Escolas fechadas ditam “perda semanal de 1.200 veículos” à Autoeuropa

"Com o encerramento das escolas e a situação que o país vive atualmente tudo mudou", diz o diretor geral da Autoeuropa. Casos de Covid-19 também reduzem mão de obra, travando a produção em Palmela.

A Autoeuropa continua a sentir os efeitos da pandemia. Depois de, no ano passado, ter registado uma quebra de 65 mil no número de automóveis produzidos, a maior exportadora nacional está agora a braços com mais um travão na produção. Com o novo confinamento geral, que ditou o encerramento das escolas, viu-se forçada a reduzir os turnos. Os pais em casa com os filhos custam, e vão continuar a custar, cerca de 1.200 veículos por semana à fábrica portuguesa da Volkswagen.

Foi a 21 de janeiro que, depois de ter hesitado, o Governo acabou por determinar que as aulas tinham de parar, tentado assim que o confinamento fosse mais eficaz no objetivo de travar a propagação do vírus. Esta decisão custou alguns milhares de automóveis à unidade de Palmela, que parou entre 22 e 24 de janeiro, mas continua a passar fatura à produção na Autoeuropa.

“Até ao encerramento das escolas a Volkswagen Autoeuropa estava a produzir dentro da normalidade utilizando a sua capacidade máxima, com uma carteira de encomendas a justificar o funcionamento em sete dias por semana, e sem qualquer interrupção na cadeia de fornecimento de componentes”, diz ao ECO o diretor geral da fábrica, Miguel Sanches. Contudo, “com o encerramento das escolas e a situação que o país vive atualmente tudo mudou”.

A laboração ao fim de semana foi suspensa, passando de 19 a 15 os turnos de trabalho por semana. “A Volkswagen Autoeuropa opera com quatro equipas em 19 turnos por semana, e o nível de ausências planeado com o encerramento das escolas levou à reorganização para três equipas que trabalham 15 turnos por semana, com a consequente perda semanal de 1.200 veículos em relação ao programa de produção“, explica.

Até ao encerramento das escolas a Volkswagen Autoeuropa estava a produzir dentro da normalidade utilizando a sua capacidade máxima. Com o encerramento das escolas e a situação que o país vive atualmente tudo mudou.

Miguel Sanches

Diretor geral da Autoeuropa

Ou seja, além das unidades que não foram produzidas entre 22 e 24 de janeiro, a redução de mão-de-obra devido à ausência dos pais que foram para casa por causa da interrupção das aulas dos filhos, a Autoeuropa deixará de produzir, nestas duas semanas, um total de 2.400 veículos. A maioria destes são T-Roc, o SUV da marca alemã que é construído na fábrica de Palmela.

Esta situação deverá continuar a provocar mossa na produção da Autoeuropa, tendo em conta que o Governo já fez saber que as aulas presenciais vão continuar suspensas — medida será revista de 15 em 15 dias –, havendo recurso ao ensino à distância. A escola remota obrigará a que muitos pais se mantenham em casa, reduzindo a capacidade da unidade.

Temporários ajudam, Covid-19 pode tramar retoma

O regresso às aulas à distância está previsto para 8 de fevereiro. E é também nessa data que a Autoeuropa espera poder retomar a 100%, procurando limitar as perdas de produção provocadas por este novo confinamento. É um objetivo, mas não está ainda assegurado que tal seja possível. Dependerá da capacidade de suprir a falta de mão-de-obra.

A fábrica está a contratar trabalhadores temporários para preencher a ausência dos pais, como disse o coordenador da comissão de trabalhadores da Autoeuropa, Fausto Dionísio, ao Dinheiro Vivo (acesso livre).

Contudo, não são apenas estes trabalhadores que têm de ser substituídos. Há também que contar com o número crescente de profissionais que vão de baixa por contágio com o novo coronavírus, além dos muitos outros que têm de se ausentar por isolamento profilático. Questionada, a Autoeuropa não revelou o número de casos atualmente registados, sublinhando apenas que há um aumento em linha com o que acontece na generalidade do país.

[Na Autoeuropa há] obrigatoriedade da utilização de máscaras FFP2 desde junho do ano passado.

Miguel Sanches

Diretor geral da Autoeuropa

Apesar de todas as medidas de proteção contra o vírus, os casos de infeção acabam por ser inevitáveis neste momento mais complicado da pandemia. “A Volkswagen Autoeuropa recorreu à experiência das fábricas na China para adotar um conjunto de medidas muito para além das recomendadas pelas autoridades nacionais, e o ambiente geral é de aceitação, tranquilidade e confiança”, explica Miguel Sanches. “Um bom exemplo é a obrigatoriedade da utilização de máscaras FFP2 desde junho do ano passado, distribuídas diariamente por todos os colaboradores”, conta.

Quebras da Autoeuropa compensadas lá fora

A Autoeuropa, ao contrário do que tem estado a acontecer em muitas fábricas de automóveis na Europa, não está a sentir a escassez de componentes eletrónicos. “Até ao momento não, muito pelo contrário. Estavam a ser canalizados para a Volkswagen Autoeuropa componentes cuja escassez a nível mundial estava a provocar dias de paragem noutras fábricas do Grupo Volkswagen“, diz o diretor geral ao ECO.

“Produzindo atualmente abaixo do programa de produção, adicionando a incerteza da situação a nível nacional e os desafios colocados na circulação entre países, é natural que surjam as primeiras dificuldades”, alerta o responsável pela unidade que, em 2020, construiu um total de 192 mil carros. E “havendo limitações, distribuem-se os componentes a quem tem condições para produzir”.

Sendo a Volkswagen Autoeuropa, “atualmente, a única unidade do Grupo Volkswagen em incumprimento com a produção planeada devido à pandemia”, Miguel Sanches antecipa que esses componentes comecem a ser enviados para outras unidades de produção da Volkswagen, no exterior. Perde-se produção, reduzem-se as exportações, perde o país.

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