Interessados em comprar Twitter podem herdar problemas
Salesforce.com e Disney são duas das interessadas na compra da rede social. Mas, no pacote, pode vir uma 'surpresa' desagradável.
A Salesforce.com, a Disney e outras empresas que estão interessadas em adquirir o Twitter poderão pagar mais de 14,2 mil milhões de euros (o equivalente a 16 mil milhões de dólares) para porem as mãos nos valiosos dados da empresa de rede social. Mas herdarão também os desafios, como as turbulências na direção da empresa, o crescimento medíocre e uma crise de identidade não resolvida.
Embora continue sendo um destino de conversas entre pessoas influentes, o Twitter seria difícil de assimilar. O CEO e cofundador Jack Dorsey tem outro emprego de CEO na Square e pode não seguir à frente da empresa após a venda. A empresa colocou-o no comando no ano passado após uma busca extensa: a escolha provocou saídas de executivos, e a execução de novas mudanças estratégicas poderá levar à partida de mais funcionários valiosos. A equipa de produto do Twitter, por exemplo, passou pelo comando de pelo menos cinco pessoas em seis anos.
Outro fator é a falta de crescimento — o motivo pelo qual comenta-se que a empresa está considerando uma venda. A base de utilizadores do Twitter estagnou nos EUA em seis trimestres seguidos. Os anunciantes não estão gastando tanto quanto se esperava, em grande parte porque não podem justificar a compra de mais anúncios se o público não está crescendo. “A proposta de valor do Twitter para os anunciantes pode estar desaparecendo”, escreveu o analista Mark Mahaney, da RBC Capital Markets, após pesquisa recente com anunciantes.
Além disso, a empresa está passando por uma mudança de identidade que poderia transformá-la em uma empresa mais de media do que de tecnologia.
O Twitter ainda tem um grande potencial — as eleições geram uma enxurrada de tweets, milhões ainda seguem estrelas como Kim Kardashian e os cidadãos ainda utilizam o serviço para protestar contra regimes opressores ao redor do mundo. Mas a empresa não transformou tudo isso em um público mais amplo, embora Facebook, Instagram, Snapchat e outros estejam assumindo papéis semelhantes na sociedade.
A empresa tem tentado mudar isso com uma nova estratégia focada no conteúdo. O Twitter assinou um acordo com a Liga Nacional de Futebol Americano (NFL, na sigla em inglês) para transmitir vídeos ao vivo dos jogos de quinta-feira à noite juntamente com tweets sobre eles e está a fazer o mesmo com outros desportos, eventos políticos e programas de entretenimento. Com novos aplicativos em serviços de streaming como a Apple TV, o Twitter exibirá conteúdo, com foco em vídeos, para tentar atrair novos utilizadores, sem a confusão de criar uma conta e decidir quem seguir. Qualquer empresa que adquirir o Twitter assumirá essa estratégia, com poucas evidências de que ela esteja a reanimar o crescimento da base de usuários.
“A empresa aspirava ser algo que nunca conseguiu alcançar — queria ser um serviço onipresente que todos usassem diariamente ou com maior frequência”, disse Brian Wieser, analista da Pivotal Research Group. “O problema é que se presumiu que todos queriam o que o Twitter oferecia — e esse foi o erro que eles cometeram”.
O Twitter não tinha recebido propostas oficiais até sexta-feira e não há garantia de que ocorrerá uma aquisição. Contudo, a Salesforce já expressou interesse suficiente para que o conselho do Twitter contratasse o Goldman Sachs e o Allen & Co. para buscarem outros potenciais compradores, segundo pessoas familiarizadas com a situação.
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