Aumento das disparidades sociais ameaça economia nos próximos três a cinco anos, alerta o WEF

O Fórum Económico Mundial avisa que a pandemia está a aumentar as disparidades sociais que irão ameaçar as economias. É uma lição para outros riscos futuros como a emergência climática.

Para o Fórum Económico Mundial (WEF, na sigla inglesa) 2020 trouxe uma lição para todos os países sobre os “efeitos catastróficos” que comporta ignorar os riscos de longo prazo, como é o caso das doenças infecciosas. No Global Risks Report 2021 divulgado esta terça-feira, a organização assinala consequências como o aumento das disparidades sociais, o que ameaçará a economia nos próximos três a cinco anos e que irá enfraquecer a estabilidade geopolítica mais à frente.

Se a pandemia de Covid-19 foi uma chamada de alerta para os governos, o WEF continua a considerar que a emergência climática está no topo dos riscos tanto na probabilidade de se concretizar como no impacto que pode ter na próxima década nas sociedades e nas economias. O relatório dedicado aos riscos é publicado todos os anos antes do encontro de Davos (na Suíça) que em 2021 irá realizar-se via live streaming pela primeira vez.

O Fórum nota que o risco de pandemias é identificado nos relatórios há 15 anos, mostrando qual é o custo da impreparação perante estes perigos. Contudo, em vez de ser um motor de mudança, a organização teme que a Covid-19 prejudique ainda mais a cooperação internacional e afete mais as minorias que estavam em desvantagem já antes da pandemia. Mesmo na tecnologia, o Fórum avisa que o risco do fosso entre ricos e pobres está a aumentar, “desafiando a coesão social”, principalmente entre os jovens que enfrentam numa só geração a segunda crise mundial.

“As fraturas sociais, a incerteza e a ansiedade irão dificultar ainda mais o alcance da tão necessária coordenação para abordar a degradação contínua do planeta”, avisa o Fórum, mostrando-se pouco otimista. “Sabemos o quão difícil é para governos, empresas e outros stakeholders abordar estes riscos a longo prazo, mas a lição para todos nós passa por reconhecer que ignorar estes riscos não faz com que a probabilidade de acontecerem seja menor“, alerta a economista Saadia Zahidi, diretora do World Economic Forum.

O apelo do Fórum Económico Mundial é que, à medida que a pandemia deixe de ser um problema — se a vacinação foi eficaz –, os governos, as empresas e os cidadãos “têm de, e de forma célere, moldar a nova economia e os sistemas sociais para que melhorem a nossa resiliência coletiva e a capacidade de responder a choques, enquanto reduzem a desigualdade, melhorando a saúde e protegendo o planeta”.

É que não há uma “vacina” contra a emergência climática, avisa Peter Giger, da Zurich Insurance Group, parceiro do WEF, referindo que a “incapacidade de agir” sobre as alterações climática continua a ser o “maior risco”. “Os planos para a recuperação pós-pandémica devem focar-se no alinhamento entre crescimento e as agendas de sustentabilidade para reconstruir um mundo melhor”, recomenda.

Porém, se as lições desta crise “forem apenas” para preparar melhor a próxima pandemia, “em vez de dar destaque aos processos, capacidades e cultura de risco, o mundo estará outra vez a planear para a última crise em vez de estar a antecipar a próxima”, alerta o Fórum Económico Mundial, notando que a Covid-19 oferece quatro oportunidades para os governos e as empresas: formular enquadramentos analíticos que olhem para os riscos de uma forma holística; investir em “campeões de risco”; melhorar os riscos comunicacionais e combater a desinformação; e explorar novas formas de parcerias público-privadas para a preparação do risco.

Portugal “tende a ignorar” a desigualdade digital

Quanto a Portugal em particular, um dos porta-vozes deste relatório, Edgar Lopes, chief risk officer da Zurich Portugal (parceira do WEF), diz ao ECO que “qualquer um dos dez riscos identificados são riscos altamente prováveis de acontecerem em Portugal“, mas dá destaque a um que o país “tende a ignorar”: a desigualdade digital. “A Covid-19 acelerou e ampliou a 4.ª Revolução Industrial com a rápida expansão das compras online, o teletrabalho, a telescola, a telemedicina e telefisioterapia ou as sessões de desporto a partir de casa“, assinala, referindo que estas mudanças vão manter-se e podem criar desigualdades.

Para o responsável da Zurich surge o perigo de haver “trabalhadores excluídos dos recursos digitais” que “perderão as oportunidades de educação e emprego constantemente criadas pela economia digital global, que podem, por sua vez, nunca encontrar candidatos adequados”. “É urgente investir significativamente em ações de requalificação e renovação de competências para que a economia digital não se torne uma barreira ao progresso individual e coletivo“, recomenda Edgar Lopes.

Outro dos porta-vozes do relatório, Fernando Chaves, risk specialist da Marsh Portugal, também refere as “exigências digitais e as novas formas de trabalho”, mas dá mais ênfase à coesão da sociedade. “Num cenário de crise, durante e pós-pandemia, aumenta potencialmente as desigualdades, adia-se as oportunidades para as gerações mais jovens e aumenta o risco de diversas tensões sociais, assim como o descrédito das pessoas face aos sistemas vigentes, crescendo o risco de polarização da nossa sociedade”, alerta.

O responsável da Marsh Portugal avisa também para a perda de bem-estar por causa da crise, os eventos climáticos extremos e os ataques cibernéticos. “E tudo isto num cenário de estagnação prolongada, ao qual, garantidamente, Portugal não deverá ser alheio“, antecipa, recordando um outro relatório sobre riscos divulgado no quarto trimestre de 2020 em que as empresas portuguesas identificavam, além da pandemia, o “risco de falha dos mecanismos ou das instituições financeiras, assim como do desemprego e subemprego”.

Top 10 de riscos por probabilidade

  1. Clima Extremo;
  2. Fracasso na ação climática;
  3. Danos ambientais causados pela humanidade;
  4. Doenças infecciosas;
  5. Perda da biodiversidade;
  6. Concentração do poder digital;
  7. Desigualdade digital;
  8. Quebra das relações entre Estados;
  9. Fracasso da cibersegurança;
  10. Crises de subsistência.

Top 10 de riscos por impacto

  1. Doenças infecciosas;
  2. Fracasso na ação climática;
  3. Armas de destruição em massa;
  4. Perda da biodiversidade;
  5. Crises de recursos naturais;
  6. Danos ambientais causados pela humanidade;
  7. Crises de subsistência;
  8. Clima extremo;
  9. Crises financeiras;
  10. Colapso das Infraestruturas de TI.

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