Turismo algarvio procura alternativas ao mercado britânico
É necessário “reforçar a procura de portugueses, de espanhóis, de alemães, de franceses, de irlandeses e de italianos”, mercados que têm sido explorados na “diversificação da aposta”.
O turismo algarvio procura alternativas ao mercado britânico, que representa um terço das dormidas na região e quase metade dos passageiros desembarcados no Aeroporto de Faro, e espera que o Governo britânico reverta a sua posição.
“Não tenhamos ilusões, porque um mercado que representa um terço dos mercados externos não tem uma solução rápida para colmatar esta lacuna”, disse à Lusa o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA).
João Fernandes destaca que “quase metade (49%)” do desembarque dos quatro milhões e meio de passageiros no Aeroporto de Faro “são do Reino Unido” e, em termos em dormidas, “representam um terço (33%)” do total das dormidas do mercado externo, com seis milhões de dormidas em hotelaria classificada.
Ressalva ainda que há “100 mil camas de alojamento local” bem como “cerca de 200 mil segundas residências”, que não entram nos cálculos do Instituto Nacional de Estatística”.
Portugal foi excluído de uma lista de países com quem o Reino Unido estabeleceu um corredor aéreo, num sistema que vai entrar em vigor hoje e dispensa de fazer quarentena quem chegue a solo britânico proveniente dos países que constam dessa lista.
Até agora, quem chegava do estrangeiro ao Reino Unido tinha de ficar 14 dias em isolamento ou arriscava uma multa de mil libras (1.100 euros).
O presidente da Região de Turismo do Algarve considerou que o único mercado que pode “fazer um efeito tampão ao britânico é o nacional”, sendo também o que “habitualmente tem mais presença em julho e agosto”.
Por isso, defendeu que é necessário “reforçar a procura de portugueses, de espanhóis, de alemães, de franceses, de irlandeses e de italianos”, mercados que têm sido explorados na “diversificação da aposta”.
“Recentemente lançámos uma campanha para o mercado interno, com reflexo também no mercado espanhol, inglês, alemão, holandês, irlandês e francês, os nosso principais mercados”, informou João Fernandes.
Na região, a diminuição de turistas é facilmente percetível, por exemplo, num passeio pela praia ou no calçadão de Quarteira, no concelho de Loulé, habitualmente cheios nesta altura o ano, e um dos exemplos de que, no Algarve, não parece ser época alta.
Em declarações à Lusa, o diretor do Hotel D. José, a pouco metros da praia de Quarteira, disse que a ocupação está “a 45%/55%”.
“Temos 85 quartos ocupados, num total de 154. Sessenta e um com portugueses, nove de franceses, seis de ingleses e quatro de espanhóis, o que mostra que há pouca procura, mas uma grande incidência de turistas nacionais” revelou João Soares.
O diretor do hotel mostrou preocupação com “a falta do mercado britânico” e revelou estarem a “trabalhar com o português”.
“Estamos a trabalhar com o que temos hoje, porque estamos dependentes dos mercados emissores”, afirmou.
Nos vários cenários que traçou para este verão, o objetivo era “ficar dentro dos custos da operação, usando “o menos possível” os financiamentos que fizeram.
“Estamos com esperança que isso venha a acontecer, mas vai ser um ano extremamente difícil”, admitiu.
João Soares mostrou-se confiante que “assim que forem alteradas as condições dos britânicos para visitarem Portugal e o Algarve, em especial, no final do mês, a procura vai ser maior”.
“Até lá estamos em stand-by”, disse o também delegado regional da Associação de Hotelaria de Portugal.
Para o responsável, é necessário fazer “um trabalho diplomático incisivo” e também “trazer jornalistas dos grandes meios de comunicação ingleses” para estarem na região e “sentirem e passarem a imagem que não há problema e não se sente a pressão da pandemia”.
João Soares concluiu realçando que o Algarve “tem uma imagem muito forte e vai sair mais forte”.
Apesar de poucos, ainda é possível encontrar turistas a passear ou na praia de Quarteira. À Lusa são vários os que se mostram confiantes com a escolha feita para o destino de férias que encontraram em Quarteira.
“Senti-me muito segura aqui, o Algarve nem tem assim tantos casos. Sei que em Lisboa houve um surto, mas disseram-me que o Algarve não tem problemas há algum tempo. Sinto-me mais segura aqui do que em Londres”, revelou uma jovem turista inglesa.
Durante a estadia recebeu algumas mensagens de amigos a quererem saber “como estão a coisas e se está tudo aberto”, às quais respondeu que não lhe parece “muito diferente, apesar de todos usarem máscara”, mas os restaurantes estão abertos, sendo apenas “preciso ligar a reservar”.
“Muitos dos meus amigos cancelaram as férias para Portugal porque não está na lista”, disse, acrescentando que, no regresso, vai ter de “preencher uma formulário” a indicar onde vive. “E é tudo o que sei, por enquanto”, concluiu.
Um casal alemão com duas crianças a sair da praia defendeu que “é uma situação que se coloca em todos os países” e que “havendo respeito pela regras e distanciamento”, estão seguros.
Um jovem casal suíço manifestou a mesma confiança, realçando que, “se houver atenção, o uso da máscara, desinfetante e afastamento social”, não há mais em risco do que no seu país.
“Sinto-me seguro, porque todos respeitam, mesmo os locais, e penso que, se nós também o fizermos, não há mais risco do que na Suíça” sustentaram.
O setor do turismo foi dos mais afetado desde o início da pandemia e agravou-se agora mais no Algarve, na época alta, depois de vários países obrigarem os seus cidadãos a um período de quarentena se viajarem para Portugal.
Os empresários algarvios revelam quebras de atividade das empresas dos diferentes setores na ordem dos 70% a 90% e o desemprego na região cresceu em maio mais de 200% em relação ao mesmo período de 2019.
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