Guterres pede a todos os líderes mundiais que declarem estado de emergência climática
Já houve 38 países que declararam o estado de emergência climática. O secretário-geral da ONU "implora" que os restantes países façam o mesmo.
O secretário-geral das Nações Unidas pediu este sábado a todos os líderes mundiais que declarem estado de emergência nos seus países até que consigam atingir a neutralidade carbónica.
Falando na abertura da Cimeira da Ambição Climática, organizada em parceria pela ONU, Reino Unido, França e Itália, António Guterres reiterou que o mundo “ainda não está a ir na direção certa” para travar as alterações climáticas e que poderá estar a caminho de “um aumento de temperatura catastrófico de mais de três graus neste século”.
“Apelo a todos os líderes mundiais para declararem estado de emergência climática nos seus países até que se atinja a neutralidade nas emissões de dióxido de carbono. Já houve 38 países que o fizeram. Imploro a todos os outros que os sigam“, declarou o português, falando numa ligação vídeo a partir da sede da organização, em Nova Iorque.
O objetivo das Nações Unidas para o próximo ano será conseguir “uma coligação alargada” com o objetivo de conseguir a neutralidade carbónica a meio do século.
Aos países subscritores do Acordo de Paris para combate às alterações climáticas, que hoje farão declarações na Cimeira da Ambição Climática, pediu que tenham “metas claras de curto prazo” que se reflitam nas contribuições determinadas nacionalmente que estão obrigados a apresentar a tempo da próxima conferência das partes do acordo, prevista para o próximo ano na cidade escocesa de Glasgow.
Os compromissos assumidos em Paris em 2015 “estão longe de ser suficientes e mesmo esses não estão a ser cumpridos”, alertou, questionando se alguém ainda pode pôr em causa que o mundo enfrenta “uma emergência dramática”. “Precisamos de contribuições significativas agora”, exigiu Guterres, pedindo que o objetivo de curto prazo seja “reduzir as emissões globais em 45% até 2030”.
António Guterres salientou que os níveis de dióxido de carbono estão em níveis recorde e que atualmente, a temperatura média mundial está 1,2 graus centígrados mais quente do que na era pré-industrial, mas que os esforços para manter o aquecimento global nos 1,5 graus não estão “condenados a falhar”.
No entanto, considerou que “é inaceitável” que os países do grupo das 20 maiores economias estejam a gastar nos seus pacotes de estímulo à recuperação económica pós-pandemia “mais 50 por cento em setores ligados à produção de combustíveis fósseis do que em produção de energia de baixas emissões carbónicas”.
“Os biliões de dólares precisos para a recuperação pós-covid-19 são dinheiro que estamos a pedir emprestado às gerações futuras”, declarou, considerando que é “um teste moral” optar por políticas que não sobrecarreguem as gerações futuras com uma montanha de dívidas num planeta destroçado”.
Setores como a aviação e o transporte marítimo precisam de dar o seu contributo e mudar a maneira de operarem, defendeu, e o setor da banca tem que dar o exemplo e investir menos em setores poluentes e apoiar energias e indústrias mais limpas. “A tecnologia está do nosso lado e as energias renováveis estão mais baratas a cada dia que passa“, declarou.
Líderes mundiais afirmam compromisso com combate global às alterações climáticas
Líderes mundiais de vários continentes defenderam este sábado a redução das emissões de gases com efeito de estufa como um esforço que tem que ser global, declarando a intenção de abandonar indústrias poluentes e mudar a produção de energia na próxima década.
Intervindo na Cimeira da Ambição Climática, que se realiza virtualmente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou a redução de emissões de gases com efeito de estufa em 55% até 2030 como o “novo cartão de visita” da Europa, afirmando que a meta acordada na sexta-feira pelos líderes dos 27 parceiros europeus é o sinal para começar a “aumentar a ação climática”. No entanto, salientou que “essa não é uma tarefa só para a Europa”, um continente que é responsável por menos de 10% das emissões globais“.
O primeiro-ministro do Reino Unido, que organiza a cimeira com a França e as Nações Unidas, Boris Johnson, declarou que o seu país vai “tão cedo quanto possível” deixar de financiar projetos baseados em combustíveis fósseis fora do Reino Unido. Admitiu “exceções limitadas” para centrais elétricas a gás, mas garantiu que os britânicos irão respeitar as premissas do Acordo de Paris, cortando os financiamentos que nos últimos quatro anos ascenderam ao equivalente a 23 mil milhões de euros.
“Se tomarmos medidas ambiciosas, criaremos empregos para o futuro, daremos impulso à recuperação pós-covid-19 e protegeremos o nosso planeta para as gerações futuras“, declarou Boris Johnson, reiterando o objetivo de o Reino Unido reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 68 por cento até 2030.
O presidente chinês, Xi Jianping, afirmou novas metas para a economia chinesa atingir até 2030, incluindo uma redução de 65% das emissões de dióxido de carbono por unidade do Produto Interno Bruto em relação a 2005 e um aumento de consumo de energia produzida a partir de fontes não-fósseis de 25%.
“O unilateralismo não nos levará a lado nenhum“, declarou, indicando ainda que a China tenciona atingir daqui a dez 1,2 mil milhões de quilowatts de produção de energia a partir de fontes solares e eólicas e aumentar a sua massa florestal em seis mil milhões de metros cúbicos.
Falando a partir do Vaticano, o Papa Francisco salientou que os efeitos das alterações climáticas no mundo têm “repercussões nas vidas dos mais pobres e mais fracos”, defendendo que é preciso “promover uma cultura de cuidado, de dignidade humana e de bem comum” que se traduza em estratégias para conseguir a neutralidade nas emissões.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, salientou que dos 108 mil milhões de euros acordados entre os parceiros europeus para a recuperação económica dos próximos anos, motivados pela crise da pandemia da covid-19, 30 mil milhões serão dedicados “ao desafio das alterações climáticas”.
A Cimeira da Ambição Climática é uma organização conjunta das Nações Unidas, França e Reino Unido, que no próximo ano receberá em Glasgow a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, em que serão revistos os compromissos nacionais dos países signatários do Acordo de Paris.
O objetivo do acordo é conter o aquecimento global até ao fim do século, impedindo que ultrapasse os dois graus centígrados a mais em relação à era pré-industrial mas apontando para que, idealmente, se situe em 1,5 graus.
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