Onde funcionam as incubadoras de empresas?

  • Tiago Ratinho
  • 27 Julho 2020

Serão todas as incubadoras igualmente semelhantes no seu apoio às startups? E se não, onde reside o diferencial de eficácia?

As incubadoras de empresas são parte essencial de qualquer ecossistema de empreendedorismo saudável. Através de uma mistura de infraestrutura, formação especializada, e networking, as incubadoras proporcionam as startups em ambiente conducente ao desenvolvimento de competências empreendedoras e expansão do capital social que permite aos empreendedores mais facilmente encontrar clientes ou atrair investimento. A proposta de valor afigura-se imbatível para a startup e no entanto, permanecem duvidas sobre a eficácia das incubadoras.

Serão todas as incubadoras igualmente semelhantes no seu apoio às startups? E se não, onde reside o diferencial de eficácia: na conceção da incubadora ou nos mecanismos específicos do processo de incubação? Estará a eficácia da incubadora dependente da envolvente empresarial e urbana?

Um estudo recentemente publicado no Journal of Business Venturing – uma das mais prestigiadas publicações académicas na área do empreendedorismo – do qual fui coautor explora estas questões. A base de dados incide sobre o período 1997-2007 e inclui a população de incubadoras norte-americanas (cerca de 1.000 em atividade nesse período), todas as empresas incubadas (cerca de 10.000) e um grupo de controlo constituído por 38.000 empresas comparáveis em setor de atividade e localização. O estudo representa um raro exemplo de uma avaliação sistemática da longevidade de cada startup como consequência de um período de incubação comparada com start-ups semelhantes que não receberam apoio de uma incubadora.

As principais conclusões são:

  • A longevidade das startups incubadas é maior em regiões escassamente povoadas (localizações rurais). Tipicamente este é o caso das localizações periféricas geograficamente distantes de centros urbanos e com ausência de massa critica de potenciais consumidores, capital humano especializado ou indústrias fornecedoras. O papel da incubadora neste ambiente é essencialmente de amortecer (buffering) os elevados custos para start-up de recursos genéricos – por exemplo, o escritório, telecomunicações, ou mesmo contabilistas ou advogados. A existência de um escritório key-in-hand e o entreposto de serviços auxiliares através da incubadora é suficiente para estender a probabilidade de sobrevivência da startup.
  • A longevidade das start-ups incubadas é maior em regiões onde a indústria da start-ups não se encontra representada escassamente povoadas (baixa concentração ou ausência de indústria). Neste caso, a envolvente é, do ponto de vista da startup, vantajoso dada a quase ausência de concorrência; por outro lado, a start-ups nestas nestas regiões vivem dificuldades acrescidas para encontrar recursos especializados para a sua indústria. A intervenção da incubadora neste caso foca-se em ligar remotamente (bridging) a startup à sua indústria o que alavanca por sua vez vantagens competitivas locais.
  • A longevidade das startups incubadas é maior em regiões densamente povoadas e com alta concentração da indústria da start-up (localizações urbanas com múltiplos competidores). Face à abundância de recursos genéricos e especializados, o papel da incubadora é o de fazer curadoria de recursos (curating) assistindo a start-up a descobrir mais rapidamente potenciais clientes, oportunidades de investimento, ou fornecedores especializados.

No seu conjunto mostramos que a eficácia da incubação de empresas é fortemente dependente da envolvente regional. Por conseguinte, o apoio ao empreendedorismo tem necessariamente de passar por uma avaliação fiel das condições regionais que devem ser a base de conceção do programa de intervenção de cada incubadora em cada startup.

Os três mecanismos de incubação que explicam os nossos resultados – buffering, bridging, and curating – representam talvez a contribuição mais valiosa para o debate à volta da eficácia das incubadoras de empresas. Isto será o tema de um próximo artigo dirigido a profissionais de incubação e apoio ao empreendedorismo.

  • Tiago Ratinho

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