento de pessoas e o contacto pessoal.

Porém, é de notar que estas projeções não contabilizam ainda o esperado Fundo de Recuperação Europeu pós-pandemia que ainda está a ser debatido a nível europeu e que poderá dar a 15,5 mil milhões de euros a Portugal a fundo perdido, segundo a proposta da Comissão Europeia. Além disso, como a data de fecho destas projeções foi a 18 de maio não foram incorporadas as novas medidas do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), que são concretizadas pelo Orçamento Suplementar, o qual deverá ser aprovado pela Assembleia da República.

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