A crise do Sporting não é só nos relvados
A crise desportiva vem expor as fragilidades financeiras do Sporting, em vésperas de os sócios irem às urnas para eleger o próximo presidente do clube.
Quarto lugar no campeonato, a oito pontos do líder. Eliminação da Liga dos Campeões perante Real Madrid e Dortmund. Eliminação da Taça de Portugal frente ao Desportivo de Chaves. Se o drama se acentuou nos relvados nas últimas semanas, a verdade é que a crise no Sporting vai para lá das quatro linhas. O arranque da época até pode ter começado com uma situação de aparente desafogo nos cofres de Alvalade, mas não apaga os anos consecutivos de prejuízos elevados que deixam o clube com a corda na garganta, em vésperas de mais umas eleições que prometem aquecer se a equipa não responder em campo. Bruno de Carvalho e Jorge Jesus estão em xeque.
“Em termos de gestão desportiva, Bruno de Carvalho não foi nem tem sido um mau presidente, até devido a um ‘efeito de paralaxe’ quando comparado com os anteriores diretores sportinguistas”, refere Paulo Reis Mourão, professor de Economia da Universidade do Minho. “Mas, mais do que em termos de gestão financeira, os maus resultados do Sporting no futuro imediato fragilizarão muito mais a candidatura de Bruno de Carvalho do que a posição de Jorge Jesus no Sporting”, frisa o especialista em finanças de futebol.
De facto, foi com Bruno de Carvalho que a SAD leonina registou o melhor trimestre de sempre, com um lucro de 63 milhões de euros entre julho e setembro. Este desempenho, para o qual contribuíram decisivamente as vendas de Slimani (30 milhões) e João Mário (40 milhões), em nada compara com o desastre financeiro que têm sido os últimos anos para os leões — acumularam prejuízos de mais de 170 milhões de euros na última década.
Prejuízos, prejuízos e mais prejuízos
Para Paulo Reis Mourão, Bruno de Carvalho até começou bem o seu período de mandato, granjeando a admiração da sua massa adepta. “Lidou com a redefinição do passivo bancário logo de entrada, tomou uma posição coerente em prol da transparência desportiva e de sustentabilidade do negócio do futebol, litigou com os fundos de jogadores, posicionou-se nos contratos de transmissão televisiva e apadrinhou a Sporting TV”, enumera o docente universitário. “Mas o estado de graça sportinguista diluiu-se ultimamente com a ausência de uma clara paridade com o Benfica e sobretudo com a incapacidade de se manter nitidamente à frente do FC Porto e do Sp. Braga“.
O empate a duas bolas em Chaves no passado fim de semana colocou o Sporting a uma posição que Jorge Jesus não está habituado e mais longe do objetivo para o qual foi contratado a peso de ouro: conquistar o título de campeão nacional que escapa aos leões desde 2002. A contratação do técnico ao rival Benfica fez disparar a folha salarial para níveis perigosos e sem reflexos evidentes no palmarés do clube.
Mais 70% das receitas (excluindo transferências de jogadores) que o Sporting gerou na última temporada foram exclusivamente para pagar salários. E é esse o limite máximo que a UEFA considera como sustentável para as finanças de um clube.
Mais 71% das receitas vão para salários
“Os cofres de Alvalade – como o dos clubes portugueses – não são famosos pela generosidade mas a teimosia da aposta em Jesus (eventualmente justificada pelos custos de uma rescisão compensatória) será um dos trunfos para o modelo de futebol profissional do Sporting se aproximar a prazo do Benfica”, diz Paulo Reis Mourão.
A realizar uma época bastante aquém das expectativas e os cofres sob pressão, transferências de jogadores “visarão sobretudo emagrecer a folha salarial” do Sporting. Isto porque “os maus resultados desportivos não auguram a possibilidade de transferências interessantes, considerando que a cotação desportiva dos jogadores (com a exceção de Ban Dost ou de Semedo) está claramente desvalorizada”, considera o docente.
É neste cenário que os sócios leoninos vão às urnas para eleger o sucessor de Bruno de Carvalho no próximo dia 4 de março, num estado de alma bem resumido por Reis Mourão: “O adepto sportinguista pouco mais conseguirá do que esperar por bons placards e pelo dia das eleições”.
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