A 100 dias das presidenciais nos EUA, ainda está quase tudo por decidir
As convenções dos dois principais partidos estão marcadas para o final de agosto, depois de terem sido adiadas por causa da pandemia de covid-19.
A apenas 100 dias para as eleições presidenciais nos EUA quase tudo é uma incógnita: a forma como os eleitores irão votar, que nomes aparecerão nos boletins de voto e se Donald Trump aceitará o resultado final.
As convenções dos dois principais partidos estão marcadas para o final de agosto, depois de terem sido adiadas por causa da pandemia de covid-19, mas um dos temas de conversa entre os delegados republicanos e democratas será a forma evasiva como o Presidente respondeu quando interrogado sobre se aceitaria o resultado das eleições.
“Terei de ver. Não digo ‘sim’. Não digo ‘não’”, afirmou Trump numa recente entrevista televisiva em que desvalorizou o facto de a maioria das sondagens dar vantagem ao candidato democrata, Joe Biden, dizendo que os estudos de mercado estão “falsificados” e que são fabricados pelos meios de comunicação que ele acusa de lhe fazerem oposição.
Joe Biden reagiu de imediato, dizendo que “quando Trump perder as eleições, haverá quem o escolte para fora da Casa Branca”, mostrando confiança nos militares que “saberão respeitar a vontade do povo”, depois das eleições marcadas para dia 3 de novembro.
A verdade é que no Partido Republicano, os estrategos olham com preocupação para os números dos índices de popularidade do Presidente, que começaram a cair vertiginosamente à medida que a gestão da pandemia falhava em mostrar resultados.
As manifestações de protesto pela morte do afro-americano George Floyd, asfixiado quando estava sob escolta policial, em junho, em Minneapolis, vieram agravar ainda mais a imagem de Trump, que rodeou a Casa Branca de um forte dispositivo policial e ameaçou mandar o exército para as ruas das cidades mais afetadas pelas demonstrações antirracistas.
Apesar de dizer que ignorava as más sondagens, Trump adaptou a estratégia presidencial em tempos de campanha eleitoral: passou a usar máscara de proteção em locais públicos (depois de ter andado meses a criticar a sua obrigatoriedade) e recuperou as sessões de esclarecimento sobre a pandemia (que tinha interrompido quando a luta contra o novo coronavírus se tornou mais difícil).
Mas foram as manifestações antirracistas, que muitas vezes degeneravam em violência, que deram o mote para a campanha de Trump e o trunfo que os democratas mais temem: a defesa do Estado de ordem e segurança.
O Presidente acusa os autarcas e governadores do Partido Democrata de gerirem as cidades e os estados com mais elevados índices de criminalidade e disponibilizou-se para enviar forças paramilitares para essas zonas mais difíceis, citando o aumento de número de homicídios como exemplo de falta de “ordem e segurança”.
Joe Biden percebeu, nesse momento, que Trump não voltaria a usar o trunfo da imigração ilegal, nem o ‘slogan’ “Tornar a América Grande Outra Vez”, e teve de se defender da acusação de pretender tirar financiamento às forças de segurança.
O candidato democrata foi ao terreno do adversário republicano, dizendo que o Presidente estava a tentar militarizar a segurança e chamando a atenção para o perigo de haver polícias descaracterizados a deter cidadãos que se manifestam pacificamente.
Joe Biden tenta também aproveitar as hesitações e os volte-faces do Presidente no combate à pandemia e contou com a colaboração do ex-Presidente Barack Obama (de quem foi seu vice) para gravar um vídeo em que os dois democratas criticam a forma como Trump se desresponsabiliza dos maus resultados, com os Estados Unidos a tornarem-se o país do mundo mais afetado pelo novo coronavírus.
“Nunca da nossa boca saiu a expressão: Isso não é nada connosco!”, diz Obama nesse vídeo, em que aparece pela segunda vez a apoiar a candidatura de Joe Biden. Os democratas acusam ainda Trump de ser pouco claro relativamente à forma como se refere à possibilidade de alguns Estados votarem exclusivamente por correspondência, por causa da pandemia, depois de o Presidente ter afirmado que essa metodologia constitui uma “deturpação do regime democrático”.
Biden já veio dizer que a Constituição permite essa forma de votação e junta a sua voz à de outros candidatos, que aparecerão nos boletins de voto, como é o caso de Jo Jorgensen, do Partido Libertário, e de Howie Hawkins, do Partido Verde, que não terão possibilidade de vencer, mas que querem fazer a sua voz ser ouvida.
De resto, os eleitores não sabem ainda em quem mais poderão colocar uma cruz, perante uma pandemia que parece ter atrasado todo o processo democrático – ainda nas últimas semanas o ‘rapper’ Kanye West anunciou a sua candidatura, num evento bizarro e dramático, mas sem nenhuma certeza de que ainda vá a tempo de colocar o seu nome anos boletins de voto, muito menos se terá tempo para ganhar visibilidade política.
O candidato democrata também tem tido problema em se afirmar, com vários estudos de mercado a revelar que os seus eleitores apenas o escolhem porque querem derrotar Donald Trump.
Os dirigentes democratas não escondem a preocupação com a falta de visibilidade do seu candidato, que esteve “escondido” grande parte da fase de confinamento por causa da pandemia e que parece ter dificuldade em impor a sua agenda, para além de denotar fragilidades físicas e de lucidez, mostrando ter dificuldade em terminar algumas frases e em desenvolver ideias.
Para contrastar, Trump gabou-se numa recente entrevista televisiva do seu “fantástico desempenho” num teste de inteligência e memória, tentando afastar os rumores, fomentados por alguns testemunhos publicados em artigos e livros, de que estaria esgotado mentalmente.
Mas, nas sondagens, os eleitores dizem estar mais preocupados em saber o que vai suceder à economia dos Estados Unidos, com os números do desemprego em níveis muito elevados e um sistema de saúde que parece pouco preparado para uma eventual segunda vaga da pandemia.
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