Quebra do PIB no 2.º trimestre pode ir até aos 20%, diz ISEG

A quebra do PIB de 2,3% no primeiro trimestre poderá ser um pequeno apontamento ao lado do que vai acontecer no segundo trimestre: a contração estará entre os 15% e os 20%, antecipa o ISEG.

O Grupo de Análise Económica do ISEG prevê que a economia registe uma contração entre 15% a 20% no segundo trimestre desde ano. Esta é uma queda do PIB sem precedentes em Portugal nas últimas décadas e mostra a rapidez e a dimensão do impacto da pandemia na atividade económica.

“Atendendo à realidade de um mês completo de confinamento e restrições de atividade, e à limitada recuperação que se pode antever para os meses de maio e junho, o 2º trimestre deverá registar uma queda homóloga histórica que admitimos possa vir a situar-se entre -15% e -20%“, revela a Síntese de Conjuntura do ISEG de maio divulgada esta sexta-feira.

Ou seja, o confinamento (quase) total em abril, ainda que atenuado pelo levantamento das restrições e recuperação gradual de maio e junho, deverá fazer desaparecer um quinto da produção nacional no segundo trimestre. No primeiro trimestre, com apenas uma quinzena de confinamento (segunda quinzena de março), o PIB contraiu 2,3% em termos homólogos e 3,8% em cadeia.

A previsão para o segundo trimestre “trata-se de um valor economicamente insólito“, admitem os economistas do ISEG, explicando o fenómeno pelo “choque externo cataclísmico que interrompeu a atividade económica corrente, cuja dimensão vai para além do expectável”.

Esta contração histórica da economia traduz uma “queda profunda” da procura interna: tanto o consumo privado, com as pessoas fechadas em casa, como o investimento, face à incerteza que as empresas enfrentam, vão afundar. O consumo público (gastos do Estado) até poderá registar “alguma aceleração” por causa das medidas de apoio à economia, mas esse efeito é “limitado relativamente à dimensão das quedas esperadas nas outras componentes da procura interna”.

Resultado preliminar do indicador de tendência da atividade global para abril, o qual deverá ser revisto em baixa.

O contributo negativo da componente interna é replicado pela componente externa (procura externa líquida, que é as exportações descontadas das importações), o que é explicado pela “interrupção quase total” das exportações de serviços (turismo) que não vai compensar o défice comercial que existe nos bens, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos.

No comércio de bens, o saldo habitualmente negativo deverá manter-se mas reduzir-se com a queda pronunciada de algumas importações específicas (automóveis, combustíveis) e com a redução geral das trocas externas”, antecipa o ISEG. Por outro lado, “no comércio de serviços, o forte saldo positivo dos últimos anos, suportado principalmente pelo turismo e que tem permitido cobrir o saldo negativo dos bens, deverá reduzir-se para valores muito baixos no 2º trimestre, insuficientes para compensar muito do saldo negativo dos bens”.

Ainda assim, o pessimismo não é total. “Em princípio, a partir desta base substancialmente mais baixa, a economia e a atividade económica irão progressivamente regressando nos próximos meses“, antecipa, assinalando, no entanto, que o ritmo de recuperação “permanece incerto”. Este “dependente de uma procura entretanto deprimida ou mesmo desaparecida”, explica.

O Governo construiu o orçamento suplementar com uma previsão para a variação do PIB anual de -6,9%, em linha com as previsões da Comissão Europeia, mas mais otimistas do que o Conselho das Finanças Públicas ou o Fundo Monetário Internacional (FMI). A dimensão da quebra da atividade económica do segundo trimestre será revelada, em princípio, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) a meio de agosto.

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