Portugal obtém juro negativo para emitir dívida a oito anos

Num leilão duplo de títulos com prazo a 2028 e 2037 realizado esta manhã, o país colocou um total de mil milhões de euros em dívida de longo prazo.

Pela primeira vez, Portugal financiou-se a oito anos com juros negativos. O marco histórico foi conseguido na manhã desta quarta-feira quando o país foi ao mercado de dívida de longo prazo para uma emissão de mil milhões de euros em obrigações do Tesouro (OT) com prazo a oito e 17 anos.

No que diz respeito à maturidade mais curta, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP colocou 654 milhões de euros com maturidade a 17 de outubro de 2028, com uma taxa de juro de -0,085%. Portugal não emitiu recentemente dívida com esta maturidade, mas, em agosto, pagou 0,095% por títulos a sete anos.

“O risco de Portugal tem estado estável e descendente nos últimos meses, com a dívida a dez anos a atingir mínimos do ano. Este movimento permitiu a emissão de dívida a oito anos com uma taxa negativa. Aliás, é o terceiro leilão do ano para maturidades longas onde tal foi possível, sendo que nos outros dois a maturidade dos leilões foi mais curta, a seis anos”, explicou Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, num comentário à emissão.

Além dos títulos a oito anos, o IGCP emitiu ainda 346 milhões em OT que atingem a maturidade a 15 de abril de 2037, com uma taxa de juro de 0,472%. Também neste caso não há nenhum leilão comparável realizado recentemente pela República, mas em fevereiro o país financiou-se com dívida com prazo em 2034 e pagou 0,555%. Mais recentemente — em setembro –, os investidores pediram um juro de 1,045% por OT com maturidade em 2045.

Assim, em ambas as maturidades o Tesouro continuou a beneficiar de condições cada vez mais favoráveis e de forte apetite pela dívida nacional. Não só o montante colocado foi o máximo indicativo para o leilão como a procura foi robusta, com os investidores a mostrarem vontade de ficar com mais do dobro do que havia. Por OT a oito anos, a procura foi 2,36 vezes superior à oferta, enquanto, por OT a 17 anos, foi 2,29 vezes maior.

 

“A descida do risco nacional acompanhou a tendência de todas as dívidas soberanas europeias, onde outros países também viram as taxas de referência de longo prazo atingirem mínimos. O contínuo suporte do Banco Central Europeu associado ao facto de que iremos ter taxas baixas por um período longo de tempo, tem levado os investidores a procurarem investimentos onde ainda seja possível ter um retorno positivo ou menos negativo versus outras alternativas”, acrescenta Filipe Silva.

 

O leilão acontece dois dias depois de o Governo ter apresentado o Orçamento do Estado para 2021, em que — após um recorde em 2020 — antecipa que a dívida recue para 130,9% do PIB no próximo ano. A redução é esperada numa altura em que o país continua a precisar de verbas para os gastos da pandemia e em que os juros estão em mínimos à boleia da “bazuca” do Banco Central Europeu. As OT benchmark, ou seja a dez anos, negoceiam esta quarta-feira com uma yield de 0,15%, no valor mais baixo desde 9 de outubro de 2019.

Foi também o primeiro dos que a agência liderada por Cristina Casalinho vai realizar no último trimestre do ano. No programa de financiamento do quarto trimestre, o IGCP manteve a intenção de realizar novas emissões de dívida de longo prazo, enquanto planeia ainda realizar dois leilões de curto prazo num montante global até 2.500 milhões de euros.

(Notícia atualizada às 11h15)

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