Hotéis perderam 3,27 mil milhões em receitas com a pandemia. 2021 será um ano “muito tímido”

A pandemia tirou 73% das receitas ao setor hoteleiro, equivalente a menos 3,27 mil milhões de euros. Taxa de ocupação ficou nos 26%, uma percentagem "mísera".

Após vários meses com expectativas e resultados pessimistas, o setor hoteleiro viu mesmo 2020 encerrar da pior forma. As projeções apontavam para perdas de até 80% das receitas, mas a pandemia acabou por tirar 73% da faturação das empresas da hotelaria, revelam os dados da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Isto equivale a menos 3,27 mil milhões de euros. 2021 será um ano “muito tímido”, com 20% dos hotéis a estimar não abrir portas, nem sequer na época alta.

2020 foi um “ano brutalmente atípico”, começou por dizer a CEO da associação esta quarta-feira, durante a apresentação do último inquérito feito ao setor hoteleiro. “Houve uma queda brutal da taxa de ocupação anual e concluímos que mesmo janeiro e fevereiro [que foram meses positivos] não nos salvaram de uma taxa de ocupação anual mísera [26%]“, detalhou Cristina Siza Vieira, referindo um “número brutal” de hotéis sem qualquer ocupação.

Com o aparecimento da pandemia no país, em março, 40% dos hotéis fecharam portas, uma percentagem que disparou nos meses seguintes: 85% em abril e 84% em maio. “No verão houve uma alteração importante”, diz a responsável, notando, contudo, que mesmo na época alta, “só basicamente 70% dos hotéis é que estiveram abertos”. Novembro e dezembro foram novamente meses de “apertar o cinto”.

Contas feitas, “o impacto deste encerramento é brutal no rendimento geral da hotelaria”, afirma Cristina Siza Vieira, referindo que o Algarve esteve sempre “muito acima” da média nacional em termos de encerramento.

No que toca a dormidas, nota-se que, mensalmente, as dormidas registadas estiveram sempre abaixo da metade das registadas em 2019, mesmo nos melhores meses — julho, agosto e setembro. “Perdemos em 2020 65% das dormidas e, se considerarmos apenas de março a dezembro, perdemos 73%”, explicou a CEO da AHP, referindo que se perderam 73% em receitas, o equivalente a 3,27 mil milhões de euros.

Ainda num ano marcado pela pandemia, o preço médio por quarto durante o período em que os hotéis estiveram abertos ficou nos 86 euros, mostram os dados da associação, que destacam o Alentejo como a região que teve o preço médio mais elevado. Ainda assim, Cristina Siza Vieira sublinha que houve um “sacrifício brutal” e que os hotéis “não andaram em saldo”. “A quebra do preço médio rondou os 20%”, nota.

Relativamente aos hóspedes que procuram os estabelecimentos hoteleiros em 2020, destacam-se os portugueses (89%), que lideraram claramente, seguidos dos espanhóis (63%) e dos franceses (45%).

“Não é o verão que vai fazer a hotelaria abrir”

Para 2021, as expectativas são um pouco mais positivas, mas controladas. Janeiro e fevereiro tiveram 64% dos hotéis fechados, sobretudo no Algarve, que sai ainda mais prejudicado pelo facto de “não haver de todo procura”. O inquérito da AHP mostra que 20% dos empresários da hotelaria estima não abrir portas até ao final do ano, nem sequer na época alta.

“Vai ser um ano muito tímido em termos de aberturas. Não é o verão que vai fazer a hotelaria abrir”, avisa Cristina Siza Vieira, explicando que as reaberturas têm de ser planeadas e consolidadas antes de acontecerem. A responsável nota mesmo que, se a situação fosse tal como está, cerca de 40% das unidades hoteleiras não abririam até ao final do ano.

De facto, o cenário, tal como está, não é ainda muito animador. “As reservas são de uma timidez constrangedora. Há algum movimento nas reservas, mas é muito tímido, mesmo para o verão”, diz a CEO da AHP, notando ainda que se tratam de reservas reembolsáveis.

Os dados mostram ainda que cerca de metade dos hotéis aponta para o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023 como a altura em que será possível regressar aos níveis de 2019. Mas a AHP destaca ainda 24% dos hotéis que aponta 2024 para ser atingida essa meta. “Sabemos que vai ser um ano muito difícil, em que a tendência é de viagens domésticas e regionais no limite”, remata Cristina Siza Vieira.

(Notícia atualizada às 12h29 com mais informação)

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