Comissão Europeia vê PIB a cair 6,8% em 2020. Portugal cresce 5,8% em 2021

A Comissão Europeia prevê uma forte contração do PIB este ano em Portugal, mas abaixo da média da Zona Euro e da previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A Comissão Europeia atualizou esta quarta-feira as previsões económicas e os números mostram que está ligeiramente menos pessimista do que o Fundo Monetário Internacional (FMI): a economia portuguesa deverá encolher 6,8% este ano, seguindo-se uma recuperação de 5,8% em 2021.

Estes números, que constam das previsões de primavera divulgadas hoje, comparam com a queda de 8% prevista pelo FMI para Portugal em 2020 e uma recuperação de 5% no próximo ano.

A previsão da Comissão Europeia para Portugal é mais otimista do que a média da Zona Euro em que o PIB afunda 7,7% em 2020, seguindo-se uma recuperação de 6,3% no ano seguinte. Entre os países que partilham o euro, a Itália, Grécia e Espanha são os países mais afetados pelo impacto económico da pandemia com o PIB a encolher mais de 9%.

Uma das razões que diferencia a evolução da economia desses países e da economia portuguesa é o impacto da pandemia no investimento privado e público. Em média, o investimento na Zona Euro deverá cair 13,3% em 2020, mas menos em Portugal (-8,6%) do que em Espanha (-20,7%), Itália (-14,2%) e Grécia (-30%).

Nas outras componentes do PIB também registam-se quedas significativas em Portugal: o consumo privado encolherá 5,8%, as exportações vão cair 14,1% e as importações 10,3%. A única componente a crescer será o consumo público, mais 2,4%, dado o aumento dos gastos do Estado com as ajudas relacionadas com a crise pandémica.

Projeta-se que o PIB fique abaixo dos níveis de 2019 ainda em 2021“, antecipa a Comissão, prevendo que a recuperação demore mais tempo a concretizar-se. Até porque no caso de Portugal a dependência do turismo estrangeiro torna esta retoma mais desafiante até haver uma vacina ou um tratamento eficaz. “Espera-se que a economia recupere com força após o choque inicial mas em alguns setores, particularmente no turismo, é expectável que as réplicas [da crise pandémica] prolonguem-se”, avisa a Comissão Europeia.

Medidas do Governo custam 2,5% do PIB

Com a receita a cair e a despesa a subir em 2020, Portugal vai passar de um excedente orçamental em 2019, o primeiro da democracia, para um défice de 6,5% este ano, segundo as previsões da Comissão Europeia. Também neste indicador Portugal figura melhor do que a média da Zona Euro (-8,5%). Em 2021, o défice português deverá encolher para 1,8% e o da Zona Euro para 3,5%, ainda acima da linha vermelha dos 3% imposta pelas regras europeias, as quais estão suspensas neste momento.

De acordo com a Comissão Europeia, a deterioração do saldo orçamental deve-se aos estabilizadores automáticos (subsídio de desemprego, por exemplo) e à necessidade da política orçamental suportar a economia. Ou seja, deve-se ao aumento da maioria das categorias de despesa, em particular nos subsídios e transferências sociais, e à queda da receita pública. No total, as medidas adotadas pelo Governo até agora para reforçar a resposta do SNS, para proteger o emprego, dar apoio social e salvaguardar a liquidez das empresas terão um custo direto estimado de 2,5% do PIB.

Num cenário de políticas invariantes, em que só é considerado o que já está legislado, o saldo orçamental deverá melhorar no próximo ano com o contributo da recuperação económica e a eliminação progressiva das medida implementadas para lidar com a pandemia. Ainda assim, o risco orçamental é descendente uma vez que há incertezas sobre a curva epidémica e os efeitos “persistentes” na economia e na sociedade, avisa a Comissão Europeia, relembrando ainda as possíveis obrigações assumidas pelo Estado.

Dívida pública volta ao patamar dos 130%

A forte queda do PIB e o aumento significativo do défice em 2020 vão fazer mossa à dívida pública. O rácio do endividamento público no PIB deverá subir de 117,7% em 2019 para 131,6% em 2020, descendo novamente para os 124,4% no próximo ano. Neste indicador Portugal continua bem acima da média da Zona Euro: a Comissão Europeia prevê que o rácio de dívida pública no PIB médio da Zona Euro passe dos 86% para os 102,7% em 2020, baixando ligeiramente para os 98,8% em 2021. No próximo ano, ainda haverá sete países, incluindo Portugal, com um rácio superior a 100% do PIB.

Tanto no défice como na dívida pública, as previsões da Comissão Europeia são mais otimistas do que as do FMI. O Fundo prevê que o défice suba para os 7,1% e a dívida pública para os 135%.

A contração da economia, nomeadamente através da redução das exportações, terá repercussões nas contas externas portuguesas que passam de um equilíbrio em 2019 (0% do PIB) e anos consecutivos de excedentes para um défice de 0,6% em 2020 e de 0,2% em 2021, de acordo com as previsões divulgadas hoje. Já a média da Zona Euro continuará com um excedente externo superior a 3% do PIB, influenciada pelos elevados excedentes registados na Alemanha e na Holanda.

A Comissão Europeia prevê ainda que a economia portuguesa registe deflação em 2020 com os preços a baixarem 0,2% no conjunto do ano. Em 2021, a inflação volta a valores positivos com uma taxa de 1,2%.

(Notícia atualizada às 10h45 com mais informação)

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