Ferrovia de Costa Silva é boa aposta. Mas é preciso reindustrializar e taxar menos, dizem os empresários
Empresários e representantes das associações empresariais, aplaudem o plano de recuperação da economia de Costa Silva. Mas plano pode esbarrar no evoluir da pandemia.
António Costa Silva foi o escolhido para desenhar o plano de recuperação da economia para os próximos dez anos. Um plano, revelado esta terça-feira, 21 de julho, que aponta várias prioridades para os próximos anos, sendo a ferrovia uma das apostas. Os empresários, e representantes empresariais, dos mais variados setores, contactados pelo ECO, defendem que esta aposta em infraestruturas é indispensável para o sucesso do país, nomeadamente as exportações, mas este é apenas um veículo que ajudar a gerar riqueza. É preciso, primeiro, produzi-la, daí que aplaudam o foco na reindustrialização, mas também a necessidade de se ajustar o sistema fiscal.
A construção de “um eixo ferroviário de alta velocidade Porto-Lisboa para passageiros, começando com o troço Porto-Soure (onde existem mais constrangimentos de circulação)” é apenas uma das faces desta aposta na ferrovia. Mas dentro da proposta para a ferrovia destacam-se dois projetos em curso: a construção do eixo Sines-Madrid e a renovação da Linha da Beira Alta. Estes dois eixos são fundamentais para o tráfego de mercadorias para Espanha (alargando o Hinterland portuário ao mercado ibérico) e aumentando a quota de transporte internacional de mercadorias para o centro da Europa.
“É um aspeto muito interessante [a aposta na ferrovia defendida por Costa Silva]”, diz o diretor geral da Continental Advanced Antenna Portugal, lembrando que esta é uma “discussão foi acontecendo ao longo dos anos”. César Araújo, presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (Anivec), corrobora a ideia de Miguel Pinto, salientando que a criação desta ferrovia “pode ser bom a nível das exportações”.
À semelhança do presidente da Anivec, o vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), Rafael Campos Pereira, desta que a “aposta na indústria ferroviária é positiva no sentido de incrementar as exportações”. Para Bernardino Meireles, presidente da empresa Fogões Meireles, “pode ser bom para as empresas e reanimar muito a atividade económica”.
O presidente da ATP, Mário Jorge Machado, alerta, contudo, que a ferrovia não é tudo. “Uma ferrovia é um produto que ajuda a escoar a riqueza produzida, portanto é preciso produzir a riqueza. Produzir o produto e não ter para onde o escoar é um cenário que não produz bons resultados”, explica Mário Jorge Machado. Dá o exemplo das autoestradas: “nós fizemos um investimento muito grandes nas autoestradas, em infraestruturas, e o facto é que as autoestradas por si não conduzem riqueza, são um veiculo que podem ajudar a gerar riqueza”, evidencia Mário Jorge Machado.
Reindustrializar. E taxar menos
Para tirar partido das vias rápidas da exportação, é preciso produzir. Daí que seja preciso que o país esteja preparado para voltar a fazê-lo, apostando na reindustrialização. “Portugal vai ter que ser reindustrializar até porque o Covid-19 veio demonstrar que não podemos ter a produção toda na Ásia”, refere o diretor geral da Continental Advanced Antenna Portugal. E essa é uma das lacunas identificadas por alguns dos empresários no plano de recuperação.
Ferrovia é um produto que ajuda a escoar a riqueza produzida, portanto é preciso produzir a riqueza. Produzir o produto e não ter para onde o escoar é um cenário que não produz bons resultados.
O plano traz “muito investimento público”. “É pouco virado para aquilo que é a atividade industrial (…), falta uma dimensão mais importante no plano virado para as empresas e não só para o investimento público”, diz o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, que concorda “em traços gerais” com este plano de recuperação. “Temos uma legislação pouco atrativa para quem quer investir nesta indústria”, destaca.
Na “Visão estratégica para o plano de recuperação económica e social de Portugal 2020-2030”, Costa Silva responde a este anseio. Sugere menos IRS e TSU e mais impostos sobre poluição. César Araújo concorda coma redução da Taxa Social Única (TSU), mas destaca que é “altura de pensar que a Segurança Social deve ser taxada pelo valor acrescentado bruto e nunca penalizar o trabalho. Era uma forma mais equilibrada e justa para todos”, evidencia. E “quem mais poluir, mais deve pagar”, atira.
Falta um banco de fomento que funcione
António Costa Silva alerta, no plano desenhado para o país, para a situação das empresas, altamente castigadas pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Diz que “a partir de setembro a situação pode deteriorar-se significativamente”. Por isso sugere uma série de medidas que visam ajudar a tesouraria das empresas. “As empresas portuguesas estão muito descapitalizadas e é essencial criar condições para o reforço dos capitais próprios através de políticas fiscais e financeiras adequadas”, sendo que para isso aposta no Banco de Fomento ou num fundo soberano.
Nem todos os contactados pelo ECO concordam que será o melhor caminho. Para o vice presidente da Aimmap, Rafael Campos Pereira, o “banco de fomento até hoje não funcionou muito bem, espero que seja desta”. Por sua vez, o presidente da ATP, explica que “os bancos de fomento fazem todo o sentido quando existe uma orientação no sentido de fomentarmos a produção de riqueza que é aquilo que Portugal precisa”.
O diretor geral da Continental Advanced Antenna Portugal concorda com o fundo soberano, mas não sabe até que ponto é “exequível ou não”. “Em termos ideológicos se não vai esbarrar com algumas forças partidárias que possam não concordar. Vamos ver se politicamente pode ser materializado ou não”.
Confinar outra vez pode deitar tudo a perder
Apesar de a grande maioria dos empresários avaliar de forma positiva este plano estratégico elaborado por António Costa Silva, destacam que tudo depende do evoluir da pandemia. O presidente da António Meireles, Bernardino Meireles, refere que “ainda é muito precoce delinear um plano” e que tudo depende do evoluir da pandemia.
“Estamos todos na expectativa de tentar perceber o que vai acontecer no ultimo trimestre do ano, vai depender se a pandemia está controlada, se vai existir uma segunda vaga e nos vou obrigar novamente a confinar. É tudo muito subjetivo neste momento”, atira.
“É um plano que está muito bem feito, mas mais importante que o plano é a sua implementação até porque temos tido uma série de propostas ao longo dos anos, mas depois a passagem à prática não é muito rápida“, refere Miguel Pinto. O diretor geral da Continental Advanced Antenna Portugal, conclui Portugal não pode perder o comboio, tal e qual como António Costa Silva defende.
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