Supermercados e entregas reforçados para responderem ao novo confinamento
Foram apanhadas desprevenidas quando o Governo "fechou" o país em março de 2020. Quase um ano depois, marcas como Uber e Continente tiveram mais tempo para se prepararem para o que aí vem.
O encerramento da economia em março do ano passado apanhou de surpresa famílias e empresas. Sem precedente na história moderna, confinar o país veio a ter consequências imprevisíveis, desde o choque na cadeia de abastecimento que fez esgotar produtos como o papel higiénico ao entupimento das entregas ao domicílio.
Quase um ano depois, a crise pandémica continua e a um nível ainda mais severo, agora com o país a detetar diariamente milhares de novas infeções pelo novo coronavírus, depois de um período do Natal e Ano Novo com um aumento das deslocações. O Governo avança com um novo confinamento e foi dando sinais dessa intenção ao longo da última semana.
Por isso, para algumas marcas e empresas, com negócios mais ou menos ligados às entregas ao domicílio, o novo encerramento da economia foi preparado com mais tempo e ponderação. Por exemplo, com o Governo a decretar o encerramento dos restaurantes e a permitir apenas as entregas de refeições ao domicílio, plataformas como a Uber Eats já estão à espera de um grande aumento na procura.
“Estamos focados neste momento em apoiar todos os restaurantes e comerciantes parceiros, aumentando a procura dos seus produtos e serviços por parte dos utilizadores”, reconhece fonte oficial da empresa. “Ao mesmo tempo, queremos assegurar a melhor experiência aos utilizadores, garantindo a segurança dos parceiros de entrega. Temos uma grande responsabilidade em garantir que o serviço não falha neste contexto, para nenhuma destas partes”, remata a representante.
Temos uma grande responsabilidade em garantir que o serviço não falha neste contexto, para nenhuma destas partes.
A chegada da pandemia no final do terceiro trimestre de 2020 baralhou as contas ao negócio em crescimento da Uber em todo o mundo, especialmente o transporte de passageiros. Em Portugal, a empresa viu-se obrigada a inovar, abrindo a rede de motoristas às entregas de encomendas de empresas terceiras. Uma das empresas que se associou a este serviço logo na fase inicial foi os CTT.
Contactada pelo ECO, a empresa de correios não respondeu a tempo de publicação deste artigo. No entanto, desde o início da pandemia, a empresa tem assistido a uma subida expressiva das entregas de encomendas, tendo dimensionado a rede para dar resposta a esse incremento. O aumento foi ainda mais expressivo e terá atingido recordes absolutos entre meados de novembro e a véspera do Natal.
Retalhistas reforçam aposta nas entregas
Com milhares de portugueses a preferirem ficar em casa e encomendar tudo pela internet, várias cadeias de retalho têm reforçado a aposta nas entregas para dar resposta à maior procura. É o caso do Continente. A empresa reforçou a “parceria com a Uber Eats e a Glovo para os clientes poderem encomendar refeições e compras, sem terem de se deslocar à loja”.
Fonte oficial do Continente reconhece ainda ao ECO que, “relativamente ao canal online, o aparecimento repentino da pandemia, e períodos de confinamento, tiveram como resultado alterações repentinas do comportamento dos consumidores”. “Isto exigiu um processo de transformação muito rápido da nossa capacidade de servir, com impacto em inúmeros processos ou equipamentos, em ambiente de forte incerteza”, declara.
“Estamos agora mais preparados depois da experiência e processos implementados com sucesso na primeira vaga da pandemia”, assegura a retalhista do grupo Sonae.
Ao que o ECO apurou, o Continente está a estabelecer parcerias com outras empresas para reforçar a capacidade de entregas. Numa mensagem enviada aos clientes do canal online, a retalhista explica que está a usar esses parceiros devido ao “aumento de procura” pelo serviço. “Estabelecemos as parcerias necessárias para aumentar a capacidade de entrega. Com estas parcerias e com o reforço das nossas equipas conseguimos entregar diariamente mais do dobro das encomendas. O desenvolvimento destas parcerias permite ainda estimular o emprego e contribuir para a sociedade num período particularmente desafiante”, indica a mensagem.
Estamos agora mais preparados depois da experiência e processos implementados com sucesso na primeira vaga da pandemia.
Além destas medidas para quem compra na internet, o Continente não esqueceu os consumidores que, mesmo assim, preferem ir às lojas: “Tal como aconteceu na primeira vaga da pandemia, estamos a analisar a situação e a ajustar os horários das lojas Continente em cada concelho, de forma a maximizar a segurança e o conforto dos nossos clientes, seguindo sempre as indicações das autoridades competentes”.
“Mantemos a máxima confiança nos responsáveis das equipas para levar a cabo o plano de contingência traçado pela Sonae MC e assim protegermos os nossos colaboradores e clientes”, conclui fonte oficial da empresa.
Situação semelhante foi experienciada pela equipa do Auchan, que já se preparou para o novo cenário de confinamento. Em resposta ao ECO, fonte oficial da empresa afirma que a sua “principal preocupação” é “garantir o abastecimento dos portugueses e a máxima satisfação dos clientes”.
“Podemos afirmar que estamos preparados para acompanhar a procura, naturalmente dentro de determinados limites que não poderemos exceder, sob pena de não conseguirmos responder às expectativas dos nossos clientes”, refere ainda a mesma fonte.
Acima de tudo, ao contrário do que aconteceu no início do ano passado, este confinamento será encarado com maior preparação: “Temos vindo a acompanhar o crescimento da procura com a mobilização dos recursos necessários, de forma preparada e sem surpresas. O que aconteceu no confinamento passado faz-nos obviamente prever, hoje, alguns cenários para os quais consideramos estar preparados”, conclui fonte oficial do Auchan.
Podemos afirmar que estamos preparados para acompanhar a procura, naturalmente dentro de determinados limites que não poderemos exceder.
Na mesma linha, contactada pelo ECO, fonte oficial do El Corte Inglés indicou que a empresa iniciou um “processo enorme de transformação” durante “os últimos meses”. “Melhorar a satisfação do nosso cliente levou-nos a recriar estruturas de logística, a lançar um novo site e a recriar o nosso serviço de atenção ao cliente modernizando as estruturas e os sistemas. Este caminho ainda não está concluído, mas levou-nos a alterar os processos que no primeiro confinamento notámos que deveriam ser melhorados”, explica.
“Ainda estamos a percorrer este caminho mas, hoje, temos dados que nos permitem verificar que estamos a servir bastante melhor os nossos clientes e essa é a nossa maior satisfação. Queremos que também neste confinamento o cliente saiba que pode contar connosco”, conclui a representante do El Corte Inglés.
Outra retalhista presente no online é o Pingo Doce, sob a insígnia Mercadão. Em resposta ao ECO, fonte oficial da empresa explicou que a empresa “está a trabalhar para continuar a oferecer o nível de serviço a que habituou todos os seus clientes”. “A operação do Mercadão cresceu mais de 700% desde o início da pandemia, onde a agilidade do nosso parceiro em adicionar à sua estrutura um grande número de colaboradores e aumentar a sua capacidade de entrega foi fundamental para o sucesso do negócio”, revela.
Além das novidades para a loja eletrónica, nomeadamente um serviço que permite aos clientes recolherem a encomenda na própria loja, “o Pingo Doce passou ainda a disponibilizar, com operação própria, entregas em casa de encomendas de Comida Fresca, feitas diretamente no site do Pingo Doce, nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, em Braga, Coimbra e no Algarve (ou levantamento em qualquer loja do país)”.
A operação do Mercadão cresceu mais de 700% desde o início da pandemia, onde a agilidade do nosso parceiro em adicionar à sua estrutura um grande número de colaboradores e aumentar a sua capacidade de entrega foi fundamental para o sucesso do negócio.
O ECO questionou ainda a Glovo acerca dos preparativos para o novo confinamento, mas não foi possível obter resposta a tempo de publicação deste artigo.
Com mais ou menos preparação, o que é certo é que o encerramento da economia deverá gerar novos desafios e severas dificuldades para empresas e famílias, sobretudo para os trabalhadores que já auferiam de rendimentos mais baixos, ou que, por exemplo, são profissionais do setor dos serviços. Será, sobretudo, mais um período desafiante que testará ao limite a resiliência do tecido empresarial e social do país.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Supermercados e entregas reforçados para responderem ao novo confinamento
{{ noCommentsLabel }}